Este trabalho foi desenvolvido sob a fundamentação teórica da Análise do Discurso Crítica, representada, principalmente, por Norman Fairclough, teoria esta que aborda o discurso a partir de um modelo tridimensional: texto, prática discursiva e prática social. A partir dessa orientação teórica, objetivamos compreender o discurso pedagógico como elemento atuante na construção de identidades sociais de raça na sala de aula, para isso pesquisamos os tipos de discursos utilizados pelos professores durante suas aulas, analisando a relação entre os discursos utilizados pelos professores e o efeito que estes produziam na formação identitária dos alunos. Objetivávamos ainda, observar como as ideologias estavam presentes no discurso do professor e como atuavam na formação das identidades dos alunos. Investigamos também como se dava a tomada de posição dos alunos acerca de conceitos presentes nos discursos dos professores e como estes se fixavam em sua formação social.

Utilizamos uma metodologia de caráter etnográfico e que se desenvolveu por etapas. Primeiramente foi feito levantamento bibliográfico que teve como suporte teórico os estudos de Norman Fairclough, Luiz Paulo da Moita Lopes, Viviane Ramalho, Emília Ribeiro Pedro e outros, além dos estudos desses teóricos foi feito uma busca de trabalhos que já tenham sido desenvolvidos dentro do estudo da Análise do Discurso Crítica. Após a fundamentação, realizamos a pesquisa de campo com alunos da 7ª série do turno vespertino e com os professores de Língua Portuguesa, História e Ética e Cidadania de uma escola da rede estadual, situada em Caxias, Maranhão. Em seguida, nossa pesquisa envolveu entrevistas, questionários e discussões sobre textos que abordassem temas relacionados à raça, com a participação do professor e alunos, além de observações e anotações colhidas durante as aulas. Por fim, analisamos a produção de texto dos alunos para que pudéssemos observar pontos relevantes relacionados à sua identidade.

O discurso demonstrou a consciência da possibilidade de mudança social, tendo em vista que houve reprovação de práticas racistas, mas ao mesmo tempo, houve reprodução de ideologias racistas através do uso de alguns termos, tais posicionamentos revelam as identidades fragmentadas da professora de Língua Portuguesa. Especificamente no discurso da professora de Ética observamos um posicionamento de despreparo para o trabalho com questões raciais na escola. Já a análise discursiva do professor de História, evidenciou a presença de itens que a ADC aborda como: intertextualidade, pressuposições e modalidade e a difusão da idéia de que se deve "elevar a auto-estima do negro".

Nos discursos dos alunos, observamos: a) a ausência de um discurso que indicasse a raça de alguns alunos, entretanto percebemos que a identificação racial de alguns deles ocorreria a partir de como os outros os vêem; b) as narrativas foram percebidas como processo da construção de identidade social de raça; c) reposicionamento dos alunos através dos contra-discursos, propondo mudança discursiva; d) a identidade social de raça é construída no dia-a-dia e recebem influências de diversas instituições sociais que os alunos estão inseridos; e) reprodução de ideologias racistas.

Concluímos que as identidades sociais dos alunos encontram-se em construção e que quando algumas delas já parecem solidificadas, há a possibilidade de reconstrução a partir, entre outras coisas, do discurso pedagógico. Observamos também que o discurso pedagógico pode apresentar em sua estrutura ideologias e que muitas vezes o sujeito possuidor do discurso não as percebe e acaba por reproduzi-las. Esse fenômeno acontece, principalmente, quando as ideologias tornam-se naturalizadas, conforme explica Norman Fairclough em sua teoria. Através do discurso da professora de Ética verificamos que na sua aula não há a possibilidade do uso de um discurso formador de identidades raciais que respeite as diferenças.