62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 2. Analise Toxicológica
POTENCIAL FARMACOLÓGICO E TÓXICO DE UM DICLOROMETÂNICO DAS FOLHAS DE Calyptranthes spruceana Berg (MYRTACEAE)
Gabrielly Galdino Conrado 1
Fernanda Guilhon Simplicio 2
Carlos Cleomir de Souza Pinheiro 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
2. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
INTRODUÇÃO:
Vários extratos de diferentes espécies vegetais são utilizados com finalidade medicamentosa pelo homem desde o início dos tempos. No entanto, grande parte desse uso permanece sem embasamento científico. Uma ferramenta útil na investigação preliminar de atividades farmacológicas de extratos vegetais in vivo é o Screening Hipocrático, que consiste na observação de parâmetros comportamentais e fisiológicos de animais de experimentação durante a determinação da Dose Letal Aproximada (DLA). Calyptranthes spruceana Berg. (Myrtaceae), é uma espécie arbórea de ampla ocorrência na região amazônica brasileira, onde é conhecida popularmente como laranjinha, sendo o chá das suas folhas bastante consumindo como febrífugo. Considerando o grande uso medicinal empírico e a insipiência de dados científicos sobre a espécie, este estudo realizou uma análise preliminar do potencial farmacológico de um extrato diclorometânico de suas folhas por meio de um Screening Hipocrático, determinando ainda a dose letal aproximada do mesmo pelas vias oral e intraperitoneal, visando contribuir para a validação do seu potencial terapêutico, fornecendo dados preliminares acerca do seu potencial farmacológico e tóxico.
METODOLOGIA:
Folhas secas e pulverizadas de C. Spruceana foram submetidas à maceração com diclorometano por 72 horas. Após filtração com papel de filtro analítico, o extrato foi concentrado em rotaevaporador. Para a realização do Screenning Hipocrático e determinação da Dose Letal Aproximada (DLA) o extrato foi dissolvido numa mistura de tween 20 e salina (0,4:1). Diferentes grupos de 6 camundongos albinos Swiss machos, pesando entre 20-30 g receberam doses de 500, 1000, 3000 e 5000 mg/kg do extrato por via oral e 10, 250, 500, 750, 1000 e 2000 mg/kg do extrato pela via intraperitoneal. Os animais foram continuamente observados durante os 180 primeiros minutos após a administração do extrato e a cada 24 durante 14 dias, com livre acesso de água e comida, registrando-se alterações dos padrões de comportamentais e fisiológicos em relação a animais-controle, que receberam apenas o veículo do extrato. Foram registradas as mortes que ocorreram entre os animais que foram submetidos ao Screening Hipocrático sendo cálculo da dose letal aproximada (DLA) realizado pelo método de Probitos, com o auxílio do software StatPlus versão 2007 (Analystsoft).
RESULTADOS:
A administração do extrato diclorometânico das folhas da C. spruceana em camundongos produziu contorções abdominais em cerca de dois minutos após a aplicação nas doses de 10, 250 e 500 mg/kg administradas pela via intraperitoneal, durante aproximadamente 20 minutos. Também foram observados piloereção, tremor da cauda, espasmos musculares, tremores grosseiros e hiperemia, além de ptose, dispnéia e reclusão, em todas as doses testadas pela via intraperitoneal. Nos grupos que receberam o extrato pela via oral, apenas uma piloereção discreta foi observada. Mortes foram observadas apenas em animais que receberam o extrato intraperitonealmente, sendo a DLA, nesse caso, de 1265,9 mg/kg. Os parâmetros observados durante o Screening Hipocrático sugerem que o extrato possua uma ação estimulante no sistema nervoso central, a despeito do uso medicinal empírico dessa espécie. Por outro lado, a aparente inocuidade do extrato após exposição oral aguda a altas doses do mesmo, e a baixa toxicidade do extrato pela via intraperitoneal, possibilitam investigações mais acuradas do seu real potencial farmacológico com relativa segurança.
CONCLUSÃO:
O potencial farmacológico de Calyptranthes spruceana foi devidamente demonstrado, ainda que, aparentemente, não se relacione de forma direta com o uso popular da espécie. Apesar disso, também ficou claro que o extrato não representa grande risco em exposição agudas, mesmo em altas doses. Evidentemente, esses resultados não descartam totalmente a utilidade de extratos dessa espécie como febrífugo, mas podem direcionar novos estudos científicos visando outras aplicações terapêuticas e enfatiza a importância de estudos como o aqui descrito, visto que a publicação de seus resultados podem alertar a população contra possíveis intoxicações e/ou efeitos adversos dos desejados na utilização de extratos de plantas medicinais.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM
Palavras-chave: Calyptranthes spruceana , Screening hipocrático , Dose letal aproximada.