62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
CARACTERIZAÇÃO ECOLÓGICA DE SETE ESPÉCIES DE PEIXES DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO.
Liliane de Lima Gurgel Souza 2, 1
1. IFRN
2. UFSCar
INTRODUÇÃO:

Os peixes estão entre as populações aquáticas mais seriamente afetadas por poluição, acidificação e eutrofização acentuada desses sistemas que, entre outros efeitos, reduzem o tamanho da população. A maioria dos ambientes de água doce é fortemente afetada por pressões antrópicas, principalmente devido a seu reduzido tamanho e pelo elevado grau de utilização (VIEIRA & VERANI, 2000). Esses autores ponderam ainda que, dada a grande importância que os ambientes aquáticos têm para os seres humanos, freqüentemente as bacias hidrográficas são eleitas como unidade de estudo, pois seus componentes (rios, lagos, e lençóis freáticos) são interconectados, de forma que problemas introduzidos em um deles pode também afetar os demais.

Os conhecimentos acerca dos peixes de água doce sul-americano são bastante escassos, sendo importante o desenvolvimento de estudos, principalmente em certas regiões, como, por exemplo, nos rios costeiros do leste do Brasil, onde parece existir um Dendemismo acentuado (UIEDA, 1993). Ainda nesse sentido, VARI & MALABARBA (1998) lembram que a fauna de peixes de água doce da América do Sul é diversificada e complexa, com numerosas lacunas no seu conhecimento biológico. BUCKUP (1999) ressalta que, de modo geral, a fauna de peixes de riachos é um conjunto de espécies pouco conhecidas e ameaçadas pela ação antrópica. Desta forma, torna-se necessário o estudo premente da ictiofauna de águas interiores, contribuindo assim para a preservação das espécies, bem como para a utilização delas pela população ribeirinha.

Com o objetivo de minimizar as lacunas existentes acerta do conhecimento biológico dos peixes dos ecossistemas lóticos do semi-árido nordestino, o presente estudo visa reunir informações referentes à composição das espécies e a constância de ocorrência de cada uma no ecossistema do rio Ceará Mirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

METODOLOGIA:

O rio Ceará Mirim é uma das principais bacias hidrográficas do Estado, com aproximadamente 2.775 km2, a ictiofauna da área de estudo foi analisada por amostragens mensais, de setembro de 2000 a março de 2002 com esforço de pesca de 4 horas por dia. Para as capturas utilizou-se rede de espera, malhas de 2,0 e 3,0 cm entre nós opostos, com 10 m de comprimento, peneira e picaré de 5 mm. A composição das espécies foi determinada pela freqüência de ocorrência das ordens, famílias e espécies, considerando-se o número total de exemplares capturados como 100%. Essa análise foi estabelecida pela expressão:

Foi (%) = ni / N * 100, onde: Foi. Freqüência de ocorrência da ordem, família ou espécie "i", ni : Número de indivíduos da ordem, família ou espécie "i", N: Número total de indivíduos coletados.

Para o cálculo da constância de ocorrência de cada espécie, utilizou-se a expressão sugerida por DAJOZ (1978), que considera o número de coletas realizadas:

Ci = ni / N * 100, onde: Ci: constância da espécie "i", ni: número de coletas nas quais a espécie "i" foi capturada, N: número total de coletas realizadas.

De acordo com o valor da constância de ocorrência, as espécies foram classificadas em: Constante: Presentes em mais de 50% das coletas; Acessória: Presente em 25% a 50% das coletas e Acidental: Presentes em menos de 25% das coletas.

RESULTADOS:

Foram coletados 1902 exemplares pertencentes a sete espécies ícticas, estas distribuídas em três ordens (Characiformes, Siluriformes e Perciformes) e cinco famílias (Characidae, Erythrinidae, Curimatidae, Loricariidae e Cichlidae).

A partir dos dados analisados, observou-se que a ordem mais representada, em número de famílias, foi a Characiformes (57%).

