62ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências |
PROFESSORES DE CIÊNCIAS DE ARACAJU: UMA VISÃO POSITIVA OU NEGATIVA DA HOMOSSEXUALIDADE? |
Mônica Ismerim Barreto 1 Maria Inêz Oliveira Araujo 2 |
1. Secretaria Municipal de Educação de Aracaju 2. Universidade Federal de Sergipe |
INTRODUÇÃO: |
A discussão sobre temas ligados à sexualidade na escola é geralmente permeada por tensões, principalmente quando o assunto em pauta é a homossexualidade. A forma como esse tema é abordado (ou silenciado) pode levar os alunos que são considerados homossexuais a sentirem que sua forma de viver a sexualidade é errada, desviante. O professor de Ciências é considerado o que tem o 'saber competente' para discutir esses temas. Porém, esses temas, na maioria das vezes, não são contemplados na sua formação, e ele termina por discuti-los a partir do senso comum. Considerando que esses professores(as) estão na escola com alunos e alunas que podem ser percebidos como homossexuais, e que a forma como entendem a homossexualidade pode influir na forma como alunos percebem essa orientação do desejo, faz-se necessário que se investigue se professores e professoras de Ciências do Município de Aracaju, que participam das 'Horas de Estudo' tem uma visão positiva ou negativa da homossexualidade. Dessa forma, o presente trabalho, que compõe a dissertação de mestrado de uma das autoras, teve como objetivo analisar como professores e professoras de Ciências do Município de Aracaju, que participam das 'Horas de Estudo' vêem a homossexualidade. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi realizada com nove professores(as) de Ciências do município de Aracaju que participam do programa "Horas de Estudo" da Secretaria Municipal de Aracaju. Esse programa tem por finalidade a formação continuada dos professores. Para atender ao objetivo desta pesquisa, utilizamos como instrumento de coleta de dados o questionário anônimo, pois trabalharmos com um tema polêmico que poderia gerar constrangimentos aos pesquisados. Segundo Richardson (1999) esse fato pode ser minimizado pelo anonimato propiciado pelo questionário. Como forma de garantir o anonimato os questionários receberam uma numeração, que foi utilizada na análise. No presente trabalho iremos nos ater a uma Etapa deste questionário, composta por duas questões de escolha com 24 descritores cada uma. Descritores são palavras utilizadas para representar um conceito. Nessa etapa, os professores devem fazer uma livre associação de idéias entre os descritores e a homossexualidade. Esses descritores foram divididos em dois grupos: a) os positivos, nos quais a homossexualidade é entendida como uma variação normal do desejo ('uma forma de amor'); b) os negativos, nos quais a homossexualidade é entendida como uma forma desigual do desejo ('opção/escolha'). |
RESULTADOS: |
Os resultados obtidos mostram que a maioria dos professores (oito dos nove) tem uma visão positiva da homossexualidade, pois assinalaram mais descritores positivos que negativos. Porém cabe ressaltar que alguns dos descritores positivos mais assinalados indicam uma atitude 'politicamente correta' por parte dos pesquisados. Ao optarem por assinalar apenas itens como "Um Direito", esses professores não se comprometem, evitando assinalar determinados descritores, como "Normal" que apontariam a aceitação da homossexualidade como uma variação normal do desejo. Entre os descritores negativos mais assinalados, está o que indica a homossexualidade como "Opção/escolha". Quatro professores assinalaram esse item. Essa forma de entender a homossexualidade pode incentivar o preconceito, pois deixa implícita a ideia que existe uma escolha consciente do homossexual pelo seu objeto do desejo. Como indica Nunan (2003), essa forma de pensar, onde se atribui a orientação sexual à uma escolha consciente do indivíduo, admite uma outra escolha - a dos heterossexuais - estes podem escolher condenar essa homossexualidade. Dessa forma, os homossexuais não podem reclamar das sanções às quais vão ser submetidos, eles 'escolheram'. |
CONCLUSÃO: |
A pesquisa evidenciou que o grupo estudado em sua maioria, apresenta uma visão positiva da homossexualidade. Essa forma de ver a homossexualidade é algo construtivo, e pode produzir efeitos positivos em sala de aula. Porém, este grupo vê a homossexualidade, em certa medida, como um desejo desigual. Esse entendimento indica uma limitação na compreensão da homossexualidade, o que pode gerar prejuízos durante a ação dos professores e pode deturpar a visão dos alunos frente esse tema. Levando em consideração que os educadores sabiam estar sendo avaliados nas suas respostas, ao assinalarem itens que não indicavam uma aceitação mais efetiva da homossexualidade, identificamos uma resistência dos mesmos em considerar a homossexualidade como uma variação normal do desejo. Tal fato pode repercutir em sala de aula, gerando visões distorcidas e preconceituosas sobre a homossexualidade. Diante do apresentado, verificamos a necessidade de investir na formação do professor. Tanto a formação inicial com o a continuada devem oferecer disciplinas/cursos que possam desencadear a consciência critica dos educadores e estimulem a busca do conhecimento articulado, capaz de reduzir os preconceitos. |
Palavras-chave: Educação sexual, Homossexualidade, Ensino de Ciências. |