62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
O ESPAÇO E O TEMPO DO BRINCAR NA PERSPECTIVA DE ALGUNS PROFESSORES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM NATAL, RIO GRANDE DO NORTE.
Mércia Maria de Santi Estácio 1
1. UFRN - PPGCS
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa busca compreender a relação que os professores estabelecem com o brincar na sua prática diária, em uma escola municipal em Natal, RN. Trata-se de uma escola situada num bairro com baixo poder aquisitivo, em que a maioria das crianças vive uma realidade familiar, onde aparecem, dentre outros fatores, pais separados e/ou desempregados; avós, tios ou outros parentes responsáveis pelo cuidado delas; pais envolvidos com a marginalidade etc. Em muitas escolas ainda predomina uma visão dicotômica do ensino que privilegia as ações cognitivas em detrimento das atividades corporais. Não se trata de hierarquizar o conhecimento cognitivo e o conhecimento corporal, colocando um ou outro em primeiro lugar, mas sim de deflagrar a enação, acreditando que toda cognição depende da experiência que acontece na ação corporal. A princípio, a intenção era entrevistar os professores, estabelecer um diálogo, mas a dificuldade em conciliar os horários e o pouco tempo disponível inviabilizaram esta ação; então, optei pela aplicação de questionários que de certa forma restringem parte dos relatos desses atores, fornecendo informações fragmentadas sobre o assunto. Tais questionários foram analisados sociologicamente com o apoio teórico de alguns autores.
METODOLOGIA:
Diante do universo de apenas uma escola pública municipal, optei pela pesquisa teórico-empírica numa abordagem de estudo exploratório. Uma vez que o brincar foi observado no campo escolhido - a escola pública municipal -, na perspectiva de um estudo exploratório, pois trata apenas de uma escola. Como técnica de pesquisa, utilizei questionários, com os professores, fundamentada em Maria Cecília Minayo. Os professores foram convidados a responder ao questionário. Numa primeira tentativa, a professora de Educação Física foi a porta-voz deste convite. Os questionários foram disponibilizados e apenas 06 questionários retornaram respondidos - um número pequeno para o universo de professores da escola, 26 no total. Diante disso, solicitei apoio a uma das coordenadoras, que se encarregou de solicitar o preenchimento dos mesmos aos professores. Foram disponibilizados entre 20 e 30 questionários, sendo preenchidos 16 pelos professores. Informo que nem todas as perguntas ou informações foram contempladas. Por meio dos questionários foi possível traçar um perfil deste grupo, identificando idades, tipo e tempo de formação, bem como proceder uma análise sociológica das respostas às perguntas que versavam sobre o espaço e o tempo do brincar na prática diária desses professores.
RESULTADOS:
As respostas possibilitaram a construção de uma tabela sobre alguns dados dos professores. A média da idade desses professores é 42 anos e a do tempo de formação é 13 anos; 50% do grupo é pedagogo; alguns professores possuem especialização e pós-graduação. Também foram construídos quadros apresentando as respostas, possibilitando ao leitor acessar a fala de cada professor a respeito do espaço e tempo do brincar na escola. Cabe salientar que as respostas dos professores foram transcritas da maneira que foram registradas, não sofrendo nenhum tipo de correção ou modificação. Resolvi apenas omitir os nomes, identificando os professores por letras, pois acredito que essa seja uma maneira de analisar as respostas, mas ao mesmo tempo não gerar nenhum tipo de embaraço ou constrangimento. Os professores reconhecem a importância do brincar, mas também sinalizam que existem disciplinas específicas para isso ou que não se sentem preparados para utilizar o brincar na sua prática diária. Nas respostas dos professores vislumbro a possibilidade de algumas mudanças neste sentido, mas acredito que essa postura esteja diretamente ligada à formação inicial do grupo, que ainda é especializada e fragmentada, não concebendo a educação como algo mais amplo e global.
CONCLUSÃO:
A despeito de as respostas dos professores serem positivas, elas não apontam de forma concreta o espaço e tempo que o brincar ocupa na prática diária destes professores, constituindo-se assim um norteador da aprendizagem. As respostas dos professores revelam traços das suas práticas, sinalizando que o brincar é reconhecido como um elemento importante; no entanto, outros aspectos e/ou conteúdos se sobrepõem a ele, diminuindo seu espaço e/ou associando-o à recompensa, ou seja, o brincar está colocado em segundo plano, bem como outras questões vivenciadas na escola, que, para alguns, não contribuem para a aprendizagem e para o desejo de estar na escola. Faz toda a diferença professores apaixonados pelo seu ofício, que colocam amor naquilo que fazem, e com certeza transmitem isso para os seus alunos. Reconheço as dificuldades implícitas neste trabalho, que são das mais diferentes ordens: social, econômica, política etc. No entanto, não acredito que a solução seja realizar um trabalho de qualquer jeito, não se preocupando com os alunos, com seu desempenho. E neste sentido, a afetividade faz diferença, pois com o afeto é possível enxergar a realidade de outra maneira e conseguir vislumbrar outros caminhos, outras possibilidades, outras soluções.
Palavras-chave: Espaço-tempo, Brincar, Escola.