São Mateus é um Município de 456 anos, com cerca de 102 mil habitantes, localizado no Espírito Santo, na rodovia BR-101. Atualmente apresenta índice de desenvolvimento IDH-M = 0,73, o que o coloca em 2438 lugar no ranking nacional. Assim como em vários municípios brasileiros, possui bolsões de miséria, com falta de saneamento básico e atendimento médico-hospitalar precário. Nos últimos 10 anos, a população sofreu um aumento de quinze mil habitantes devido à exploração do petróleo e do gás, o que provocou a implantação de novos bairros, tais como o Areinha, Liberdade e Pedra d´Água, município de São Mateus, ES, que abrangem 900 domicílios residenciais. Esse aumento não planejado tem exigido grandes investimentos da gestão municipal, nas áreas de saúde, educação e saneamento básico.

Foram estudadas crianças de 6 a 12 anos da EMEF Valério Coser e atendidas pela Unidade de Saúde do Bairro Pedra D´Água, São Mateus, no período de outubro de 2009 a março de 2010.

Das 450 (N) crianças entre 6 e 12 anos da EMEF foram selecionadas aleatoriamente 145 (n) estudantes da 1ª a 5ª série, de acordo com o guia da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1996). Os dados foram submetidos à análise estatística de variância (ANOVA), com nível de significância 5%. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CEUNES, observando-se a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), que trata de pesquisas com seres humanos.

Os exames parasitológicos de fezes (EPF) foram realizados no laboratório do CEUNES-UFES através do método de sedimentação espontânea. A realização dos exames foi acompanhada por profissional Farmacêutico Analista Clínico e a emissão dos resultados foi realizada em formulário próprio, criado pelo CEUNES.

Das 145 amostras, 52% estavam negativos, 34% monoparasitados e 14% poliparasitados. A maior incidência foi de protozoários, sendo 19% Giardia lamblia e 25% Entamoeba histolytica. Em relação a platelmintos foram encontrados 2% Hymenolepis nana, 0% Schistosoma mansoni e 0% de Taenia sp, já para os nematelmintos os resultados foram 1% Strongyloides stercoralis, 24% Ascaris lumbricoides, 2% Ancylostoma duodenale e 6% Trichuris trichiura.

Observou-se que o maior número de casos positivos estava relacionado a protozoários como Entamoeba histolytica e Giardia lamblia, fato que sugere possuir algum problema com a água utilizada no domicílio, o que foi comprovado pelo armazenamento inadequado de água em tonéis sem higiene, além da ausência de cuidados higiênicos principalmente das mãos de manipuladores de alimentos, uma vez que os parasitos encontrados estão relacionados com questões hídricas.

Além de viabilizar o tratamento das pessoas contaminadas foram realizadas palestras às crianças e pais sobre higiene pessoal, preservação do meio ambiente, verminoses e plantas medicinais. Foram distribuídas mudas de plantas medicinais preconizadas pelo Ministério da Saúde para a prevenção e controle de verminoses e para outras enfermidades presentes na população assistida.

O projeto Saneamento Básico, Parasitoses Intestinais e Condições Sócio-econômicas desenvolvido pelos alunos do CEUNES-UFES, em São Mateus despertou interesse das autoridades e imprensa local e regional que gerou a realização de palestras na Câmara de Vereadores, Conselho Municipal de Saúde e de matérias jornalísticas para a identificação da realidade de uma cidade colonial com as mazelas de uma metrópole moderna.

A iniciação científica em pesquisa e extensão colocou os alunos em contato direto com a população, aprimorando a inter-relação profissional-comunidade e possibilitou o tratamento dos casos positivos e a prevenção de novos agravos, através da educação em saúde Além disso, o projeto levou o aluno à realidade laboratorial, mostrando as dificuldades na coleta, os cuidados no recebimento de amostras e a pesquisa de materiais totalmente desconhecidos, diferentemente do que ocorre em sala de aula, onde são estudados materiais conhecidamente contaminados.

A falta de higiene e a incidência de verminoses em crianças têm prejudicado o seu desenvolvimento escolar, desta forma esta pesquisa sensibilizou as crianças por meio de atividades lúdicas para a necessidade de se preocupar com a saúde e o meio ambiente.