61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
ESPAÇO RIBEIRINHO: O AUTOCONCEITO DE ADOLESCENTES DA VÁRZEA DE MANACAPURU/AMAZONAS-BRASIL
Socorro de Fátima Moraes Nina 1, 3
Ane Louise Marques Michetti 2
1. Programa Integrado de Recursos Aquáticos e da Várzea/UFAM
2. Faculdade Martha Falção
3. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
O adolescente apresenta importantes mudanças em conjunto com o desenvolvimento físico interno e externo, ocorrendo modificações no contexto social. Com todas as modificações, esse momento faz-se impar e os adolescentes precisam de maior apoio e compreensão. Os problemas próprios da idade e as inquietações presentes no labirinto de mudanças em que se configura essa fase da vida não podem ser ignorados. Adolescer em ambiente de Várzea pode suscitar questionamentos sobre autoconceito, oportunidades, e sustentabilidade na Amazônia, são preocupações indissociáveis e, exige pensar, nas condições sócio-ambientais que muitas vezes são de extrema carência. Logo, para compreensão do processo do desenvolvimento humano, torna-se imprescindível o recurso do autoconceito que pode ser compreendido, segundo Sisto e Martinelli (2004) como o conhecimento que o próprio sujeito desenvolve sobre si, o que inclui o conhecimento de aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais, também sendo definido como um fator gerado por meio da interação que ocorre entre o indivíduo e seu meio ambiente, ou seja, um conjunto de várias jeitos do eu e única de cada pessoa. Neste sentido, sob a lente da cultura, podemos observar inúmeras marcas nos corpos-sujeitos que expressam uma história acumulada de uma sociedade, que em um exercício dinâmico. O trabalho aqui proposto tem como objetivo apresentar autoconceito do adolescente em seu processo de adolescer e influenciadas por sua realidade local.
METODOLOGIA:
A pesquisa do tipo qualitativa, avaliou adolescentes com faixa etária entre 13 a 18 anos, domiciliados em seis comunidades localizadas na Costa do Canabuoca e Costa do Marecão, no município de Manacapuru-AM. Para avaliar o autoconceito dos adolescentes foi utilizada a Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ), de Sisto e Martinelli (2004). Partiu-se do pressuposto de que o autoconceito é um construto multidimensional, no sentido de que há vários elementos importantes que o compõem. A EAC-IJ teve sua validade atestada por meio da análise fatorial, tendo sido composta, ao final, por vinte itens, que foram distribuídos entre quatro contextos, familiar, social, escolar e pessoal. A aplicação da escala foi coletiva e ocorreu em apenas um encontro e para cada item da escala, o adolescente teve três alternativas: responder como ele se comporta, o que sente e o que pensa. As opções de respostas variam em sempre, às vezes ou nunca. Para interpretação das respostas, quanto maior a pontuação melhor é a condição do autoconceito do sujeito e vice versa.
RESULTADOS:
De acordo com os dados obtidos na avaliação do autoconceito com a escala EAC-IJ, foi possível observar que os adolescentes do gênero feminino obtiveram uma média de 50% no autoconceito pessoal e 25% autoconceito social. Quanto ao gênero masculino obtiveram mais de 75% no autoconceito pessoal e 75% autoconceito social. Os resultados apontam uma possível insegurança quanto ao modo de agir, indicando ansiedades, preocupações e medos, e do gênero masculino se avaliaram mais positivamente indicando, segurança quanto suas decisões e facilidade para enfrentar problemas. Ressalta-se que na área de estudo as mulheres-adolescentes por muito transitam da fase de criança para a fase adulta no que concerne a compromisso e responsabilidade, como atividades cotidiana no cuidado “de dentro da casa” como cozinhar, lavar roupas, cuidar dos irmãos mais novos, enquanto que os homens fazem os serviços “de fora da casa”, como o cultivo da roça e pesca. A divisão das tarefas pode suscitar significações desse espaço ribeirinho. As próprias marcas do desenvolvimento do corpo-sujeito devem ser compreendidas de maneira associada ao lugar e aos eventos que articulados a adolescência dão a cor e o tom da paisagem local. Nas avaliações do autoconceito escolar e do familiar os adolescentes, tanto do gênero feminino como no masculino na sua maioria (61,54%) apresentaram médias de 75%, indicando uma aceitação dos seus colegas quanto ao reconhecimento de sua capacidade criativa, potencialidades de liderança e o manejo com dificuldades característicos do lugar, outro aspecto é a importância do cotidiano da família na várzea, onde as tarefas são divididas com igual responsabilidade, a prática coletiva constrói auto-estima, sentimentos e condutas positivas em relação à família. Portanto, possibilidades não só de aprendizagem, mas de construção de relações sociais de pertencer aquele lugar, sua condição de ser social.
CONCLUSÃO:
A adolescência é criada historicamente pelo homem, enquanto representação e enquanto fato social e psicológico. São marcas corporais, que trazem habilidades e capacidades de lidar com situações novas. É constituído com significado na cultura, na linguagem que permeia as relações sociais. O papel destinado aos adolescentes e assumido por eles influenciam reações e interações desses com o ambiente, onde o apoio social é um dos pilares que pode possibilitar estratégias de superação e resiliência no cotidiano de várzea. A medida de autoconceito pessoal, social, escolar e familiar, possibilitou conhecer como os adolescentes que residem na Amazônia, se autopercebem: existe uma positiva representação de si, acreditando em sua competência e no seu valor, assim como na sua capacidade de lidar com os desafios e possuem afetos positivos com relação a seus amigos e sua família. Ressalta-se que as entrevistas semi estruturadas, as oficinas lúdicas, articulada às respostas da EAC-IJ foram fundamentais para a observação in loco do cenário desses adolescentes, possibilitando conhecer as diversas formas de subjetivação da vida social, constituídas na história diferenciada de seus protagonistas.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas/FAPEAM
Palavras-chave: Autoconceito, Adolescentes, Amazônia.