62ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 2. Comunicação e Educação |
Internet, uma rede de contradições: inclusão e exclusão digital |
Mayara de Sousa Guimarães 1 Denize Piccolotto Carvalho Levy 1 Jonária França da Silva 1 Jimi Aislan Estrázulas 1 |
1. Universidade Federal do Amazonas/ PPGCOM |
INTRODUÇÃO: |
Não foi com o advento da internet que o mundo passou a se conectar em rede, a internet veio a "enxugar" e "agrupar" todos os artifícios anteriormente utilizados em um só espaço manipulado através de um computador. A Internet, conhecida mundialmente como a "rede das redes", virtualiza todos os processos anteriormente existentes. Pode-se citar como exemplo, um telefonema interurbano, antes de valor alto, hoje pode ter o mesmo efeito através do programa skype ou através do MSN Messenger. As correspondências antes enviadas pelos correios, hoje, podem ser enviadas de forma digital, quase que de forma instantânea através dos e-mails e as fotos podem ser expostas em fotologs, da mesma forma que os diários em blogs. Em nível comunicativo, a passagem das tecnologias analógicas para aquelas digitais comporta a alteração do processo de repasse das informações, alterando a direção dos fluxos comunicativos e, sobretudo, a posição e a identidade dos sujeitos interagentes [...] a comunicação digital apresenta-se como um processo comunicativo em rede e interativo. Neste, a distinção entre emissor e receptor é substituída pela interação de fluxos informativos entre o internauta e as redes, resultante de uma navegação única e individual que cria um rizomático processo comunicativo entre arquiteturas informativas (site, blog, comunidades virtuais etc.), conteúdos e pessoas. (FELICE, 2008 p. 44) Porém a rapidez das mudanças que ocorrem no ciberespaço - espaço mediado pelo computador - torna imprudente a realização de prognósticos, e de certa forma, o que está em voga hoje na rede, em poucos dias já se tornará obsoleto. Por conseqüência, não são todos que conseguem acompanhar essas sucessivas e incessantes mudanças, já que existem aqueles que não possuem acesso ao manuseio correto das ferramentas da Internet. Atualmente, muito pouco se garante que seu propósito democrático fundamental de estar disponível e acessível a todos seja cumprido. Seja em virtude de fatores econômicos e/ou tecnológicos, as dificuldades de acesso à Internet geram uma nova categoria de excluídos sociais: os excluídos digitais. Tal cenário, conforme explica (GATTI, 2005) é o chamado analfabestimo digital que inclui todos àqueles que não têm acesso cotidiano aos computadores mas, em especial, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Em contrapartida, existe um outro grupo, seleto, porém não restrito, composto em sua maioria por jovens e os chamados economicamente ativos, ansiosos por uma grande quantidade de novas informações e das mais diversas modalidades. Este grupo acompanha as mudanças que ocorrem na rede. As tecnologias da globalização pós-industrial mudam o sentido da nova migração. O mundo não se divide entre ricos e pobres, mas entre os informados e aqueles que ficaram fora da era das conexões. Neste exato momento, alguns bilhões de pobres vivem na era do apagão digital - são os desconectados do mundo."(VILCHES, 2003 p. 32). |
METODOLOGIA: |
Análise qualitativa/quantitativa comparativa entre os incluidos e excluidos digitalmente, a fim de identificar características e peculiaridades de cada grupo através de ferramentas como: questionários, entrevistas e avalição observacional. |
RESULTADOS: |
INTERCONEXÕES ENTRE A VIRTUALIDADE E A VIDA REAL Toda a interface gráfica do computador é baseada no mundo real. A área de trabalho é a escrivaninha, grande companheira do estudante, lugar onde encontramos os ícones, que por analogia, são seus livros e cadernos. Além disso, encontramos na área de trabalho do computador, arquivos divididos em pastas, assim como acontecem com os fichários, conforme assegura o autor Steven Johnson, em sua obra "Cultura da Interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar", publicada em 2001. Na internet, não poderia ser diferente. Os blogs passaram a ocupar o lugar do antigo diário íntimo - outrora de uso exclusivo e pessoal, para milhares de pessoas que optam por tornar públicos muitos aspectos de suas vidas, suas experiências, memórias e opiniões. "Essa passagem do antigo diário de um "eu" reservado e misterioso às confissões públicas do diário virtual de hoje foi empreendida por homens e mulheres de diferentes idades que, deixando de lado escrúpulos e quiçá, falsos moralismos, revelam a vontade de ter uma "plateia" para "ver", "ouvir", "aplaudir", concordar e discordar de suas ideias, opiniões, atitudes, experiências e julgamentos." (Chagas, 2006, p. 04) O que antes era sigiloso, secreto e de uso pessoal, no mundo virtual tais paradigmas foram quebrados. Quanto mais exposto à opinião pública, melhor para o autor. Ainda temos o Orkut, Sonico, Badoo, denominados de redes sociais, são os antigos cadernos de perguntas e o fotolog mural de fotos. DA GEOGRAFIA CARTOGRÁFICA PARA A GEOGRAFIA DIGITAL Fronteiras e barreiras físicas foram quebradas com a Internet, Castells (2003, p.170) propõe outras vertentes para a geografia. A Era da Internet foi aclamada como o fim da geografia. De fato, a Internet tem geografia própria, uma geografia feita de redes e nós que processam fluxos e informações gerados e administrados a partir de lugares. Como a unidade é a rede, a arquitetura, a dinâmica de múltiplas redes são as fontes de significado e função para cada lugar. O espaço de fluxos resultante é uma nova forma de espaço, característico da Era da Informação, mas não é desprovida de lugar: conecta lugares por redes de computadores telecomunicadas e sistemas de transporte computadorizados. Uma mudança acarretada com o advento da Internet é a nova noção de tempo e espaço. Passado, presente e futuro andam tão juntos, que parecem que planificaram na atualidade, nos dando a noção de controle. O futuro, de certa forma ainda incerto, ficou mais previsível, devido a diversidade de técnicas e metodologias, científicas ou não, que revelam expectativas e perspectivas futuras. No que tange o "espaço", com o avanço dos meios de transporte e telecomunicações, em especial a Internet, pode-se utilizar a mesma imagem da planificação: um globo não mais redondo, mas plano, como nos mapas cartográficos. Isso significa que qualquer parte do planeta pode ser visitada e conhecida, sem grandes esforços ou deslocamentos. As viagens duram menos tempo, qualquer local pode ser visualizado na tela do computador por meio de um software (Google Earth), o mundo virtual disponibiliza uma gama de textos e imagens sobre tudo. Ou seja, é possível ter o mundo todo na palma da mão. Em outras palavras, como a noção que se tem do passado e dos espaços é construída, em essência, por comunicações mediadas tecnicamente. Não são mais as tradições orais que se encarregam de transmitir os conhecimentos e as experiências de geração para geração, mas sim, cada vez mais, o vasto arquivo de informações gerado e difundido pela mídia, assim como, o que se sabe sobre os acontecimentos do globo é de origem midiática. Vale ainda ressaltar, o papel desempenado pelas redes sociais, relações entre os indivíduos na comunicação mediada por computador, que atenuam a noção da não existência das fronteiras e barreiras físicas. Funcionam através da interação social, buscando conectar pessoas e proporcionar sua comunicação. As interações sociais que ocorrem na Internet através dos blogs, fotologs, Orkut, constituem, de fato, laços estreitos entre os envolvidos. Recebem ainda a definição de "Redes Sociais Virtuais". Constituem agrupamentos, por meio de softwares específicos que permitem a gravação de perfis, com dados e informações de caráter geral e específico, das mais diversas formas e tipos (textos, arquivos, imagens, fotos, vídeos, etc.), os quais podem ser acessados e visualizados por outras pessoas. Há também a formação de grupos por afinidade, com ou sem autorização, e de espaços específicos para discussões, debates e apresentação de temas variados (comunidades, com seus fóruns). ANALFABETISMO DIGITAL: EXCLUSÃO DOS NÃO-DIGITAIS Analfabetismo digital é uma nova vertente do analfabetismo, não possui diferença substancial do analfabetismo funcional. Esta expressão significa que contingentes populacionais apesar de conseguirem pronunciar uma série de palavras em função da atividade e leitura, não conseguem compreender as idéias que as mesmas significam, sem condições de decodificar mensagens e produzir sentidos. O analfabetismo digital compreende aquelas pessoas que mansueiam o computador, mas não sabem utilizar as ferramentas de forma correta. Assim explicita (Gatti, 2005) apud Dimenstein (2000, p.8): Somos a rigor, uma nação de pessoas que não têm intimidade com o mundo escrito. Nem precisamos ir para as camadas mais pobres: os hábitos de leitura dos universitários são desprezíveis. [...] Quem já está a margem vai ficar mais fora ainda, vítima do apartheid tecnológico; a rede aparece, aqui em formato de muro. [...] Cada vez mais quem tem acesso à Internet vai sair na frente na busca pelo emprego, graças às facilidades para encontrar uma vaga. O "apartheid" caracterizou-se como uma política de segregação racial desenvolvida na África do Sul, e que em 1948, tornou-se oficial. Elaborado por colonizadores europeus que acreditavam ser escolhidos por Deus, propunham a hipótese de criar uma sociedade perfeita. Desta forma, passaram a colocar em prática a separação entre brancos e negros, separação esta que durou até a década de noventa. Fazendo analogia a vida virtual, entendemos que essa segregação, não mais racial e sim, social, tornou-se evidente no mundo digital. Não sendo algo imposto por distinção de povos por meio de raça, cor e cultura o que anteriormente acontecia, e sim, resultado de um fenômeno de separação social acarretado pela Internet. Quanto à educação na Era Digital, um grande problema que ainda persiste na atualidade é a metodologia que permanece sendo a mesma aplicada nas salas de aula convencionais. Ainda há a necessidade da figura do professor em sala de aula, por mais que os alunos tenham a internet como aliada. No entanto, é necessário que os professores e pedagogos tenham uma formação cada vez mais qualificada para acompanharem o ritmo do alunado. Neste artigo, abordaremos o analfabetismo digital enfocando a pessoa idosa. A pretensão não é generalizar, pois existem pessoas com mais de 60 anos que sabem manusear e utilizar de maneira eficaz as ferramentas da Internet, fazendo delas uma aliada no seu dia-a-dia. IDOSOS: PARCELA DE UMA POPULAÇÃO EXCLUÍDA DIGITALMENTE A palavra "idoso" categoriza pessoas que tem idade acima de 60 anos. No Brasil, estes cidadãos possuem uma série de privilégios devido aos diversos declínios de ordem fisiológica, cognitiva e emocional que acometem o indivíduo idoso. Estes declínios limitam os idosos a acompanharem os progressos tecnológicos, associado à sua indiferença ao uso dos computadores. O distanciamento entre os idosos e os recursos digitais está atrelado ao fato destes terem surgido após a fase economicamente social. Na fase adulta, outros eram os recursos utilizados para o desempenho de suas tarefas. A maioria dos idosos, já se encontram aposentados dos trabalhos laborais, o que vem a aumentar ainda mais este distanciamento. Existem ainda as características físicas que acentuam o limite dos idosos, dentre elas: enfraquecimento e disfunção motora, alterações na visão e audição, falta de memória e outras funções cognitivas. Na fase idosa, há uma grande tendência de as pressões e as perdas sociais se acumularem, sendo comum nas sociedades contemporâneas, restringirem novas oportunidades de trabalho para o idoso. Em contrapartida, estudos apontam que o envelhecimento é também uma fase de desenvolvimento como as anteriores, na qual os idosos tomam decisões, realizam atividades mesmo sendo em menor intensidade, interagem com outros, estudam, trabalham, e têm, acima de tudo, motivação para aprender. Sendo assim, há uma parcela que possui a internet como uma nova fonte do saber, mesmo que distante de seu manuseio. Portanto, faz-se necessário que hajam políticas públicas para viabilizar o ingresso dos idosos no mundo digital. "PDA: POPULAÇÃO DIGITALMENTE ATIVA" A busca incessante por informações, a grande quantidade de fontes oferecidas no espaço virtual, a comodidade, a agilidade e rapidez são as principais características do mundo moderno alicerçado na Internet. Tais fatores configuram o mundo atual em que muitos jovens e os chamados economicamente ativos são os principais protagonistas. Na era da comunicação global, nasce uma nova raça de transeuntes da comunicação. Não se trata nem do espectador passivo dos meios tradicionais, nem do usuário do dos meios interativos. Trata-se de emigrantes da rede, em parte viajantes do ciberespaço, mas também um novo contigente de habitantes da rede. São jovens que passam 24 horas à frente do computador ou do console de um videojogo, e que se acham perfeitamente preparados para