61ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 2. Comunicação e Educação |
FALTA ÁGUA LÁ EM CASA: UM ESTUDO DE CASO COM MORADORAS DA ZONA LESTE DE MANAUS (AM) |
Ivânia Maria Carneiro Vieira 1 Antonio Lúcio Pinheiro 1 Liliane Cavalcante 1 Milton Cezar Almeida Viana 1 |
1. Universidade Federal do Amazonas |
INTRODUÇÃO: |
INTRODUÇÃO: Realizado três meses antes das eleições municipais do ano passado, esse estudo exploratório objetiva compreender como mulheres moradoras das zonas Leste e Norte de Manaus (AM), posicionam-se diante da falta de água nesses locais, de que forma essa realidade afeta o cotidiano dessas mulheres e qual relação elas fazem entre o problema e as eleições municipais. Ter acesso à água canalizada ainda é uma conquista a ser realizada para mais de 400 mil pessoas que nessas regiões. A falta de água na cidade é uma questão tão presente na vida das populações periféricas que, nos anos de 2006 e 2008, o tema aparecia como um dos três problemas que mais preocupavam os eleitores do lugar. Os outros foram segurança pública, em primeiro, e emprego, em terceiro, (Fundação Unisol /ACRÍTICA, agosto de 2006). As zonas Norte e Leste integram as cinco subdivisões territorial da cidade, com grande concentração populacional e onde o acesso à água em condições de consumo humano aparece nos levantamentos da Prefeitura de Manaus e da concessionária do serviço de abastecimento de água, a Águas do Amazonas, como o mais limitado. |
METODOLOGIA: |
O desenvolvimento desse estudo de caso se deu entre participantes, mulheres, das oficinas promovidas pelos projetos “As Marias Em Ação” e “Política É Educação”, do curso de Comunicação Social, dentro do Programa Atividade Curricular de Extensão (PACE), executado pela Pró-Reitoria de Extensão e Interiorização da Universidade Federal do Amazonas (Proexti/UFAM), no mês de julho de 2008, no bairro João Paulo II, Zona Leste de Manaus (AM). Durante as oficinas, a falta de água aparecia de forma recorrente na fala dos participantes. A atividade envolveu etapas de observação, entrevista semi-aberta e análise de conteúdo por meio da qual é feita a leitura crítica sobre as questões falta de água, perspectiva de gênero e eleições municipais. |
RESULTADOS: |
A falta de água para esse grupo de mulheres representa uma dificuldade a mais numa rotina de sobrevivência que envolve desemprego, famílias com renda mensal abaixo de dois salários mínimos, filhos pequenos, bairros sem infraestrutura, com elevado índice de violência, precariedade no sistema de transporte coletivo. A jornada de trabalho das mulheres é afetada porque elas têm que garantir, dentro de casa, a água para a realização de várias tarefas e administrar a forma de uso a fim de prolongar o estoque feito ora por compra de água, ora por doações de vizinhos transportadas, principalmente por mulheres e crianças, em latões ou garrafas do tipo PET, forjando jornada extra de serviço. A inacessibilidade à água canalizada é percebida por essas mulheres como razão de sofrimento de todo o núcleo familiar. Quanto à atuação do Parlamento Municipal, é compreendida por essas mulheres como desvinculada e descomprometida em relação aos problemas da comunidade, mas não estabelecem correspondência entre o problema que a falta de água representa e o mandato do vereador. A sondagem mostra a urbanização como sendo a ação mais desejada pelo grupo. Educação e esporte empatam com a implantação da rede de água quando se analisa as respostas para a questão ‘que ações você gostaria de ver implantadas em seu bairro’. |
CONCLUSÃO: |
O estudo demonstra uma posição de deslocamento de percepção no tripé perspectiva de gênero/falta de água/eleições municipais. A dimensão da violência pública provocada pela falta de água na vida dessas mulheres pode ser traduzida pela palavra sofrimento, não entendido como uma condição comum às mulheres das referidas zonas urbanas e sim a todos os que integram o núcleo familiar. Fatores com ano de eleições municipais, proximidade do dia de votar e a falta de água - apropriados pelos candidatos a vereadores e a prefeito da cidade - não são vinculados à situação dos bairros onde vivem essas mulheres. O pensamento expressado pelo conjunto de mulheres que integram a pesquisa caracteriza-se pela fragmentação do tripé proposto, negando a existência de elos entre as questões. A instalação do sistema de água é entendida como dever e responsabilidade do executivo enquanto do vereador o esperado por elas é que o parlamentar cumpra suas promessas de campanha e visite com mais freqüência os lugares onde espalhou suas promessas. |
Palavras-chave: Perspectiva de Gênero, Acesso à Água, Eleições Municipais. |