62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo
OS IAPS E A CONFIGURAÇÃO DA MORADIA: ENTRE O TRADICIONAL E O MOVIMENTO MODERNO - NATAL, DÉCADAS 1940-1950
Luiza Maria Medeiros de Lima 1
Angela Lúcia Ferreira 2
1. Bolsista IC/CNPq/local - Depto. de Arquitetura, UFRN.
2. Profa. Dra. /Orientadora - Departamento de Arquitetura, UFRN
INTRODUÇÃO:
Ao inaugurar a intervenção direta do Estado na questão da moradia, na década de 1930, os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) concretizaram os ideais da política varguista e introduziram, em parte dos projetos propostos por seu corpo técnico, inovações na concepção da moradia do trabalhador, alinhadas com o Movimento Moderno. Suas ações incluíram desde o financiamento para a construção e/ou a aquisição de casas até a produção direta de conjuntos habitacionais. Em Natal, a ação desses órgãos se intensificou nas décadas de 1940 e 1950 - quando a cidade cresceu vertiginosamente - e se deu de maneira diferenciada entre seus bairros. O objetivo deste estudo é compreender a extensão e o significado das idéias inovadoras, introduzidas pelos IAPs no âmbito das moradias nos bairros "modernos" da cidade - Tirol e Petrópolis -, nessas décadas, a partir da análise da configuração arquitetônica e urbanística de empreendimentos habitacionais de duas tipologias, nos quais as inovações foram incorporadas de forma e magnitude diferentes. Assim, se pretende contribuir para a discussão acerca das formas de apropriação e de circulação do ideário modernista, bem como para o conhecimento sobre a política habitacional dos IAPs no país, evidenciando seu papel na modernização de Natal.
METODOLOGIA:
As principais fontes de dados primários desta pesquisa foram os processos imobiliários dos IAPs, arquivados no Setor do Patrimônio Imobiliário do INSS-RN, e inventariados pelo Grupo de estudo História da Cidade e do Urbanismo com uma ficha-padrão. Utilizou-se, sobretudo, o material gráfico anexado às fichas (fotografias e projetos). Para a leitura das transformações na concepção da habitação, se utilizou como aporte teórico os conceitos explorados por Telma Correia ao tratar da construção do "habitat moderno" no Brasil. A autora (2004) destaca a incorporação de significados à casa, vista como "espaço sanitário", "santuário doméstico", "habitat moderno", "estojo do homem privado" e, finalmente, como a "máquina de morar" modernista. Analisou-se a conformação das fachadas e dos volumes, a forma de implantação no lote e a configuração interna das moradias pesquisadas (identificando as alterações na organização dos espaços, na nomenclatura dos ambientes, ou o surgimento de novos cômodos). Assim, buscou-se reconhecer as marcas da trajetória de modernização das moradias inseridas na produção dos IAPs em Natal, nos dois tipos de empreendimentos destacados: casas individuais (40 casos, 31% do total financiado nas décadas de 1940 e 1950 em Natal) e o Conjunto Residencial Nova Tirol.
RESULTADOS:
Os dados mostram que 87% das casas individuais estudadas eram isoladas no lote e elevadas por um embasamento, 62% apresentavam fachadas ecléticas e, em geral, estas se constituíam por salas de estar e jantar, copa e quartos comunicantes. Esses traços traduzem as preocupações despertadas ao longo do séc. XIX na considerada "casa moderna", acerca da higiene, do controle e da privacidade domésticos, e da expressão das individualidades. Três moradias podem ser, todavia, consideradas modernistas e as demais incorporavam parcialmente esse repertório na configuração interna e nas fachadas. Os traços inovadores, mais evidentes nos 1950's, são a redução do número de cômodos, integração dos espaços sociais, enobrecimento da cozinha e maior segregação dos ambientes íntimos. Já a proposta do Conjunto Nova Tirol, elaborada em de 1947, incluía 08 blocos de apartamentos, com lojas no térreo, 40 casas térreas unifamiliares, uma escola, um centro social e áreas verdes. Tanto as casas quanto os apartamentos do conjunto cumpriam um programa mínimo, em acordo com as novas prescrições. Enquanto as casas térreas isoladas constituíam um tipo tradicional encontrado na cidade, os blocos prismáticos com aberturas horizontais, marquises e cobogós, se identificavam com as inovações arquitetônicas à época.
CONCLUSÃO:
Enquanto Natal passava por um intenso processo de transformação nas décadas de 1940-1950, as inovações nas residências individuais financiadas pelos IAPs em Petrópolis e Tirol eram introduzidas de forma sutil, mas crescente. Embora representativos, eram poucos os exemplares que se alinhavam efetivamente às proposições modernistas para a habitação. Apesar da incorporação parcial destas idéias, confirma-se, em linhas gerais, o caráter tradicionalista da produção, norteada, principalmente, por preceitos anteriores àqueles introduzidos pelo Movimento Moderno. Em contrapartida, a proposta do IAPC para o conjunto residencial tem caráter inovador: a idéia de um complexo multifuncional com certo grau de auto-suficiência, que agrega tipologias habitacionais diversas (inclusive multifamiliares) e se aproxima do conceito modernista de "unidade de habitação" ou mesmo de "unidade de vizinhança". Introduzia-se no Tirol uma forma de ocupação original, com maior densidade populacional e adequadamente servida por equipamentos e infra-estrutura. Se, no contexto nacional, as inovações eram mais significativas, no plano local, esse projeto assumiu o papel de incorporar novos elementos na maneira de morar e de conviver coletivamente na cidade.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Ideário modernista, Institutos de Aposentadoria e Pensões, Tirol e Petrópolis-Natal/RN.