H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
RELIGIÃO E RESISTÊNCIA NO DISCURSO PÓS-COLONIAL
Silvio Ruiz PARADISO1 Leoné Astride BARZOTTO2
1. Centro Universitário de Maringá - CESUMAR 2. Prof. Dra. - CESUMAR - Orientadora
INTRODUÇÃO:A religião é considerada a maior e mais importante de todas as instituições, pois “é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais específicos” (SILVA & KARNAL, 2002, p. 19). Se a religião e todo seu corpus se moldam a fim de estabelecer uma conexão eficaz com cada sociedade, seus fins também se moldam ora pra atacar, invadir, justificar a colonização, converter ora resistir e revidar com super-poderes, maldição, praga, profecias etc. Toda prática religiosa nos países inseridos no contexto (pós)colonial torna-se uma fé provedora de força e resistência contra a força hegemônica Européia. Assim, a religião no contexto pós-colonial não serve apenas para consolidar a cultura do povo retratado, ou enfatizar determinados fatos, mas antes de tudo a religião e todas suas manifestações servem para o colonizado/subalterno como mais um elemento de defesa no espaço hostil da colonização. Novinsky (1972, p.5) sintetiza bem a idéia de religião na esfera de anticonquista colonial afinal, nas palavras da autora “A religião é o pretexto para a luta [...]”. Focar-se-á a imagem do faquir em The Fakir’s Island de Alice Perrin; o escravo Jim, de Adventures of Huckleberry Finn, de Mark Twain; e Calibã de The Tempest, de Shakespeare. Fomentaremos uma breve análise de como estes três personagens utilizam da forma invisível da religiosidade para contra-atacar, resistir e subverter o discurso hegemônico.METODOLOGIA:Para que a pesquisa cumprisse sua proposta, os métodos de procedimento foram histórico e o comparativo, enquanto o caráter descritivo/analítico. Houve a descrição das teorias propostas juntamente com as narrativas em questão.RESULTADOS:FAKIR - THE FAKIR’S ISLAND, DE ALICE PERRIN - No conto de Alice Perrin, o único meio de resistência do colonizado, personificado na imagem do faquir, é sua crença e a capacidade de manipulá-la através do discurso. Este utiliza as palavras e seu poder dado pela posição hierárquica dentro da sociedade hindu para amaldiçoar os colonizadores ingleses que ali estavam, hostilizando a população local. O poder visível (bélico, arquitetônico, legislativo) é ameaçado pelo poder invisível (maldição). O Faquir amaldiçoa Mona (a protagonista – representante dos colonizadores) e sua ideologia, pois é a única arma que ele possui para delimitar “fronteiras” entre o ritual religioso e o campo de colonização, produzindo assim na “invasora”, conseqüências culturais e religiosas: The crowd of beggars gathered round, whining, cringing, crawling; stretching out claw-like hands and fingerless stumps towards the English people […]Keer raised his cane and struck the begging bowl from the fakir’s hand […] The old priest’s tawny eyes blazed with rage. […] then he cursed them loudly and venomously –‘and thou’, he concluded, glaring at Mona’s white face, ‘before ten suns have set thy beauty will be gone- thou wilt be as those’ (PERRIN,2004, p.289) - JIM – THE ADVENTURES OF HUCKLEBERRY FINN, DE MARK TWAIN - Jim, personagem de Twain, é adepto ao voduismo, uma marca estereotipada dos escravos haitianos de Nova Orleans. Sua familiaridade ao culto ancestral é observada nestes trechos: “ ‘Doan’ hurt me - don’t .I hain’t ever done no harm to ghos’. I awluz liked dead people, en done all I could for ‘em’” (TWAIN, 1994 ,p.48) “Miss Watson’s nigger, Jim, had a hair-ball as big as your fist, which had been took out of the fourth stomach of an ox, and he used to do magic with it. He said there was a spirit inside of it, and it knowed everything. (idem, p.25) . Jim resistia aos escravagistas por ter o poder de onisciência, naquele momento ele fabricava o outro.Esse conhecimento religioso de Jim dá a ele um meio de resistir e sobreviver ao espaço hostil colonial. Huck e Tom, ambos brancos respeitam em Jim a figura não de um escravo fugido, mas um conhecedor das artes mágicas: “Jim said he reckoned I’d belive him next time” (idem, p. 59) Jim incita Huck a crer que ele apesar de escravo negro deve ser respeitado pelos seus conhecimentos. - CALIBÃ – THE TEMPEST, DE WILLIAM SHAKESPEARE. - É a “caricatura” do colonizado, enquanto a figura disforme, selvagem e altamente subversiva de Calibã, último filho de uma bruxa, que acaba descobrindo em determinado momento que diferente como nos remete Spivak (1997, p.129) o subalterno tem voz sim! Calibã representa o rebelde, desconcertando a norma criada pelo seu “dono”. Próspero usa a linguagem para dominar o escravo, Calibã a utiliza para amaldiçoar: “Calibã, portanto, conhecendo e usando a língua européia, investe contra ela porque ela é o signo da dominação e da expropriação” (BONNICI, 2000, p.64) A partir do ato I cena 2, Calibã recupera a voz e ridiculariza Próspero de 3 formas: revelando a hipocrisia do colonizador; rompendo a identidade de subalterno e ironizando a proposta de ensino da língua inglesa, amaldiçoando Próspero: “You taught me language, and my profit on t / Is I know how to curse. The red plague rid you / For learning me your language!” (SHAKESPEARE, 1964, p.340).CONCLUSÕES:No ambiente colonial a religiosidade e todos seus resultados e manifestações místicas, como transe, o vodu, a maldição, a praga, a benção etc., são artifícios de inversão de papéis, no qual pelo ato de praticar a magia (Jim), praguejar (Fakir) ou amaldiçoar (Calibã) o outro, faz de seu dominador (branco/colonizador) um também outro. Pois, seus deuses, poderes, e discurso mágico trazem a tona um poder superior ao do opressor, fazendo-os (os colonizadores/brancos) inferiores, por desconhecerem o invisível, ou estarem em lados opostos no campo religioso, como é o caso de Próspero. Logo, a religião permeia a literatura colonial para proteger o colonizado de uma situação e ambientes hostis, criando um artifício, uma estratégia em que a fé torna-se arma. No momento em que a religiosidade e suas manifestações acontecem, o outro que se vale disto, torna-se Outro, pois a outremização se inverte. O poder místico do oprimido lhe dá condições de por um instante crer na sua superioridade em manipular as forças sobrenaturais contra a sevícia do imperialismo e seus opressores.
Instituição de fomento: CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: pós-colonialismo, religião, resistência
E-mail para contato: silvinhoparadiso@hotmail.com
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