62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
O ENSINO DE CIÊNCIAS, O PERFIL CONCEITUAL DE MORTE E A ABORDAGEM PEDAGÓGICA DO CICLO DE VIDA
Aline Andréia Nicolli 1
Eduardo Fleury Mortimer 2
1. Centro de Educação, Letras e Artes, Universidade Federal do Acre - UFAC
2. Faculdade de Educação, FaE, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
INTRODUÇÃO:

Esse artigo é um recorte de um estudo desenvolvido para identificar as zonas que constituem o Perfil Conceitual de Morte e suas relações com a abordagem pedagógica do Ciclo de Vida, no Ensino de Ciências.

Participaram dessa etapa da pesquisa 01 professor de ciências e 40 alunos, de duas turmas de 7ª série, de ensino fundamental, de uma escola pública, localizada no estado do Acre. Os dados coletados nos possibilitam, nesse artigo, responder a seguinte questão: Quais as interferências da abordagem pedagógica para a evolução das zonas do Perfil Conceitual de Morte e para a conceituação de Ciclo de Vida?.

Importa considerar que a noção de Perfil Conceitual[1] aponta que cada conceito pode apresentar múltiplos significados dispersos em zonas distintas e que abarcam uma diversidade de significados cotidianos e científicos. Assim, para aprender Ciências, o aluno não precisa abandonar suas concepções cotidianas. Ao contrário, um conceito pode ser aprimorado se considerarmos a possibilidade de agregar a ele outras zonas. 

Esperamos, com esse trabalho, contribuir com a elaboração de estratégias, para o Ensino de Ciências, que considerem a existência de diferentes zonas para um conceito, bem como modos de falar e formas de pensar, que correspondem, ao lugar social ocupado pelos sujeitos.



[1] Estabelecida por Mortimer (1996, 2001)

METODOLOGIA:

Inicialmente aplicamos um questionário[1] para coletar os dados que nos permitiram identificar as 03 zonas[2] para o Perfil Conceitual de Morte e as 02 concepções[3] para o Ciclo de Vida. Na seqüência realizamos o planejamento da abordagem pedagógica da temática Ciclo de Vida[4] posto que, essa unidade deveria promover a discussão da temática morte.

Optamos pelo desenvolvimento de uma abordagem que contemplasse num primeiro momento, em ambas as turmas, as atividades comumente desenvolvidas pela professora quando do desenvolvimento da unidade Ciclo de Vida.

Num segundo momento, professora e pesquisadora planejaram uma atividade complementar que foi realizada somente na sétima 7ª série A e que tinha como objetivo promover a discussão em grupos sobre Outras Possibilidades[5] de constituição do Ciclo de Vida e da efetivação da Morte. Os alunos foram estimulados a representar essas Outras possibilidades confeccionando painéis com figuras. Filmamos e fotografamos as aulas, em cada uma das turmas, como possibilidade para analisarmos, as relações entre os modos de falar, as formas de pensar, as interações e relações desencadeadas nas aulas de Ciências. Por fim, aplicamos novamente o questionário[6] para compararmos os dados obtidos e estabelecer relações com a abordagem pedagógica desenvolvida.



[1] Pré-teste.

[2] Naturalista, religiosa e relacional.

[3] Clássica e alternativa.

[4] Permitimo-nos chamar a atenção para o fato de que, nesse estudo, fizemos uma opção por definir Ciclo de Vida, como característica de todo ser vivo, composto obrigatoriamente pelo nascer, desenvolver e morrer, uma vez que, a nosso ver, a complexidade do ciclo de vida não apresenta variação apenas de espécie para espécie, mas também de indivíduo para indivíduo, dentro de uma mesma espécie. Tal opção se deu também para que pudéssemos considerar a abordagem da unidade de acordo com o que está posto nas propostas curriculares oficiais e que refletem a abordagem pedagógica [embora sujeita a análises e críticas] desenvolvida em sala de aula.

[5] Que não aquela comumente abordada e que caracteriza um ciclo completo. Ou seja: nascer, crescer, se reproduzir, envelhecer e , por fim, morrer.

[6] Pós-teste.

