62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
ESPAÇO MARGINAL: A CIDADE, EM CACOS, CORTA O MEU CAMINHO COM A PALAVRA PICHADA.
Renata Flávia de Oliveira Sousa 1
Edwar de Alencar Castelo Branco 2
1. Bolsista PBIC/CNPq, estudante de História pela UESPI.
2. Prof. Dr/Orientador - Departamento de História e Geografia da UFPI.
INTRODUÇÃO:
Remontar cacos de um momento e fazê-lo acontecimento em fotogramas, montando um a um ou simplesmente segurando o botão e aproveitando todo o filme em uma gravação direta. Talvez as imagens digam mais, mas pelo que está ali na frente recriando um acontecimento que você pode pausar, apressar ou voltar, assim como as páginas de um livro que faz de suas palavras acontecimentos, aquilo que toca interrompe, surpreende e direciona vários caminhos, sendo o momento não aquele acompanhado por uma linha tacanha do tempo, que se curva para uma visão limitada e sequencial quando pode optar por colocar lentes em formatos variados em posições variadas e assim produzir aquilo que na fotografia denomina-se perspectiva. Cá está o filme Espaço Marginal (1982) com sua câmera. designando o olhar, recortando como foi assumido o papel do historiador. A câmera recortando o contexto: década de 1980, inicio da abertura política, crise inflacionária. A câmera recortando o espaço: os muros de Teresina. Cortando o acontecimento, o explodir das palavras grafitadas pela cidade. Buscando alcançar esta relação das pichações e subjetividade com as propostas de cinema do Grupo Mel de Abelha a pesquisa se desenvolve, permitindo alçar vôos sobre o imaginário que se constrói próximo ao fim do regime militar.
METODOLOGIA:
Partindo dos filmes resgatados e digitalizados nas primeiras atividades do Grupo de Trabalho: História, Cultura e Subjetividade, prossegui analisando em especifico o filme Espaço Marginal(1982) do grupo Mel de Abelha, juntamente com o auxilio bibliográfico, onde busquei demonstrar as novas preocupações e os usos da linguagem apresentadas por estes jovens deste período. Para estabelecer uma relação com o contexto da época foi realizadas várias incursões ao Arquivo Público do Piauí, onde com noticias de jornais e revistas pude realizar um paralelo entre os recortes fílmicos e as discussões que rondavam o momento da cidade. No levantamento destas fontes periódicas foi importante em especial a reportagem de Laura Learth de 1986 sobre o grupo Mel de abelha, onde pude coletar impressões e informações dentro da época de produção dos filmes. Foi utilizado artigos, monografias e dissertações produzidas por este GT, assim como a entrevista com um dos participantes do Mel de Abelha, Luis Carlos Sales coletada por Jaislan Honório Monteiro, o que tornou-se um instrumento indispensável para entender as relações estabelecidas do Grupo Mel de Abelha e o cinema, percebendo também em sua fala o olhar dos filmes sobre a época.
RESULTADOS:
No momento de esperança da abertura política via-se um desanuviar nas práticas culturais a muito sofridas pelas ondas de repressão e assim também se abria vários questionamentos sobre este futuro incerto o que norteou a produção de Espaço Marginal em seu tom ficção misturado ao tom acadêmico passeia pela cidade demonstrando que além de atravessar somos atravessados por ela, pelos seus problemas que brotam no caminho e nos fazem desviar os pensamentos individuais e lançá-los ao grau geral. Alimentado pelas noticias de jornal, pela ansiedade de recriar novos caminhos ou pela necessidade de expressão, entalada nos "tempos de chumbo", estas frases, discursos, intervenções povoam a cidade e atropelam o caminho, fazendo os passantes toparem despercebidos nos ferimentos ali denunciados. A câmera acompanha o turbilhão de informação na leveza de um passeio do ator-caminhante que se angustia e tenta digerir toda a confusão de discursos que lhe atropelam o caminho, em uma dose de cachaça ele relembra o turbilhão e tenta engolir aquilo que atravessa sua garganta, finalizando na pichação "AI-6 Amor" em seu tom de dúvida e talvez esperança do que poderia vir.
CONCLUSÃO:
Percorrer a cidade com o olho voltado para o que escapa a linearidade, filmando os cantos esquecidos ou despercebidos a câmera do Mel de Abelha filma o que sobra.Em Espaço Marginal há a clara opção pelo trabalho como espaço, como cruzamento de discursos da sociedade, práticas e estado, as fugas e entrelaces aqui funcionam como um baú que coleta vestígios, lembranças, falas dos indivíduos que prestam depoimentos, que andam, dançam, rezam, praticam o espaço com táticas que escapam a ordem estabelecida; um baú de peças que se montadas uma a uma remontariam toda uma cena fragmentada daqueles tempos. A observação dos filmes produzido em Teresina no período da década de 1980, podemos vê o transeunte de sua respectiva época, sua relações e mesmo a estrutura espacial que o ronda e constrói sua subjetividade. O estudo destes filmes é pertinente, pois copila várias representações e práticas da época, dede as imagens aos depoimentos, os discursos estão lá e são ricos em pistas de como se estruturava a cidade de Teresina e um pouco do estado do Piauí nos princípios do fim da ditadura.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Cinema, Brasil, Subjetividade.