62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 6. História Moderna e Contemporânea
No Reino do "maníaco de boa fé": A Quinta Monarquia de D. João de Castro (1597-1606)
Bruno Romano Rodrigues 1
1. Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
INTRODUÇÃO:

Desenvolvida junto ao curso de História da Universidade Federal de São Paulo, esta pesquisa trabalha com questões relacionadas ao messianismo régio e aos projetos políticos na Primeira Modernidade. Em particular com o Sebastianismo, fenômeno de grande repercussão na cultura luso-brasileira e na Europa moderna, atentando para as suas primeiras formulações e sistematização com D. João de Castro no virar do século XVI para o XVII. Pode-se contextualizar a produção desse letrado português    numa época em que ocorreram diversos movimentos relativos a soberanos europeus que desempenhariam um papel quase messiânico ou divinizado, como mostrou Yves-Marie Bercé. Foi um período de séria crise social, como definiram José Antonio Maravall e de certa maneira Eduardo D'Oliveira França ao retratarem o que para eles seria a "época barroca".

METODOLOGIA:

Nesse sentido, as questões sobre o sebastianismo e as formulações proféticas seiscentistas portuguesas foram retomadas pelo debate historiográfico nas últimas décadas, destacando-se os trabalhos de Valensi, Besselaar, Hermann e Megiani. Esses autores, em especial Hermann, abriram caminhos e apontaram para aspectos ainda por estudar sobre a escrita dos tratados que deram uma face "letrada" aos projetos messiânico-milenaristas. Contudo, para o chamado "corifeu" ou "patrono" do sebastianismo, D. João de Castro (1550? - 1623?), não há muitos estudos monográficos nem análises mais detidas de suas obras.  Assim, a pesquisa desenvolvida até o presente momento teve como objetivo a transcrição integral e análise do manuscrito autógrafo "Da quinta & ultima monarchia futura", de cinqüenta e oito fólios, microfilmados do acervo da Biblioteca Nacional de Lisboa. Foi escrito em 1597, em Paris, e posteriormente reformulado nos anos de 1601 e 1606. Citado por diversos historiadores, nunca foi editado e representa o primeiro esforço do fidalgo em organizar sua teoria messiânica.

RESULTADOS:

A circulação do fidalgo e de seus textos mostra como o estudo de sua vida e obra permite compreender de modo mais amplo e menos marcado por clivagens teleológicas e nacionalistas o sebastianismo e os messianismos régios dos séculos XVI e XVII. Algo que a primeira vista parece se tratar de uma especificidade ou fenômeno do e no mundo português, a fé sebástica pode ser entendida como um dos aspectos de uma "cultura messiânica" européia. Pois se constituiu não numa atmosfera de nações e ufanismos, mas num ambiente social (no qual se inseria D. João de Castro) em que ainda era perfeitamente possível na Península Ibérica pensar a Europa e o mundo como um todo em termos de grande comunidade e corpo Cristão; em que, talvez, D. Sebastião apresentar-se-ia sim como soberano português, mas profetizado e prometido por vozes já perdidas no tempo como Líder supremo da Quinta e última Monarquia.

CONCLUSÃO:

Para além do fenômeno de longa duração que parece realmente se apresentar, entendemos que o sebastianismo teve um processo de constituição, um fazer-se durante a História e que o estudo da vida e obra de Castro revela com detalhes as motivações, as escolhas, os silêncios e os meandros de como se construiu um movimento o que viria a ser conhecido ainda por consecutivos séculos em alhures. O Tratado Da quinta & ultima monarchia futura apresenta-se como um microcosmo em que se pode acompanhar a feitura da crença sebásica ainda no calor dos momentos seguintesclor dos momentos  e oecer um discurso que procurasse comover e oersuadir  à batalha de Álcácer-Quibir. Em outras palavras, consegue-se entender como Castro interpretou à luz da sua realidade social um conjunto quiçá disperso de antigas profecias e vaticínios. Como, de acordo com suas palavras, sustentou a "loucura Del Rei D. Sebastião" e procedeu a identificação deste com o Messias prometido. Por suas palavras vê-se a gênese de um messianismo com um Salvador por ele já conhecido e revelado. Escrevendo em Paris sobre o espaço político português que integrava uma Monarquia Hispânica que então abrangia considerável parte do mundo; e sobre um rei que travara disputa contra infiéis mouros em terras africanas: Tratava-se de estabelecer os destinos da Cristandade. Por D. João de Castro o Sebastianismo fez-se universalizante, passando a dizer respeito a todas as gentes do orbe. 

Instituição de Fomento: PIBIC - CNPQ
Palavras-chave: Quinta Mornarquia , Sebastianismo, União Ibérica.