62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
ESTÊNCIL - UMA DAS CAMADAS DE INTERVENÇÃO URBANA NA CIDADE DE NATAL/RN
Glauber Vinicius de Araujo Chagas 1
1. Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
Este artigo apresenta os resultados de um trabalho etnográfico sobre os jovens e suas práticas culturais, no contexto urbano de uma grande metrópole, observado na zona sul de Natal/RN. É a pratica de estêncil - máscaras, matrizes, molde vazado sobre o qual se aplica tinta com spray ou rolinho - como uma forma de intervir no espaço urbano, uma contravenção com caráter totalmente subversivo, representando para os jovens um horizonte de ruptura, um território de rejeição da lei. Onde, se expe¬rimentam o risco e o desvio, a excitação e as sanções tantas vezes dolorosas. Nesta pesquisa vamos nos deter a uma das camadas de intervenções urbanas realizada pela cidade de Natal, a aplicação-prática do estêncil, que transforma uma parte da nossa cidade, permanentemente, num laboratório artístico-visual. Vendo que, tanto a antropologia como a imagem fotográfica, em seus diferentes modos de construção do conhecimento, elaboram métodos e formas de dar corpo a uma imaginação existente sobre a alteridade. Assim, vendo uma problemática nas formas de ação e organização social que emergem em agrupamentos compactos, relativamente permanentes, de grande número de indivíduos no espaço urbano - dos agrupamentos humanos - paisagem habitualmente descrita como uma realidade cinzenta, indiferenciada e apática.
METODOLOGIA:
Os métodos que foram utilizados como muletas nos primeiros passos deste trabalho etnográfico, para o levantamento de dados da pesquisa, foram à entrevista com uma relação dialógica com alguns indivíduos conhecidos, sem revelar seus nomes, de um grupo denominado "Brutifulcrime", da zona sul de Natal, fugindo um pouco da relação pesquisador/informante; Realizando em uma observação participante em algumas ações realizadas com o grupo, com um olhar atento, um olhar "de perto e de dentro" devidamente treinado pela teoria disponível; Descrevendo minuciosamente à riqueza de detalhes com os registros fotográficos da "street art" praticada no pedaço, "point dos chegados", com um trajeto urbano elaborado pelo grupo visando certas áreas para a ação. Sendo assim, a partir da perspectiva dos entrevistados, da minha observação minuciosa, de um esforço intelectual para uma descrição densa e uma relação dialética com a bibliográfica conceitual, busquei entender um pouco mais desse fenômeno e compreender a perspectiva dos atores sociais no espaço urbano e como eles se relacionam com a sociedade.
RESULTADOS:
O espaço urbano na cidade é considerado pelo grupo "Brutifulcrime" como sendo caótico, degradante, hostil e monótono e as relações entre os indivíduos da sociedade como apáticas. As imagens grafadas pelo estêncil tentam transmitir mensagens de cunho cômico, político e sarcástico, que variam de acordo com a intenção do interventor. Quanto mais se tenta acompanhar o que faz o estêncil man, mais lógicos e singulares ele vai parecer. A sociabilidade desses jovens começa no "pedaço" (Magnani, 1998), uma categoria que é vista como um espaço social que se situa entre a esfera da casa e da rua, estabelecendo uma forma de sociabilidade mais aberta e menos formal sendo próxima do seu cotidiano. Os membros do grupo proporcionam um plano de "trajeto" - outra categoria - que será percorrido por eles buscando medidas que tornam as ações de intervenção do estêncil mais prazerosas e seguras, procurando-se lugares onde, a acessibilidade seja fácil, a visibilidade do estêncil seja possível, paredes brancas e prédios abandonados, pois, são nesses lugares onde se conquistam mais ibope, segundo eles. Assim, devemos atentar para o comportamento, pois é através do fluxo do comportamento - ou, mais precisamente, da ação social - que as formas culturais encontram sua articulação.
CONCLUSÃO:
A ação coletiva proporciona agilidade no processo, facilitando a evacuação do local, pois se forem flagrados pela polícia a abordagem é hostil e truculenta, com possibilidades de detenção. Outra recorrência observada é o fato da maioria das obras serem anônimas - é anônimo, até por ser ilegal - não há registro de autoria em boa parte dos estênceis, mas os praticantes reconhecem as obras de seus companheiros. O fato de ser efêmero é também uma das características fundamentais do estêncil. Ser efêmero - uma imagem que hoje está na parede e amanhã não mais. E o que se considera como sendo intervenção urbana é a modificação da aparência das estruturas urbanas através das imagens grafadas nas paredes, na tentativa de modificar esses ambientes austeros, "fornecer emoções e meios de escapar ao tédio, à monotonia e à rotina torna-se, pois, uma das principais funções da recreação urbana, a qual, na melhor das hipóteses, fornece meios para a auto-expressão criadora e a associação espontânea dos grupos." (Louis Wirth, 1987) Onde a heterogeneidade dos indivíduos tende a quebrar as estruturas sociais rígidas e a produzir maior mobilidade, instabilidade e insegurança, levando a filiação de indivíduos a uma variedade de grupos sociais opostos e tangenciais com um alto grau de renovação dos seus componentes, uma diversidade cultural vasta.
Palavras-chave: Intervenção Urbana, Subversão, Antropologia Visual .