As doenças transmitidas por alimentos (DTA) são causadas por agentes que penetram no organismo humano através da ingestão de água ou alimentos contaminados .Salmonella é um dos microrganismos mais envolvidos em casos e surtos de doenças de origem alimentar em diversos países, inclusive no Brasil, e caracteriza-se por sintomas que incluem diarréia, febre, dores abdominais e vômitos. Salmonella enteritides é um dos mais comuns sorotipos no mundo, transmitido principalmente por ovos consumidos crus ou mal cozidos. Este trabalho teve como objetivo contribuir para a análise dos dados do SINAN NET dos surtos alimentares por DTA, de 2006 a 2008 causados por Salmonella sp e sua caracterização em Santa Catarina, com a finalidade de propor melhorias para o sistema de notificação e prevenção da doença.

Os dados foram obtidos do SINAN NET através da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) de Santa Catarina, no período de 2006 a 2008. Nesse sistema, alimentado com dados dos municípios catarinenses, foram selecionados os surtos de Salmonella sp., considerando as variáveis: sinais e sintomas; número de pessoas expostas; número de pessoas doentes; locais de ocorrência; alimentos causadores dos surtos; agentes etiológicos; exames laboratoriais clínicos e bromatológicos; matéria-prima imprópria; conservação inadequada; manipulação inadequada. Cada surto pode ser encerrado por critério laboratorial clínico, bromatológico, clínico e bromatológico ou por critério clínico-epidemiológico.

De 2006 a 2008 foram notificados 295 surtos de DTA em Santa Catarina sendo 43% causados por Salmonella sp., com 2.148 casos registrados. Em 95% deles a Vigilância Epidemiológica coletou amostras para exames: em 81%, foi identificado Salmonella sp.; em 14% o resultado estava em branco e em 5% foi negativo. A Vigilância Sanitária coletou amostras de alimentos em 24% dos surtos: em 53% foi identificado Salmonella sp., em 43%  o resultado foi negativo e em 19% houve inconsistências entre o número de amostras positivas e o principal achado, colocando dúvidas sobre a investigação. Em 57% dos surtos, o alimento envolvido foi maionese elaborada com ovos crus e em segundo lugar o item "em branco", em 13% dos surtos. A manipulação inadequada estava envolvida em 72% dos surtos ocorridos, além de outras causas como conservação inadequada e matéria prima imprópria. A ausência de informação nas fichas de investigação dificulta a confirmação do agente causador do surto, a interpretação dos dados, e conseqüentemente o planejamento de ações preventivas para a diminuição dos números de DTA. Quanto à doença no Estado, pode-se constatar a falta de informação no preparo e conservação de alimentos como fator determinante para ocorrência dos surtos.

Os dados analisados neste período mostraram que Salmonella sp. e Sthaphylococcus sp. foram os principais microrganismos envolvidos nos surtos de DTA em Santa Catarina. Concluiu-se que os cuidados com a saúde das aves, os processos de seleção, lavagem, e acondicionamento devem ser incentivados, pois são medidas preventivas adequadas. A adoção e aplicação de programas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), e a educação dos fornecedores de alimentos, também contribuem com a redução da incidência dessas doenças. Os processos rotineiros durante a manipulação e preparo de alimentos devem ser objeto constante de cuidado e atenção, e de programas específicos para a prevenção e correção das falhas que favorecem os surtos alimentares. Nos três anos analisados, o percentual médio de incidência de surtos por DTA nos domicílios foi de 61%.  Sugerem-se planos de orientação e educação em segurança alimentar destinados aos consumidores, através das secretarias de saúde e programas como a Estratégia da Saúde da Família (ESF). O estudo também mostrou que a salmonelose foi endêmica no período de 2006 a 2008, em Santa Catarina, o que vem a corroborar com a idéia de um controle e uma vigilância sanitária permanentes no Estado.