62ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração |
TEXTUALIZAÇÃO CIENTÍFICA EM DOIS DISCURSOS: JORNALISMO OU CIÊNCIA? |
Cristiane de Lima Barbosa 1 Sérgio Augusto Freire de Souza 2 |
1. Mestranda em Ciências da Comunicação/Universidade Federal do Amazonas/UFAM 2. Prof.Dr. Orientador/Mestrado em Ciências da Comunicação/UFAM |
INTRODUÇÃO: |
Apenas um ponto de vista em comum: ciência é notícia. É assim que pesquisadores pós-modernos e jornalistas dividem o espaço da disseminação científica traçada por conflitos e tréguas, normalmente marcados no instante da definição do que é ou não notícia, do que interessa ou não ao grande público. A discussão acerca da difusão científica no Brasil seja por Discurso Científico (DC) ou por intermédio do Discurso de Divulgação Científica (DDC) desperta debates e estudos na academia para chegar a um consenso e delinear caminhos em busca de uma divulgação eficaz das pesquisas. É nesse sentido que este estudo objetiva analisar como e se ocorre o deslocamento do DC para o DDC em produtos de divulgação científica no Amazonas. A principal contribuição deste trabalho é a formulação de diretrizes para a prática do jornalismo científico, considerando as marcas e o funcionamento do discurso inerente aos gêneros textuais do DC. Os resultados apontam a direção para a articulação de estratégias linguísticas tanto para jornalistas quanto para cientistas. Desse modo, buscou-se aqui um caminho para a compreensão dos mecanismos de funcionamento da divulgação científica e com isso, entender o papel fundante na imagem de ciência que circula no imaginário social. |
METODOLOGIA: |
O percurso metodológico empregado neste trabalho foi composto por uma pesquisa qualitativa, sob a perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa. O corpus da análise se consubstancia de nove edições do suplemento Intermais de Ciência & Tecnologia do jornal Amazonas Em Tempo e da revista Amazonas faz Ciência, publicada pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas). Com esse percurso metodológico, foi possível pelas marcas do discurso chegar ao funcionamento dos processos discursivos, considerando a constituição, formulação e circulação. Como afirma Orlandi (1983, p. 107), "o que importa é destacar o modo de funcionamento da linguagem, sem esquecer que esse funcionamento não é integralmente linguístico, uma vez que dele fazem parte às condições de produção que representam o mecanismo de situar os protagonistas e o objeto do discurso". O trabalho também se firmou com pesquisa bibliográfica de referenciais teóricos, passando pelos autores da área da AD, até as mais recentes releituras, trabalhos contemporâneos que pensam a área a partir da inter-relação de um modo de enunciação e de um lugar social. |
RESULTADOS: |
Foram analisadas as matérias de capa de três edições do suplemento e percebeu-se que, em linhas gerais, os textos apresentam em sua totalidade marcas do discurso científico e político, mas não coincide com a categoria de jornalismo científico, pois não está revestido da materialidade textual de um texto de jornal. Em alguns se destacam apenas uma fala, sem estar com o sujeito legitimado (com fala do cientista), não há também um lead formulado, havendo apenas a descrição do projeto de maneira direta, como se fosse a propaganda do projeto. Em relação à revista, foram analisadas seis matérias. Constatou-se uma variabilidade discursiva bastante presente, em que os discursos se permearam entre o científico, o político e institucional. Também em alguns textos, a despeito do efeito-leitor, percebe-se que há uma predominância mais científica do que de divulgação em todo o texto, que discorre como apresentação de um projeto científico, sem inclusão de falas de outros sujeitos, principalmente os legitimados, como pesquisadores . Apesar disso, o aspecto da circulação aponta que os textos estão dentro da esfera da DDC, por conta do veículo revista (ampla circulação). |
CONCLUSÃO: |
Após a análise, percebeu-se que não basta colocar em um veículo de comunicação para caracterizar como jornalismo científico. Grande parte dos textos está relacionada a uma divulgação de resultados, mas não categorizada como jornalismo. Em alguns textos apenas uma fonte é destacada no texto, sem contrapontos e sem promover reflexão dos benefícios ou desvantagens da referida pesquisa, o que torna o texto sem caráter coincidente dentro da esfera cronotrópica textual (jornalismo), ainda que tenham sido feitas inserções com o aparecimento do sujeito (pesquisador) por meio de fala ilustrada com aspas. Assim, as incompreensões entre quem faz ciência e quem a divulga ainda são marcantes, já que se trata de dois processos de produção bem distintos, um voltado para a ciência e tecnologia e o outro para o jornalismo em si, cada um com suas peculiaridades. No entanto, essas arestas podem ser minimizadas quando há uma busca pelo entendimento de ambos os papéis na sociedade, o da produção e o da democratização do conhecimento. O desafio é grande, pois levar temas complexos sobre feitos na ciência e inovação tecnológica para o cotidiano das pessoas não consiste em tarefa fácil. Com a análise do corpus proposto neste trabalho foi possível verificar, então, que há uma variabilidade marcante nos discursos que se revezam entre o discurso científico propriamente dito, o DDC e o discurso político e institucional. No trabalho, propôs-se estratégias para jornalistas e pesquisadores para que haja uma maior interação entre o DC e o DDC, com o objetivo de popularizar a ciência para os diversos públicos. |
Palavras-chave: Divulgação científica, Análise do Discurso, Ciência . |