62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
RELAÇÕES DE GÊNERO NO PENSAMENTO ANTIGO: SOFISTAS E PLATÃO
Vânia dos Santos Silva 1
1. Departamento de filosofia da Universidade de Brasília/ FIL-UnB
INTRODUÇÃO:
Há muito se constituiu uma imagem de mulher, como sendo aquela que possui por natureza certas propriedades como: serenidade, delicadeza, maior emotividade, prontidão em educar, cuidar etc. Em certa medida poderíamos atribuir essa imagem a que acostumamos associar aos corpos (imaginados e fabricados por esse mesmo imaginário) de mulheres a um movimento de "des-historização "da história, ou seja, da "transformação da história em natureza, do arbítrio cultural em natural". Assim é preciso nos movimentar no sentido da desconstrução dessa naturalização e essencialização das dominações, das sujeições, das violências simbólicas impostas cuidadosamente às mulheres e aos homens. O estudo pretendeu verificar o modo como foram construídos os discursos em relação às "mulheres" da antiguidade clássica nos séculos XVIII e XIX, cujas filosofias e corpos rebeldes foram esquecidos por um longo tempo. Esses discursos voltavam para a Atenas clássica a fim de encontrarem referências que pudessem legitimar as práticas sociais estabelecidas em seus próprios contextos. Gostaria, em contraponto com aqueles discursos, de mostrar que as "mulheres" atenienses, gozavam de mais liberdades sociais do que estamos acostumados a imaginar. O que exemplificaremos por meio da vida de algumas "mulheres" filósofas.
METODOLOGIA:
A pesquisa desenvolveu-se a partir de leituras e análises bibliográficas das fontes antigas, nas quais encontramos discursos a cerca das relações de gênero. Foram feita análises das obras de pesquisadoras e pesquisadores que realizaram estudos sobre a questão de gênero na antiguidade clássica. O trabalho teve como objetivo marcar as diferenças dos entendimentos de gynaikes e mulheres presentes dos discursos construídos sobre aquelas no contexto dos séculos XVIII e XIX confrontando com as fontes.
RESULTADOS:
As gynaikes (mulheres), conforme os estudos indicam, não tinham direitos políticos no período clássico, porém a vida social não era cerceada. Segue-se que não podemos tomar como evidente e certo que as gynaikes na antiguidade eram puramente submissas e sujeitadas. No diálogo República, de Platão, consta-se no livro V seu projeto de educação para a Kallípolis, o filósofo proporá igual educação tanto para as gynaikes quanto para os andrés (homens), uma vez que não "há motivos para ser diferente já que ambos têm igual nascimento". Platão defende que as gynaikes para que possam exercer "os mesmos serviços que os andrés, tem de se lhes dar a mesma instrução", as gynaikes, então receberão a arte da música, da ginástica "e, também a da guerra". É importante notar que a filosofia de Platão é um composto plural de filosofias de sua época. Sobre vários aspectos podemos identificar elementos do pitagorismo na filosofia de Platão, dentre eles a importância da vida em comunidade - Pitágoras fundou uma comunidade na qual as gynaikes e os andrés mantinham relação de igualdade. Diogênes Laertios lembra-nos que houve gynaikes na Academia, ele nos relata que Platão tinha duas discípulas, Axioteia de Flius e Lastênia de Matinea que também foram ouvintes de Spêusipos, sucessor de Platão.
CONCLUSÃO:
É possível afirmar, a partir do estudo feito, que houve resistências aos processos de docilização, muitas gynaikes rejeitavam aquilo que os andrés viam como "natural" em seus corpos como a maternidade, encaravam como sendo de ordem natural suas relações com o tear e o servir-lhes. A resistência pode ser percebida por meio dos próprios diálogos de Platão que têm como tema, por exemplo, a educação das gynaikes como uma tentativa de normatizá-la (está na pauta das preocupações). Ora, se todas as gynaikes tecessem e cuidassem dos filhos, do marido e da casa de forma pacifica e da tecelagem, muito, provavelmente não teriam discussões sobre a educação das gynaikes, sobre o comportamento delas e a tentativa de normatizar, pois como tornar lei aquilo que já estaria ordenado. As gynaikes possuíam saberes que estavam longe dos olhares da pólis, mostras disso temos nos mistérios que os andres diziam as gynaikes ter. Acredito na tese que as gynaikes assim como todos os corpos que identificamos, no passado e hoje, como corpos de mulheres nunca aceitaram a sujeição pacificamente, acredito que sempre buscaram modos que pudessem preservar seus saberes e sua liberdade em última instância.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Gênero, Platão, Historiografia.