61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde
REFLEXOS E REFLEXÕES SOBRE FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL: UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS ATUAIS DE REINSERÇÃO SÓCIO-FAMILIAR DO CIDADÃO PORTADOR DE SOFRIMENTO MENTAL.
Ronaldo Alves Duarte 1
1. Faculdade Divinópolis - FACED/MG
INTRODUÇÃO:

Nas políticas públicas brasileiras contemporâneas que objetivam a reinserção social do cidadão portador de sofrimento mental (ou seja, do antigo “sujeito louco”), a família tem sido apontada como um agente essencial para o alcance dos resultados desejados. No entanto, ao mesmo tempo, essa instituição vem sendo acusada de negligências de toda ordem, quando da constatação do baixo alcance de resultados positivos pelas ações públicas realizadas no setor. Problematizando o paradoxo anteriormente mencionado, o presente trabalho teve por objetivo identificar que fatores contribuiriam para influenciar no tipo de resposta que a família do portador de sofrimento mental daria à proposta de assistência psicossocial oferecida ao cidadão portador de sofrimento mental usuário dos serviços prestados por uma instituição pública situada no município de Divinópolis, Minas Gerais. Tratou-se (e trata-se), portanto, de um trabalho relevante não só pela necessidade sabida de estudos sobre o tema em tempos de materialização da Reforma Psiquiátrica no Brasil, mas também pela contribuição que o mesmo poderia trazer para a realização de uma reflexão por parte dos sujeitos responsáveis por projetos de ressignificação do sujeito louco na sociedade contemporânea.

METODOLOGIA:

Sendo uma pesquisa de natureza qualitativa, a investigação então empreendida buscou atingir o seu objetivo a partir de uma análise de um corpo discursivo composto por discursos coletados junto a diferentes sujeitos envolvidos no processo de reinserção social de cidadãos portadores de sofrimento mental almejado pelo Serviço de Referência em Saúde Mental – SERSAM – do já citado município mineiro. Para tanto, foram entrevistados não só familiares legalmente responsáveis por parentes portadores de sofrimento mental, mas também funcionários da instituição em causa (como médicos, enfermeiros, assistente sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros), e, principalmente, os próprios sujeitos portadores de sofrimento mental. Realizadas em locais escolhidos pelos sujeitos inquiridos, as entrevistas em causa foram gravadas em dispositivo eletrônico e depois transcritas para realização de uma posterior análise de dados, a qual, por sua vez, levou em consideração a concepção foucaultiana de análise de discursos, isto é, buscou analisar os discursos na sua superfície e não aquilo que ocultavam (FOUCAULT, 1995, 1996).

RESULTADOS:

Um primeiro aspecto significado pela análise realizada, e que chamou a atenção, foi a inexistência, por parte dos familiares ouvidos, de resistências à inclusão da família no tratamento do portador de sofrimento mental oferecido pela instituição em causa. Apesar disso, tanto os familiares quanto os sujeitos portadores de sofrimento mental alegaram que a resposta positiva ou negativa ao trabalho realizado pelo grupo familiar estava relacionada a fatores de ordem financeira, mas, sobretudo aos de ordem social. Dentre esses, um que interferiria de forma significativa para a resposta da família à proposta de assistência psicossocial oferecida ao ente portador de sofrimento mental era o estigma negativo a que era submetido não só o portador de sofrimento mental, mas também dos membros da família. Um outro aspecto relevante entre os constados pelo trabalho realizado, foi o de que, por parte dos funcionários ouvidos, alguns reconheceram as limitações do trabalho feito junto às famílias, apesar de conseguirem vislumbrar alguns pontos positivos em algumas ações realizadas.

CONCLUSÃO:

Extrapolando as expectativas iniciais quanto aos resultados obtidos, essa pesquisa permitiu, portanto, a constatação da necessidade de mais estudos que se detenham sobre a questão da família do portador de sofrimento mental, bem como sobre as ações que as políticas públicas de reinserção social do sujeito louco vêm propondo no Brasil, sobretudo sob a perspectiva de efetivação de uma Reforma Psiquiátrica no país. Compreender melhor os múltiplos arranjos familiares em que se inserem os portadores de sofrimento mental e pensar em formas mais efetivas de ressignificação da própria família junto à sociedade e junto aos profissionais que atuam nos serviços de referência em saúde mental parecem ser os caminhos a seguir, os quais são apontados pelo trabalho aqui empreendido.

Palavras-chave: família, portador de sofrimento mental, políticas públicas de reinserção sócio-familiar.