Estudar a composição química das águas de chuvas é de suma importância para o entendimento dos mecanismos de incorporação atmosférica de compostos de origem antropogênica, como SO₂, NOx, NH₃, NO₃, O₃, cátion metálico e material particulado. Pois, além de importantes controladores do pH das chuvas, desempenham fundamental papel nos ciclos biogeoquímicos, uma vez que a atmosfera participa da inserção de nutrientes essenciais à biota terrestre e aquática. Poluentes emitidos pela queima incompleta de motores de combustão e outras fontes interferem diretamente nas características da chuva, por isso a precipitação é um importante indicador da qualidade do ar de uma região. No município de Tefé, situado no centro do Estado do Amazonas as chuvas são abundantes durante todo o ano. Nessa região os principais meios de locomoção são: barcos devido a rica malha hidrográfica;  e motos, mais de mil moto taxistas. Além dessas fontes de poluentes atmosféricos há uma empresa termoelétrica de geração de energia e carvoarias, responsáveis pela emissão de material particulado. Este trabalho caracterizou a precipitação no Município, pela determinação de parâmetros físico-químicos, entre novembro de 2007 e novembro de 2008, além de avaliar a intensidade de radiação solar incidente visando fomentar a discussão de um programa de utilização dessa fonte de energia na região.

O monitoramento do pH da água de chuva foi realizado por meio de um sistema contínuo de amostragem entre novembro de 2007 e novembro de 2008, em três pontos do Município de Tefé: Centro, Empresa Termoelétrica e Carvoarias. Os amostradores da precipitação consistiram em frascos de polietileno, instalados nesses de amostragem. As análises de pH, condutividade e sólidos totais foram realizadas a cada evento chuvoso. As medições de pH foram realizados em um pHmetro potátil (modelo LTlutron pH-206), as de condutividade em condutivimetro portátil (modelo Conctuctivity Meter). As concentrações de sólidos totais foram obtidas a partir dos valores de condutividade. A intensidade de radiação solar incidente foi medida 3 vezes ao dia em dias alternados nos seguintes horários: 8, 12 e 17h, utilizando um radiômetro portátil.

O valor médio de pH para a água de chuva foi de 4,7 para os pontos TERMOELÉTRICA e CARVOARIAS e de 4,5 para o ponto CENTRO, registrando valores mais ácidos no período entre o final de fevereiro e início de maio que representa o início do período de enchente. Esses valores corroboram com estudos anteriores que indicam que na Amazônia os resultados de pH apresentam uma média em torno de 4,7. No entanto se desconhecem: a correlação do pH com as fontes poluentes locais, sazonalidade, a composição das substâncias poluentes e o seu impacto quantitativo e qualitativo na agricultura e na saúde. As médias de condutividade para os pontos TERMOELETRICA  CARVOARIA ficaram em torno de 21,5 µS e de 22,5 µS para CENTRO, sugerindo que a zona urbana apresenta maior impacto na qualidade do ar devido a grande concentração de motocicletas e a proximidade ao porto do Município. A concentração de sólidos totais dissolvidos foi maior no CENTRO da cidade, com média de 16,8 mg/L, e os demais mantiveram uma média próxima a 15,5 mg/L. No entanto, todos os teores encontrados são considerados baixos quando comparados com outras regiões urbanas estudadas. A média de intensidade de radiação incidente para os horários de 8, 12 e 17h foram de respectivamente 256, 2983 e 280 W/m², o que representou uma intensidade diária média de 1173 W/m², provando a grande necessidade de utilização dessa fonte como geração de energia.

A falta de estudos e parâmetros ainda é um problema para compreender a região do médio Solimões e seu complexo ciclo de chuvas. Este trabalho pioneiro  monitorou os parâmetros ao longo de um ano, avaliando todo o ciclo hidrológico da região: enchente, cheia, vazante e seca. Os resultados obtidos permitiram  correlacionar as características da água de chuva e a sazonalidade no Município de Tefé-AM, além quantificar a energia solar incidente e destacar a capacidade de utilização dessa como uma fonte alternativa de energia, na região do Médio Solimões que compõe parte importante do Corredor Central da Amazônia – CCA.