62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
CORPOREIDADE E ECOVIVÊNCIA NO RIO POTENGI
Luciane Schulz 1
1. BACOR - PPGEG - CSSA - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
O ser humano por estar inserido num modelo de sociedade baseada na cultura do capital, é ensinado a não sentir, tornando-se indiferente ao seu entorno ambiental.  Em função disso, chega aos extremos da materialidade, tornando-se uma ameaça a si mesmo e à humanidade e perceber-se em crise, pois de um lado, a necessidade de mudanças no modo de se ver e agir diante de tantos problemas diagnosticados no planeta e de outro a cultura do modelo paradigmático em que foi "ensinado". Vários são os autores contemporâneos que apontam a educação como sendo o pilar para essa superação de crise. Com o estudo de caso de um adolescente de 12 anos, ao ter como espaço de aprendizagem um ambiente natural no barco Chama-Maré, pelo estuário do rio Potengi em Natal-RN, pretende-se destacar alguns aspectos. Entre eles a promoção da construção do conhecimento, defendido por Piaget (2002), a estimulação da inteligência ecológica, defendida por Antunes (2006), além de desenvolvimento da reflexividade. Esse último por sua vez, ao possibilitar a abertura dos canais sensoriais de forma mais ampla, como diz Assmann (1998), facilitaria fluxo do processo do sentir-pensar defendido por Moraes (2004) assim como os princípios da ludicidade defendidos por Cavalcanti (2008).
METODOLOGIA:
Para esse estudo, utilizou-se da pesquisa qualitativa, tendo como ferramenta pedagógica para a construção imagética da memória lúdica, o jogo de areia ou sandplay. Assim, utiliza-se de uma caixa de areia, com as dimensões aproximadas de 75 x 50 x 7 cm, impermeabilizada para permitir o uso de areia e água para a modelagem, além de uma coleção de miniaturas que serão utilizadas para a construção dos cenários imagéticos. Por ser uma ferramenta metodológica de caráter transdisciplinar, o Jogo de Areia, possibilita o fluir da imaginação, ludicidade, criatividade e reflexividade e trabalha principalmente com a tatilidade. Assim, foram construídos dois cenários para esse estudo. Um deles antes da ecovivência, buscando-se registrar imageticamente a expectativa para a saída de campo, ressaltando que seria uma estréia para o estudante estar em um passeio de barco. Já o segundo foi construído após a ecovivência, com o objetivo de registrar imageticamente o foi mais marcante para o adolescente, diante de vários fatores tais como a estréia em um barco, estar sobre o rio Potengi, poder visualizar in loco a situação ambiental do rio e das margens com o manguezal.
RESULTADOS:
Com a prática do Jogo de Areia, perceberam-se vários aspectos importantes para esse estudo. Na confecção do primeiro cenário, a propriedade ontopoiética da ecovalia foi evidenciada através da ansiedade e preocupação em estar no horário marcado, mesmo sendo no dia seguinte a ecovivência. A expectativa de visualizar animais no local, além da inexistência de construções ao longo das margens do rio, também representadas, denotando-se a percepção da natureza como algo intocado pelo homem. Após a ecovivência, no segundo cenário, foi mostrado o registro da ocupação urbana e o impacto ambiental em uma das margens do rio, além da inexistência da variedade de animais, fruto da poluição observada. Dessa forma, a propriedade ontopoiética da ecoterritorialidade foi evidenciada com as novas impressões do ambiente pelo estudante. Como momento marcante, destacou-se a ecovivência escutar os sons do manguezal com o vento, sendo representado imageticamente no cenário através da limpeza e a harmonia do ambiente, utilizando-se para tal, poucas miniaturas, diferindo do primeiro cenário, que estava muito ilustrado. Com essa ecovivência, foi possível perceber a poluição acústica no meio urbano e o quanto interfere na qualidade de vida das pessoas.
CONCLUSÃO:
Com os registros do jogo de areia na ecovivência corporalizada, pode-se destacar as propriedades ontopoiéticas dos estudos da corporeidade de Cavalcanti (2008). Assim, através da motivação e entusiasmo do estudante para a ecovivência, além da preocupação em não se atrasar, identifica-se a propriedade ontopoiética da ecotelia. O contato pela primeira vez com o barco, no estuário do rio Potengi com suas cores, sua vida, foi associada à propriedade ontopoiética da ecoterritorialidade. Com relação ao sentir-pensar com o elemento ar, na ecovivência de respirar e escutar os sons do manguezal, entregando-se às emoções em cumplicidade com a corporeidade, destaca-se a propriedade ontopoiética da ecoconectividade. A aprendizagem dos ecosssistemas in loco, revestiu-se de fundamental importância, representando a propriedade ontopoiética da ecovalia. Diante dessa ecovivência corporalizada e representada imageticamente nos cenários do jogo de areia, destaca-se a importância dessas práticas no processo de construção do conhecimento dos estudantes, estimulando-se a inteligência ecológica, o sentir-pensar, numa educação voltada para o ser. Pois viver é conhecer e só se preserva o que se vivencia, o que se conhece.
Palavras-chave: Corporeidade, Ecovivência, Educação ambiental.