Characidae e Cichlidae apresentaram-se como as famílias predominantes nas amostragens, participando cada uma com 29% do total. As famílias Erythrinidae, Curimatidae e Loricariidae foram representadas, cada uma, com 14% do total das espécies.

Dentre as espécies coletadas, houve predomínio de Astyanax bimaculatus (42,53%), seguido por A. fasciatus (28,63%), Steindachnerina notonota (11,32%), Crenecichla menezesi (8,06%), Cichlasoma orientale (6,98%), Hoplias malabaricus (1,71%) e Hypostomus pusarum (0,78%).

O levantamento ictiofaunístico específico é a primeira providência ao se analisar a estrutura de comunidades, pois além de caracterizá-las serve de embasamento para a comparação entre comunidades, sendo imprescindível para entendimento e gerenciamento adequados dos ecossistemas aquáticos (FIALHO, 1998). A representação de 57% dos peixes pertencentes à ordem Characiformes registrada no presente estudo reflete a situação descrita para os rios neotropicais (LOWE-McCONNELL, 1999) e lagoas temporárias (VERÍSSIMO, 1994). Esse predomínio é também descrito por CANAN (1993), estudando a ictiofauna da lagoa de Boa Cicca/RN, e LUCAS (2004), quantificando a comunidade da lagoa de Extremoz/RN.

A contagem ou listagem de espécies presentes em uma comunidade é uma forma de caracterizá-la. Essa medida pode ser usada para comparações quando o tamanho e o esforço amostral são padronizados (BEGON et al., 1990). A comunidade de peixes do rio Ceará Mirim é caracterizada por sete principais espécies. Dentre elas, Astyanax bimaculatus e A. fasciatus foram as mais abundantes por serem espécies ágeis, que se deslocam em cardumes e forrageiras, tornando-as bem adaptadas ao ambiente do rio. Um outro fator importante nesse caso é a seletividade do aparelho de pesca utilizado, além do deslocamento da espécie na coluna d'água.

A categoria de constância pode diferir entre ambientes e parece refletir a habilidade biológica da espécie, nas diferentes fases ontogenéticas, em explorar os recursos ambientais disponíveis num determinado momento do biótopo (LEMES & GARUTTI, 2002). A. bimaculatus, A. fasciatus, Hoplias malabaricus, Steindachnerina notonota, Crenicichla menezesi e Cichlasoma orientale são espécies constantes no rio Ceará Mirim, pois estiveram presentes em mais de 50% das coletas. Apenas Hypostomus pusarum é considerada acessória no ambiente.

Tem sido hipotetizado que espécies constantes podem ser residentes, as acessórias podem também ser residentes, mas apresentando flutuações e as acidentais são aquelas imigrantes, as quais entrariam esporadicamente para se alimentarem ou se reproduzirem (SANTOS, 1999).  AUZIER (2001), LUCAS (2004) e TEXEIRA & GURGEL (2004) apresentam resultados semelhantes de ocorrência dessas espécies capturadas no Estado do Rio Grande do Norte.

CONCLUSÃO:

Levantamentos faunísticos de curta duração são relevantes, pois através de um inventário preliminar de espécies é possível verificar os valores biológicos e inferir o grau de conservação de ecossistemas. No presente estudo, foram coletados 1902 exemplares pertencentes a três ordens (Characiformes, Siluriformes, Perciformes), cinco famílias (Characidae, Erythrinidae, Curimatidae, Loricariidae e Cichlidae) e sete espécies (Astyanax bimaculatus, A. fasciatus, Steindachnerina notonota, Crenecichla menezesi, Cichlasoma orientale, Hoplias malabaricus e Hypostomus pusarum. O presente estudo reflete a situação descrita para os rios neotropicais e lagoas temporárias do Brasil. Porém o número de espécies descritas neste trabalho, sendo 7 espécies, 3 ordens e 5 famílias para o bioma Caatinga ainda é insipiente, sendo necessária a continuidade deste estudo.

Instituição de Fomento: IFRN, UFSCar
Palavras-chave: Caatinga, Peixes neotropicais, Rio Grande do Norte.