61ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia |
FOLCLORE E BRASIL REGIONAL: MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO E GILBERTO FREYRE. |
Charles Maciel Falcão 1 |
1. Universidade Federal do Amazonas / UFAM |
INTRODUÇÃO: |
O debate acerca da identidade e da cultura brasileira esteve presente na própria formação das ciências sociais no Brasil. Na primeira metade do século XIX, a temática é pensada no plano literário, com a ideologia nativista do Romantismo. Em fins deste século, interpretações deterministas embasadas em teorias de cunho evolucionista dominam a cena. No início do século XX, a situação não muda e o arcabouço teórico do século XIX contribui para a idéia de um Estado centralizador e organizador da cultura rumo à civilização. A partir de 1930, Gilberto Freyre propõe uma postura metodológica diferenciada, valorizando as regiões e possibilitando a emergência de um pensamento social regionalizado. Na Amazônia, os trabalhos sobre folclore de Mário Ypiranga Monteiro permitem a construção de um discurso criador da região fundado na retomada de especificidades que atuam como contributo para a idéia gilbertiana de Brasil que, por sua vez, fundamenta as atividades da Comissão Nacional de Folclore (CNFL) a partir de 1940, quando esta encampa um movimento de resgate e valorização do folclore congregando intelectuais radicados nas diferentes regiões ou províncias que por confronto-associação integram o cenário da identidade nacional na perspectiva de um Brasil multifacetado regional e culturalmente. |
METODOLOGIA: |
Eminentemente bibliográfico, o trabalho partiu do levantamento de obras que permitissem uma visão geral acerca dos itinerários do pensamento social brasileiro no que tange a temática da identidade e da cultura nacional e regional. O passo seguinte foi marcado pela releitura das obras de Gilberto Freyre localizadas na década de 1930, em que o autor propõe uma identidade contextualizada no tempo e no espaço e representada pela gama multifacetada de regiões culturais que compõem o Brasil. A valorização das regiões enquanto repositório das tradições brasileiras permite com que uma gama de intelectuais deslocados dos grandes centros de produção do pensamento social brasileiro dêem vazão para um conjunto de representações das diferentes regiões do país. Mário Ypiranga Monteiro é um destes intelectuais. Seus estudos sobre o folclore regional e sua participação no movimento encampado pela CNFL a partir da década de 1940, são representativos dessa retomada da regionalidade e a análise de suas obras entre as décadas de 1940-1950, foi de fundamental importância para uma compreensão ampliada da relação de confronto-associação entre o conjunto de representações sobre a região amazônica que emerge de seus trabalhos e a perspectiva gilbertiana de Brasil regional no bojo do movimento folclórico. |
RESULTADOS: |
A perspectiva de compreensão do Brasil a partir do conjunto de regiões culturais guardiãs da tradição genuinamente brasileira, proposta por Gilberto Freyre a partir da década de 1930, acaba por fundamentar a posição da CNFL acerca da necessidade do resgate e valorização dos aspectos relativos ao folclore nas diversas regiões brasileiras. Participando ativamente desse projeto que teve como marca fundamental o esforço por congregar intelectuais das diversas regiões do país no sentido de valorizar e resgatar o folclore, Mário Ypiranga Monteiro se insere no campo de produção do pensamento social brasileiro com um discurso criador da região amazônica legitimado pela sua participação em instâncias de consagração e de legitimação representadas pelo Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e a Academia Amazonense de Letras. No cenário de possibilidades aberto pelo movimento folclórico a partir da década de 1940, Mário Ypiranga forja um conjunto de representações que “inventam” a região enquanto um cenário não apenas natural, mas social e cultural, participante do conjunto abrangente da identidade e da cultura nacional. |
CONCLUSÃO: |
No contexto da década de 1930, o conjunto das representações que dão corpo ao cenário do pensamento social brasileiro encontra-se fortemente estruturado a partir das experiências pioneiras de criação e institucionalização das ciências sociais representadas pela realidade de São Paulo e Rio de Janeiro. Fora deste contexto, é praticamente impossível se pensar numa produção intelectual “reconhecida” uma vez que não atende aos cânones acadêmicos de legitimação. Atuando como “lugares de fala”, os Institutos Históricos e as Academias de Letras espalhadas por todo o país, são as instâncias de reconhecimento e legitimação dos discursos e produções desconectados geograficamente dos grandes centros do sudeste. No bojo do espaço aberto pelo movimento folclórico, cuja fundamentação está na proposta gilbertiana de Brasil regional, Mário Ypiranga Monteiro lança mão de uma estratégia que lhe proporciona ganhos intelectuais na medida em que elege um conjunto de elementos representativos da região amazônica ou que permitem visibilidade para o que há de específico na região. O esforço por congregar “intelectuais de província”, empreendido pela CNFL, é a oportunidade para que um autor nativo da Amazônia possa ingressar no campo de produção simbólica que se expande a partir deste contexto. |
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas |
Palavras-chave: Folclore, Pensamento Social, Identidade Nacional. |