RESULTADOS:

A análise dos dados permite perceber que entre os sujeitos da 7ª série A, a oscilação nos resultados, do pré ao pós-teste, tanto em termos de conceituação de Ciclo de Vida, como em termos de conceituação de morte, foi mais expressiva. Essa expressividade se fez evidente, principalmente, na zona naturalista de morte e na concepção alternativa de Ciclo de Vida.

Esse dado pode estar vinculado, a nosso ver, com a Abordagem Pedagógica do Ciclo de Vida desenvolvida nesta turma, já que os alunos puderam refletir sobre alternativas várias de constituição do Ciclo de Vida como, por exemplo: nascer e morrer, ou ainda, nascer, crescer e morrer. Puderam refletir, mesmo que implicitamente, sobre as possibilidades da morte se manifestar em sujeitos que ainda não envelheceram.

Outro indício do sucesso da atividade[1] foi a mudança presente nas respostas atribuídas para a questão 02[2], em termos de evolução na conceituação do Ciclo de Vida, se compararmos os dados do pré com os do pós-teste, onde a categoria clássica apresentou queda de 87,5%, no pré-teste, para 66,7%, no pós-teste e a categoria alternativa aumentou de 4,2%, do pré-teste, para 33,3%, no pós-teste. São exemplos de respostas que provocaram a oscilação nos dados as seguintes: Pré-teste: "Nascer, crescer, se reproduzir, envelhecer e morrer" e Pós-teste: "Etapas que formam a vida de um ser. Nem todos vivem o Ciclo completo"[3].



[1] Fazemos menção ao sucesso da atividade esclarecendo ao leitor que esse sucesso, a nosso ver, não foi garantido pela atividade em sim, mas pela possibilidade, intrínseca a ela, de atender: (a) o reconhecimento da Condição Humana dos envolvidos, posto que cada um pode externar suas opiniões, dúvidas, curiosidades; (b) a promoção do Encontro com o Outro, posto que os sujeitos puderam ouvir e ser ouvidos e, nesse exercício, confrontar as diferentes opiniões sobre o tema e (c) o Respeito à Diversidade, uma vez que cada sujeito e/ou cada grupo, pode apresentar aos colegas aquilo que julgou ser mais pertinente em termos de Outras Possibilidades de conceituação/caracterização do Ciclo de Vida.

[2] Considerando o que você aprendeu, no Ensino Fundamental, caracterize Ciclo de Vida.

[3] Respostas encontradas nos questionários de pré e pós-teste, identificado como Q412, de uma aluna, componente do GRUPO 03, da 7ª série A, do Ensino Fundamental.

CONCLUSÃO:

Admitir a existência de uma diversidade de zonas para um único conceito, pressupõe que admitamos a heterogeneidade de abordagens que deverão passar a compor os processos de ensinar e de aprender, sem, perder de vista as especificidades da área ou superficializar a função pedagógica das Instituições Educacionais e o processo de aquisição do conhecimento. 

É pautado no reconhecimento da heterogeneidade dos conceitos e  de suas abordagens que sugerimos a realização do planejamento e da abordagem pedagógica de conceitos científicos,  no Ensino de Ciências, em termos de consideração da Condição Humana, do Encontro com o Outro e do Respeito à Diversidade.

Pensamos que essas três orientações são necessárias para a promoção das discussões sobre as distintas configurações que cada um dos conceitos científicos pode assumir ao longo da vida de cada sujeito. Primeiramente, porque estaremos tratando de uma abordagem pedagógica pautada na consideração do que o aluno sabe e na aproximação do conhecimento científico com o cultural[1]. Segundo, porque promoveremos o confronto entre as diferentes concepções que emergem em sala. E, em terceiro, porque ao instigar o compartilhamento de concepções e o contato com as conceituações dos outros, estaremos possibilitando o reconhecimento de que os diferentes significados que um conceito pode apresentar não são inferiores ou superiores ao científico, mas culturalmente adequados para diferentes esferas da vida, nas quais atuamos e falamos[2].



[1] (EL-HANI; MORTIMER, 2007).

[2] (EL-HANI; MORTIMER, 2007).

Palavras-chave: Ensino de Ciências , Perfil Conceitual de Morte, Ensino e Aprendizagem.