A problemática da prevenção e promoção da saúde entre servidores públicos ainda é um campo aberto de possibilidades e desafios, tendo em vista que esse modelo de atuação é pouco utilizado com este grupo de trabalhadores. Tratando-se especificamente da categoria de professores de ensino fundamental e médio encontramos uma complexidade de questões que envolvem desde relações  sócio-culturais e ambientais à problemática da gestão da saúde ocupacional. Algumas patologias predominam nesse grupo de trabalhadores e por sua vez demandam a criação de ações de promoção da saúde específicas. O foco deste estudo são os transtornos e agravos relacionados a voz considerados patologias comuns no cotidiano do grupo estudado, demandando constantemente avaliações da perícia médica. Este estudo tem o objetivo de conhecer a prevalência de transtornos e agravos relacionados a voz em professores do ensino fundamental e médio da rede pública estadual do Ceará, que se encontram em licença pra tratamento de saúde. Torna-se importante referencial para construção de ações específicas para promover a qualidade de vida no trabalho e prevenir doenças entre os professores.

Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado a partir de prontuários da Coordenadoria de Perícia Médica do Estado do Ceará. Foram estudados 118 prontuários de professores efetivos lotados na Secretaria da Educação, com atuação em escolas públicas estaduais da capital, da região metropolitana e do interior, sendo 101 mulheres e 16 homens, com faixa etária de 28 a 66 anos de idade. Todos os servidores em questão solicitaram licença para tratamento de saúde no período de abril a maio de 2009, por algum problema relacionado a voz e apresentaram atestados médicos com diagnósticos de acordo com a Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados a Saúde (CID 10). Deste total pesquisado, 72 servidores apresentaram também laringoscopia. A análise estatística foi realizada através de porcentagem e média.

Os dados gerais nos mostram que existe uma predominância de professores com idade acima de 40 anos, totalizando 83% do grupo estudado. Considerando o total de pesquisados, 58 apresentaram diagnóstico de acordo com a CID-10 de R49.0 (disfonia). Destes servidores, 48 apresentaram além do diagnóstico de R49.0 outros transtornos associados.  Verificamos 54 professores com diagnóstico de J37.0 (laringite crônica) sendo que 18 destes apresentam também a classificação R 49.0 (Disfonia). Entre os pesquisados também encontramos 61 com a classificação J38 (doenças das cordas vocais e da laringe não classificadas em outra parte), assim subdivididas: seis professores com diagnóstico J38.0 (paralisia das cordas vocais e da laringe); um professor com diagnóstico J38.1 (pólipos das cordas vocais e da laringe); trinta e cinco professores coma classificação J38.2 (nódulos das cordas vocais); vinte professores com diagnóstico J38.3 (outras doenças das cordas vocais); e um professor com diagnóstico J38.4 (edema da laringe). Sobre o tempo em que se encontram de licença encontramos os seguintes resultados: 46% com ate 60 dias de licença; 27 % entre 61 dias a 120 dias; e 27% entre 121 a 180 dias. Neste grupo 107 professores tiveram suas licenças renovadas e 10 foram readaptados.

Após a análise dos resultados verificamos entre os servidores uma prolongação do tempo de licença saúde, ultrapassando a 180 dias. Percebemos ainda, considerável número de readaptações de funções, que acontecem sem processo de reabilitação, uma vez que o Estado do Ceará não dispõe de serviço especializado de reabilitação profissional para os servidores. É importante considerar a semelhança nos envolvidos, no que diz respeito ao diagnóstico ou associação de diagnósticos, com predominância das classificações disfonia, laringite e outras doenças das cordas vocais. Nesse sentido, a pesquisa nos mostra a necessidade de fornecer informações aos professores sobre a saúde vocal, a produção vocal e as interferências na qualidade de vida social e profissional, sendo este um trabalho preventivo. O estudo revela ainda a necessidade de melhoria das condições de trabalho e da construção urgente de modelos de promoção da saúde, que se tornem efetivos entre os professores da rede pública de ensino do Estado do Ceará, bem como do acompanhamento dos casos mais vulneráveis e do desenvolvimento de estratégias de reabilitação profissional.