61ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

Das Redes de Pesca ao Mercado da Pesca em Rede: estrutura de mercado dos bagres migradores no Amazonas

André de Oliveira Moraes 1, 2 José Antônio Alves-Gomes 1 Tatiana Schor 2

1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA 2. Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira - NEPECAB/UFAM

INTRODUÇÃO:

A pesca é uma atividade intrínseca da população ribeirinha amazônica cuja dieta sempre contou com o peixe como item principal. Como elemento da cesta básica regionalizada este se apresentou passível de maior aprofundamento, pelos muitos fatores que determinam sua forma de mercadoria. Embora se estime que a bacia amazônica possua a maior diversidade de peixes do planeta (2.300 espécies descritas e com estimativas de que haja em torno de 5.000 no total) apenas 6 a 12 espécies representam 80% do desembarque nos principais portos da Amazônia Brasileira. Tal dado alerta acerca da a necessidade de conservação considerando a importante função do peixe na segurança alimentar da população e como mercadoria de uma rede de comercialização que garante renda para os ribeirinhos. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi estabelecer a rede urbana das cidades que compõem a calha do Rio Solimões entre Tabatinga e Tefé a partir da estrutura de mercado da mercadoria-peixe, principalmente bagres.

METODOLOGIA:

Para tanto, realizaram-se pesquisas de campo nas cidades de Tabatinga, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá em setembro de 2007 e Tefé em março de 2008 para coleta de dados de preço e fluxo do peixe na rede, sendo que as demais cidades (Tonantins, Jutaí, Fonte Boa, Uarini e Alvarães) já possuem dados de pesquisas anteriores no âmbito do Programa de Estudos da Rede Urbana da Calha Solimões e Amazonas coordenado pelo NEPECAB e do “Projeto PIRADA: genética, manejo e conservação dos grandes bagres migradores na Amazônia” coordenado pelo LFCE/INPA. Nestas cidades foram visitados frigoríficos, mercados municipais e associações de pescadores além de entrevistas com os agentes da cadeia produtiva para estabelecer a estrutura de mercado e a rede urbana da pesca no Alto e Médio Solimões. Nas entrevistas, foram coletados dados de destinação da produção, preço e forma de transporte para traçar o trajeto que a mercadoria peixe faz da pesca ao seu consumidor final.

RESULTADOS:

Comercialmente, foram identificados três tipos de peixes que compõem a tipologia comercial: os bagres (dourada, piramutaba e piraíba) que possuem lógica de mercado internacional; os peixes de escama nobres (pirarucu, tambaqui e matrinxã) com mercado regional; e os peixes de escama populares (jaraqui, curimatã e o pacu) com mercado predominantemente local. Os pescadores artesanais de bagres são financiados com gelo, combustível e rancho pelos frigoríficos, sendo o pagamento realizado com peixe, caracterizando certa dependência nas relações de trabalho. As cidades que compõem a rede urbana da comercialização dos bagres apresentam funções diferenciadas. Tefé exerce uma função logística pela capacidade de armazenamento; São Paulo de Olivença concentra a importância relativa ao transporte da mercadoria-peixe. Tabatinga tem função pautada no âmbito dos processos alfandegários, por ser uma cidade de fronteira. A alteração do preço dos bagres com a sazonalidade do Rio Solimões reorganiza a rede de comercialização dos peixes. A destinação prioritária da produção de bagres é Letícia na Colômbia para as cidades do Alto Solimões, mas com a Frigopesca, empresa brasileira com sede em Manacapuru, está se lançando nesse mercado no Solimões, principalmente sendo que tal quadro reorienta a cadeia produtiva no Estado.

CONCLUSÃO:

Mesmo com os dados de desembarque escassos, é possível analisar a comercialização dos bagres e estabelecer a rede urbana qualitativamente utilizando-se dos dados existentes. A estrutura de mercado se diferencia de acordo com a tipologia comercial de peixes, sendo que esta influencia diretamente na rede urbana da comercialização de bagres. A reorientação do mercado de Letícia para Manacapuru tem inúmeras implicações o que requer mais atenção a esse novo cenário que se desenha. A tipologia proposta apresentou-se como uma importante forma de distinguir, comercialmente, os peixes caracterizando-se como uma estratégia para políticas públicas no setor pesqueiro tanto de conservação quanto de renda e segurança alimentar para os ribeirinhos.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM.

Palavras-chave: bagres, rede urbana, pesca na amazônia.