emigrar para as redes de inter-relação." (VILCHES, 2003 p.37) A alta competitividade no mercado de trabalho, a qualificação profissional cada vez mais exigida, não admite mais um profissional que tenha habilidades limitadas à sua área de formação. A disponibilidade de informações na rede, o profissional que se limite apenas as tarefas que lhe foram atribuídas, não tem mais espaço na sua área de formação. Faz-se necessário estar bem preparado e, para tanto, tem que ser sempre bem informado dos acontecimentos, ou seja, o indivíduo tem que acompanhar o que acontece na sociedade em que vive e buscar sempre manter-se atualizado com as informações. Tudo isso ele consegue encontrar em um só espaço: Internet. Entre outras conseqüências, uma economia eletrônica requer o desenvolvimento de um aprendizado eletrônico como companheiro na vida profissional. As características mais importantes desse processo de aprendizado são, em primeiro lugar, aprender a aprender, já que a informação mais específica tende a ficar obsoleta em poucos anos, pois operamos numa economia que muda com a velocidade da Internet; em segundo lugar, a capacidade de transformar a informação obtida a partir do processo de aprendizado em conhecimento específico. (CASTELLS, 2003 p.77) Além do valor simbólico, a informação adquiriu um valor econômico e cultural. Quanto mais informações o indivíduo obtiver, mais status na sociedade e um melhor posicionamento financeiro. E, assim, o indivíduo vive em constate estado de acumulação de informações; quanto mais, melhor. Além da pressão financeira que motiva as pessoas a buscarem informações, há o fator de aceitação social. Ser bem informado garante o reconhecimento e o status social ao indivíduo; sendo este um fator de inclusão. A exigência à informação, portanto, é muito grande na era contemporânea. Entretanto, o excesso tanto na produção quanto no consumo dessas informações propicia não apenas um acúmulo efetivo de dados, mas um sentimento de que nunca se sabe o suficiente ou, até mesmo nunca conseguirá saber o suficiente para se sentir bem preparado. Comumente, o indivíduo competitivo sente-se intimidado frente à diversidade de informações existentes, e busca cada vez mais informações na tentativa de suprir suas "impotências" podendo gerar um transtorno psíquico, já que quanto mais possui, mais quer ter. São muitos os estudiosos que apontam os grandes problemas acarretados com o uso desenfreado da Internet, já que existem àqueles que se isolam da sociedade e ficam imersos por completo no mundo digital, tornando-se pessoas cada vez mais individualizadas. "Mas o papel mais importante da Internet na estruturação de relações sociais é sua contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseado no individualismo" (CASTELLS, 2003 p.109). Este individualismo exacerbado, comportamento comum entre os jovens de hoje, acarreta conseqüências na qualidade de vida psíquica e física do indivíduo. Outra seqüela do excesso de informação é a dificuldade na tomada de decisão. A imensa quantidade de informações disponíveis deixa o indivíduo inseguro na tomada de decisões, seja ela qual for. O mesmo sente que poderia obter mais algumas informações para dar-lhe um embasamento melhor. |
CONCLUSÃO: |
A Tecnologia da Comunicação e Informação (TIC) trouxe em seu bojo diversas mudanças, dentre elas, a mais importante foi a mudança de hábitos. Com a nova configuração das ciências da comunicação, a informação está ao alcance de todos, de maneira mais rápida e mais ágil. Sabe-se que a vida digital modificou completamente a rotina da sociedade atual. As práticas de comunicação já existiam em rede antes do advento da Internet. Telefonia, correio e fax permitiam conexões planetárias sem necessidade de aproximação física entre os sujeitos. Porém, com certas diferenças da Internet: custo, agilidade, comodidade e rapidez. Porém, permanece inacessível a algumas camadas da população, como é o caso de idosos, que constituem os chamados "excluídos digitalmente". Em contrapartida, o grupo de jovens sedentos e viciados na rede. Com o passar do tempo, estes dois grupos se distanciam ainda mais, dividindo a sociedade em dois grandes grupos: os incluídos e excluídos digitalmente. |
Instituição de Fomento: Assembléia Legistlativa do Estado do Amazoanas e FAPEAM |
Palavras-chave: Internet, Analfabetismo digital, Inclusão e exclusão digital. |