62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
O ROMANCE POR ROUSSEAU E O "SISTEMA DE JULGAR" EM A NOVA HELOÍSA
Daniela Silva Pires 1
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
INTRODUÇÃO:
Jean-Jacques Rousseau é comumente interpretado pelos seus escritos políticos e filosóficos. No entanto, existe um Rousseau escritor de romance, crítico de teatro e um escritor de gênero autobiográfico que reivindica uma escrita outra, apta a formar também a unidade diversa em sua obra. Os escritores e críticos literários Jean Starobinski, em Jean-Jacques Rousseau: A transparência e o Obstáculo (1971), e Phillipe Lacoue-Labarthe, em Poétique de L'Histoire (2002), chamam a atenção para a importância que a literatura tem para uma reavaliação do autor e sua obra, tida por muitos como assistemática. O objetivo desta comunicação é o de entender a configuração específica da composição de A Nova Heloísa (1761). No exórdio a essa obra, existe um prefácio que prepara a leitura do romance. Este figura um diálogo ficcional entre o suposto juiz da obra e seu autor, o próprio Rousseau. Essa comunicação atingirá seu êxito ao investigar as razões pelas quais Rousseau incluiu um juízo sobre o romance antes do próprio romance, na obra propriamente ficcional. Algo que nos apontaria para a idéia de que a gênese do romance está na crítica, num "sistema de julgar" próprio aos solitários amantes.
METODOLOGIA:
A delimitação do corpus que ampara a presente comunicação realiza-se através da leitura dos textos de caráter literário de Jean-Jacques Rousseau, bem como das leituras interpretativas e teóricas aos mesmos. Algumas categorias como "juízo", "romance", "literatura" serão vislumbradas e interpretadas como categorias de historicidade própria consoante ao contexto ficcional na qual emergem. Nesse sentido, também se levanta questões sobre a especificidade da ficção por ele desenvolvida. A interpretação dos textos tomou direções especiais quando da observação mais detida do prefácio de A Nova Heloisa, em que se observou o nascimento de uma verdadeira teoria do romance dentro do próprio romance.
RESULTADOS:
Os resultados serão medidos a partir da coerência argumentativa entre juízo crítico e uma teoria do romance rousseauniana. Para que a argumentação se efetive é preciso correlacionar o gênero crítico de romance rousseauniano ao gênero da ficção pastoral, tendo em vista a crítica de Rousseau ao chamado gênero tradicional do romance. As relações entre campo X cidade, entre solidão X sociedade, entre amor X conhecimento no interior do processo de fundação de certo gênero do romance por Rousseau deverão ser palmilhadas para que se alcance os resultados esperados.
CONCLUSÃO:
As formas literárias experimentadas por Rousseau são responsáveis pelos desdobramentos e destinos da literatura na modernidade. Nesse sentido, é possível afirmar que os dilemas enfrentados por Rousseau no âmbito da literatura são fundadores da modernidade literária do século XVIII. O romance A Nova Heloisa é uma experiência ficcional bastante específica, pronta a nos revelar o papel da reflexividade da literatura. A leitura da obra apresentou-se como elemento essencial para o retorno crítico aos textos de caráter literário da obra do genebrino e possibilitou a abertura para uma nova perspectiva de leitura, no âmbito da literatura e da própria filosofia, do gênero em questão, dada à complexidade da poética desenvolvida nestas obras de Rousseau.
Instituição de Fomento: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB
Palavras-chave: Ficção, Romance, Prefácio.