61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO NA REGIÃO DO ALTO MADEIRA
Vinícius Eduardo Honorato de Oliveira 1
Bruna Cigaran da Rocha 1
Renato Kipnis 1
Eduardo Góes Neves 1
1. Scientia Consultoria Científica
INTRODUÇÃO:

A região do alto rio Madeira é tema de uma série de debates acerca de questões arqueológicas, paleoclimáticas, paleoecológicas dentre outras que vão desde o local donde os povos falantes de línguas do tronco Tupi iniciaram sua dispersão até a busca da origem da domesticação de espécies vegetais como a pupunha (Bactris gasipaes) e a mandioca (Manihot esculenta). Tais questões passam por outras discussões sobre o avanço e recuo do bioma amazônico e do cerrado durante o Holoceno e a existência de refúgios florestais.

 

Quanto à ocupação humana pretérita, os dados obtidos por Eurico Miller no alto Madeira apontam para uma longa seqüência ininterrupta que teria início há cerca de 9.000 anos antes do presente. Essa seqüência destoa das informações obtidas em pesquisas em outras regiões da Amazônia nas quais, salvo algumas exceções, há poucos indicativos da presença humana durante o Holoceno médio, ou seja, apontam para uma descontinuidade da ocupação. Contudo não se pode descartar a hipótese de que tais informações estão fortemente influenciadas pela amostra obtida até os dias atuais.

 

Os dados apresentados foram obtidos durante os trabalhos de licenciamento da UHE Santo Antônio no ano de 2008. Baseiam-se nos trabalhos de campo e na bibliografia disponível para a região.

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos adotados nesse levantamento arqueológico consistem em prospecção sistemática, levantamento oportunístico, e visita a sítios arqueológicos já identificados por pesquisas anteriores.

 

A prospecção da área diretamente afetada (ADA) pelo canteiro de obras da UHE Santo Antônio (ca. 2.000 hectares) foi feita através de um desenho amostral baseado em transects lineares na direção norte-sul ou leste-oeste, distantes 100 metros um do outro para prospecção visual da superfície; e furos testes segundo uma malha geométrica regular com espaçamento sistemático de 100 metros para prospecção de sub-superfície. Além das prospecções sistemáticas, observações oportunísticas como raízes tombadas, barranco de rios, áreas de erosão, situações essas que expõe naturalmente sedimento enterrado e potencialmente podem apresentar material arqueológico que estava enterrado foram realizadas; além de entrevistas com moradores locais sobre a presença de material arqueológico na região.

RESULTADOS:

Seis sítios arqueológicos foram identificados na margem esquerda, um na margem direita e um na Ilha Santo Antônio. Todos os oitos sítios foram delimitados e escavados com as questões acima em mente. Freqüentemente situados em terraços fluviais, alguns dos sítios tinham contato visual com outros.

 

A presença de terra preta de índio (TPI) em vários sítios denota ocupações sedentárias contínuas. Alterações da paisagem na forma de montículos artificiais foram averiguadas em dois sítios. Uma grande variabilidade cerâmica, incluindo peças com decoração policroma, com incisões, ponteados, acanalados, engobo vermelho, dentre outros, sugerem diversas influências cultuais e diferentes modos de fabricação. Fragmentos líticos lascados encontrados junto com a cerâmica mostram que essas tecnololgias distintas eram utilizadas ao mesmo tempo. Dois sítios multi-componenciais foram identificados, com uma ocupação associada à sociedade ceramista nos níveis mais superficiais, e sociedades pré-cerâmistas, evidenciadas por artefatos líticos e ausência de material cerâmico, em níveis mais profundos sugerindo ocupações com maior antiguidade. No único sítio localizado na margem direita o processo de sedimentação do rio mostrou-se muito intenso, isso se refletiu na presença de vestígios cerâmicos em grande profundidade (5m).

 

A presença de amoladores-polidores sobre rochas ao longo do trecho do rio pesquisado demonstram o desenvolvimento de tecnologias especializadas.

CONCLUSÃO:

Os resultados obtidos pelo levantamento arqueológico demonstram que a região foi habitada no passado por diferentes sociedades indígenas. Populações com economias distintas como pesca, caça e coleta, e agricultura ocuparam os mesmos lugares em épocas distintas. A área foi durante certo período densamente ocupada, fato que se reflete nos sítios que apresentaram espessos pacotes de terra preta e alta densidade de fragmentos cerâmicos

 

Tais elementos convergem com os trabalhos de Eurico Miller, que apontam a região como chave para contribuir com questões acerca da antiguidade da ocupação da Amazônia, para o início da domesticação de espécies vegetais até hoje economicamente importantes, e para o florescer de uma economia agricultora.

Palavras-chave: Levantamento arqueológico no Alto Madeira, prospecção e escavação arqueológica, vestígios cerâmicos e líticos.