62ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística |
"CIDADÃO": UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA, CULTURAL E DISCURSIVA |
Alan dos Santos e Silva 1 Tiago José da Silva 1 Jaciara Josefa Gomes 2 |
1. Núcleo de Pós-Graduação, Fundação de Ensino Superior de Olinda - FUNESO 2. Programa de Pós-Graduação em Letras - UFPE |
INTRODUÇÃO: |
O sujeito não é somente um divulgador de um discurso pré-existente a si, mas faz parte do processo discursivo em que intervém, modifica e aprimora o meio social. Na verdade, é só assim, em permanente ação, que ele se constitui como tal, e constrói o próprio mundo. Posto isso, nesse estudo, analisamos discursivamente a música "Cidadão", composta por Zé Ramalho. Pretendemos perceber que vozes sociais fazem parte do discurso do sujeito enunciador e analisar criticamente seu discurso, uma vez que a temática do texto explora a questão da cidadania. Nessa pesquisa, buscamos, sobretudo, compreender a construção de sentidos como parte de um processo social, histórico e cultural, em que a linguagem ganha evidência. Essa verificação é pertinente a partir do momento em que reconhecemos o signo linguístico como portador de um acento apreciativo, de um juízo de valor (BAKHTIN, 1999). Ademais, o discurso é entendido como o próprio lugar de construção do sujeito. Construção essa que se evidencia em práticas sociais. Daí porque desvelamos ainda ideologias que subjazem a essas práticas discursivas. Os efeitos ideológicos e políticos do discurso são evidentes, vejamos: capitalismo, cidadania, trabalho e religião. |
METODOLOGIA: |
Partimos da ideia de que poderíamos traçar um diálogo interessante e pertinente entre o dialogismo bakhtiniano e a proposta tridimensional de análise do discurso de Fairclough (2001), teorias que fundamentam nossa pesquisa. Daí, como a Análise Crítica do Discurso (ACD) explora problemas de relevância social (violência, homossexualismo, preconceito racial), decidimos observar a construção discursiva da cidadania a partir da análise da música "Cidadão". Para tanto, também recorremos à Constituição Federal do Brasil (1988) e à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1968). Nesse percurso, fez-se necessário ainda buscarmos estudos sobre ideologia, enquanto categoria de análise, para vislumbrarmos outras questões relevantes ao estudo realizado. No texto selecionado, buscamos verificar a "construção" desse cidadão que sofre exclusão social, preconceito e discriminação, embora sirva à construção de uma estrutura social dita "civilizada". Esse estudo é de caráter compreensivo dos fenômenos discursivos que são chamados à cena para entendermos a dinâmica social construída por meio da linguagem. |
RESULTADOS: |
Nossa linha de investigação tomou o discurso como a própria situação que possibilita considerar não só o contexto de enunciação, como também o contexto social em que as vozes são enunciadas (BAKHTIN, 1998). Isso foi essencial para verificarmos que outras vozes entravam em cena na letra analisada, como por exemplo, o discurso do trabalhador braçal, do pai de família, do imigrante que fugiu da seca e do religioso, do homem de fé. Essa última voz meio que surge como redenção, esperança diante de tanto sofrimento. O próprio termo "cidadão" traz consigo não apenas a referência ao homem que habita uma cidade, mas também ao indivíduo que goza de direitos civis e políticos |
CONCLUSÃO: |
A análise apresentada procurou desvelar os sentidos produzidos nas vozes sociais que dialogam na letra de música "cidadão". Esperamos ter deixado claro com essa pesquisa que o discurso, lugar onde o sujeito se constitui, pode apresentar também, a partir de diferentes perspectivas (textual, prática discursiva e prática social), como os usos que fazemos da linguagem promovem a realização de variadas ações sociais. No mais, lembramos que, para Bakhtin (1999), o universo de signo se caracteriza na pluralidade histórico-social. Desse modo, se o ser é parte atuante do meio social, ele também é um fator de interação. O sujeito/cidadão não é somente um divulgador de um discurso existente, mas faz parte do processo discursivo. É por essa razão que pudemos mostrar os julgamentos por passou o cidadão de nossa história (tu tá aí admirado? Ou tá querendo roubar?). Não necessita nem mesmo ser tão explícito, basta apresentar outra passagem (eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer). Esperamos principalmente que nossa análise permita uma reflexão mais crítica de como a cidadania é negociada no texto em relação ao poder econômico do sujeito que se refugia na fé. |
Palavras-chave: Sociedade, Ideologia, Discurso. |