62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
EFEITO DA QUEIMA, NO INÍCIO E NO FINAL DA ESTAÇÃO SECA, NA FLORAÇÃO DE GRAMÍNEAS EM UMA ÁREAS DE CAMPO SUJO EM BRASÍLIA, DF.
Gabriela Teixeira Rodrigues Lira 1
Vinícius G. de Sousa 1
Margarete N. Sato 1
Heloisa S. Miranda 1
1. Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade de Brasília (UnB)
INTRODUÇÃO:
Campo sujo é uma fitofisionomia do Cerrado caracterizada pela predominância de gramíneas (Poaceae) (Ribeiro & Walter, 1998). Segundo Almeida (1995), o ciclo reprodutivo dessas gramíneas compreende o período que abrange floração, frutificação e dispersão de propágulos, podendo ser classificadas em três classes de acordo com a época de sua reprodução: Precoces de ciclo curto (novembro a janeiro), Precoces de ciclo longo (novembro a agosto) e Tardias (março a agosto). Já foi observado que o fogo pode favorecer a floração de gramíneas, provocando o aumento da abundância de floração (Meguro, 1969) e do número de espiguetas floridas por ramo (Parron & Hay, 1997), e que a ausência de queimadas pode resultar em menor riqueza de espécies (Moreira, 1996). Portanto, neste trabalho objetivou-se estudar o efeito de queimadas prescritas no início e no final da estação seca na floração de gramíneas em áreas de campo sujo para avaliar possíveis alterações nas suas respostas fenológicas.
METODOLOGIA:
A área de estudo foi um campo sujo localizado na Reserva Ecológica do IBGE (RECOR), Brasília, DF. Duas parcelas submetidas a queimadas bianuais, desde 1992, foram utilizadas no trabalho: uma queimada no mês de junho (precoce) e outra no mês de setembro (tardia). Em 2008, a área precoce sofreu queimada prescrita no dia 22 de junho e a área tardia em 24 de setembro. Cada parcela com tratamento diferenciado possuía uma área de 40.000 m² que foi dividida em quatro subparcelas de 100 x 100 m, nas quais foram traçados, aleatoriamente, dois transectos de 50 m. Com cada transecto foi realizado o método de interseção de linha (Munhoz e Felfili, 2006), que consistiu em inventariar as espécies, em período reprodutivo, que interceptavam o transecto, bem como anotar a fenofase em que se encontravam: floração (botões e flores abertas), frutificação (frutos imaturos e frutos maduros) ou dispersão dos frutos. Os inventários foram realizados semanalmente após cada queimada.
RESULTADOS:
Ao todo, foram observadas 15 espécies em floração durante o período de estudo. As espécies Axonopus aureus P. Beauv, Echinolaena inflexa (Poir.) Chase, Elyonurus muticus (Spreng.) Kuntze, Leptochoryphium lanatum (Hum., Bonpl., Kunth) Nees, Panicum olyroides Kunth, Paspalum gardinerianum Nees, Paspalum pilosum Lam., Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston e Trachypogon spicatus (L.f.) Kuntze foram inventariadas em ambas as áreas amostrais. Andropogon leucostachyus Kunth, Axonopus barbigerus Kunth, e Axonopus marginatus (Trin.) Chase foram avistadas apenas na parcela precoce e Agenium goyazense (Hackel) W.D.Clayton e Paspalum polyphyllum Nees ex Trin. foram inventariadas apenas na área tardia. As espécies em que foi possível observar alteração de suas fenologias após a passagem do fogo foram A. marginatus, E. muticus e L. lanatum, sendo que as duas últimas antecederam a floração das demais espécies na área, iniciando seus ciclos reprodutivos dois meses após cada evento de queimada prescrita. Segundo Almeida (1995), E. muticus é uma espécie precoce de ciclo curto. No entanto, no presente trabalho, os ciclos reprodutivos dessa espécie e de L. lanatum foram registrados durante a estação seca na área precoce (agosto a setembro) e em novembro na parcela tardia, período esse em que as chuvas ainda eram escassas no ano de 2008. Axonopus marginatus também teve seu ciclo reprodutivo adiantado pela passagem do fogo, pois, mesmo sendo tardia (Almeida, 1995), essa espécie iniciou sua floração em outubro, frutificou em novembro e teve a dispersão final de suas sementes em dezembro, princípio da estação seca em 2008. As demais espécies tiveram suas fenofases reprodutivas ocorrendo de acordo com o descrito pela literatura (Almeida, 1995; Martins e Leite, 1997; Munhoz & Felfili, 2005).
CONCLUSÃO:
O fogo estimulou a floração em Elyonurus muticus, Leptocoryphium lanatum e Axonopus marginatus, independentemente da época de queima.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Campo sujo, gramíneas, fenologia.