62ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada |
TRÂNSITOS POÉTICOS EM CONTEXTO IMPRESSO E DIGITAL |
Susana Souto Silva 1 Magno da Guarda Almeida 1 Suzane Bezerra Alves 1 |
1. Faculdade de Letras, Universidade Federal de Alagoas |
INTRODUÇÃO: |
O texto poético constitui-se em contínuo diálogo com a tradição em que se inscreve e com a qual ele estabelece um vínculo de resistência, contradição ou permanência, assim como é também afetado pela emergência de novas mídias, de novas possibilidades de circulação. Esta pesquisa estuda a produção e a circulação do texto poético no Brasil contemporâneo. O objetivo é refletir criticamente sobre a produção e a circulação da poesia brasileira contemporânea, a partir da análise comparativa de sonetos de Glauco Mattoso, Luiz Vaz de Camões e Gregório de Matos, em duas formas de circulação: o livro impresso e o site. São analisados os trânsitos que se realizam 1. entre distintos momentos da produção literária de língua portuguesa, no Brasil e em Portugal e 2. entre suportes distintos: livro impresso, Geleia de rococó (1999), e site oficial, ambos de Glauco Mattoso. Como o fenômeno literário envolve condições de produção, circulação e recepção, é importante compreender o diálogo entre períodos e poetas (produção e recepção) e como a emergência de novos modos de circulação exigem também novas estratégias de produção e de recepção. |
METODOLOGIA: |
Esta pesquisa é qualitativa e baseia-se na leitura dos textos poéticos - de Glauco Mattoso, Luiz Vaz de Camões e Gregório de Matos - e textos teóricos, em especial, mas não exlcusivamente, de Octavio Paz (1993, 1994), Alain Badiou (2002) e C. A. Danton (2005, 2006), estudos sobre poesia e arte moderna e contemporânea; Mikhail Bakhtin (1992, 1998), sobre o dialogismo; Roger Chartier (2002), sobre leitura e formas de circulação do escrito; e os trabalhos de Pierre Levy (1995, 1999), sobre cibercultura. Corpus de análise: quatro livros de Glauco Mattoso (Centopeia, 1999; Geléia de rococó,1999; Paulisseia ilhada, 1999 e Panaceia, 2000) e o site oficial desse poeta; os sonetos de Camões; e os sonetos satíricos de Gregório de Matos. Os metapoemas glauquianos foram analisados de modo comparativo com os poemas de Camões e Gregório nos quais esses poetas e suas obras são citados/retomados. O livro Geléia de rococó (1999), que pertence à tetralogia glauquiana acima referida, é analisado de modo comparativo com o site oficial de Glauco Mattoso, a fim de buscar descrever semelhanças e diferenças na produção poética a partir da mudança de suporte, bem como a emergência de novos protocolos de leitura e escrita relacionados á emergência de novas textualidades. |
RESULTADOS: |
Os poemas de Glauco Mattoso são representativos do diálogo entre tradição e inovação na poesia contemporânea de língua portuguesa. As análises de metapoemas de Glauco Mattoso em comparação com poemas de Camões e Gregório mostram-nos, na produção de Mattoso: a permanência do soneto explicitamente intertextual; a mistura de referências clássicas e experimentais da poesia brasileira; a centralidade da obra Camões em questões mais estritamente formais; o diálogo com Gregório de Matos quanto aos procedimentos da poesia satírica barroca. Glauco Mattoso utiliza suportes impressos e digitais para tornar pública a sua produção. As primeiras comparações entre o livro impresso e o site revelaram: 1. diferenças na organização dos poemas: no impresso, ocorre a exposição numerada dos sonetos, seguindo uma ordem crescente; no site, há mais de uma forma de organização: os sonetos aparecem na sequência do livro impresso, mas são também (re)ordenados por tema; 2. a ampliação da quantidade de textos no site em relação ao impresso: notas de rodapé associam sonetos distintos, de autoria de Glauco Mattoso e/ou de outros autores, aos quais está vinculado por questões formais e/ou temáticas; 3. a presença, no site, da fortuna crítica de Glauco Mattoso. |
CONCLUSÃO: |
A multiplicidade - de suportes, de práticas de leitura e de autoria, de programas poéticos, políticos, existenciais - é visível na poesia brasileira contemporânea. A obra de Glauco Mattoso, pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva, poeta paulistano nascido em 1951, constitui-se como espaço privilegiado para pensar essa multipliidade. Em seus livros impressos e em seu site oficial, dialoga com diversos períodos e poetas e experimenta diversas formas de produção e circulação do poema na contemporaneidade. Leitor e autor confundem-se nos versos produzidos por Mattoso. Glauco é um poeta que deixa marcas explícitas das suas leituras em seus poemas. Nessa incorporação dialógica, intertextual ou antropofágica, vai se desenhando o trânsito entre períodos e poetas de distintas tradições (brasileira e portuguesa) com destaque para dois nomes: Camões e Gregório de Matos. A obra glauquiana cruza a tradição e a inovação, o soneto e o hipertexto, dá-nos soneto em contexto digital. A incorporação dessa nova textualidade (a digital) não indica apenas a adequação ou integração do autor aos recursos tecnológicos como possibilidade de composição poética, mas também a ampliação das estratégias de circulação do poema, um texto que, historicamente, enfrenta dificuldades de inserção no mercado editorial convencional |
Instituição de Fomento: Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Alagoas |
Palavras-chave: Poesia, Glauco Mattoso, Circulação. |