G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
JOVENS, DROGAS E PRECONCEITO DO BAIRRO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
FABRICIANA DANTAS MORAES1 GUILHERME GITAHY DE FIGUEIREDO1
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA/CEST
INTRODUÇÃO:Conhecer a realidade de um pequeno grupo de jovens através de seus próprios discursos, representa uma contribuição relevante para o entendimento da situação social da juventude brasileira. O objetivo da pesquisa é interpretar a visão dos jovens sobre seus problemas, a maneira de lidar com eles, bem como as suas expectativas e suas propostas de melhoria ou solução. A pesquisa é realizada no bairro Nossa Senhora de Fátima na cidade de Tefé (AM), um bairro de periferia urbana, marcado por graves problemas socioeconômicos (pobreza e a criminalidade) e por fortes laços de solidariedade. É considerado pelo povo tefeense como berço de marginalização. A grande fama de marginalização jovem e da pobreza do bairro foram os aspectos que motivaram a realização desta pesquisa no local, tendo em vista a importância da compreensão da visão que os entrevistados têm de sua própria realidade e a possibilidade de poder contribuir com a amenização do preconceito existente em relação à juventude de locais menos favorecidos. No presente trabalho, o foco é na questão das drogas.METODOLOGIA:Como método utilizou-se a pesquisa etnográfica e histórias de vida. O método de história de vida valoriza o papel do “informante”, pois este passa a ser considerado um legítimo intérprete e analista de sua própria história que, junto com o pesquisador, reflete sobre o enfrentamento dos problemas que aparecem nessa história, permitindo que participem como interlocutores ativos, na produção do conhecimento sobre os problemas que vivem. A etnografia permite registrar minuciosamente os aspectos sociais e culturais, a partir de encontros e observações, buscando compreender (interpretar) o significado que as práticas observadas possuem para os seus sujeitos. Foi feita a etnografia sobre o contexto em que os jovens estão inseridos, mediante observações e conversas informais, registradas em caderno de campo. Também foi feita a coleta de seis histórias de vida, através de conversas e entrevistas, registradas em áudio. Foram criadas categorias para a análise dos problemas encontrados (bem como as maneiras de lidar com eles e expectativas), dentre as quais abordaremos, aqui, o “uso de drogas”.RESULTADOS:Entre as narrativas, há aquelas dos não usuários e as dos usuários de drogas. Nas primeiras, aparece a visão das drogas enquanto representação do perigo: por ser acessível, por ser uma ferramenta excitante para atos violentos, e pelo poder de tornar o usuário alvo do preconceito. Para lidar com esta situação, os não usuários afirmam que seguem “os bons conselhos” dos pais, parentes, e amigos. Alguns jovens acreditam que o problema seria reduzido com maior policiamento e a presença do conselho tutelar no local. É valido ressaltar que os não usuários mantêm amizades com usuários sem preconceito algum, afirmando: “é noiado, mas que é gente boa”.
A visão do usuário é que a droga não é problema. Eles entendem que são guardiões do bairro, e que protegem dos “gaiatos que vêm querer bagunçar”, e afirmam que “a violência do bairro é só fama”, pois não causam mal aos moradores. O que eles consideram “problema” é o preconceito que os tefeenses têm sobre o bairro, reclamando que os “xingam de galeroso”, “cheira-cola”, “pé-inchado”. Eles lidam com este problema evitando o relacionamento com os de fora do bairro: dizem que as pessoas do bairro são legais e não ligam se eles usam drogas ou não.
CONCLUSÕES:As drogas são consideradas “problema” para aqueles que conservaram os ensinamentos dados pela família desde a infância. Nas narrativas, percebeu-se que desde cedo os pais ensinam os filhos a se manterem distantes do que consideram perigo: drogas, prostituição, maus namorados, etc. Após o contato com a escola, aprendem os “mals” que a droga causa à saúde e à imagem do indivíduo usuário, o que leva a pensarem que a droga é um grande problema. Como a discriminação atinge todo o bairro, podemos aventar a hipótese de que um agravante para este “problema” é que, embora não sendo usuários, estes jovens recebem a mesma discriminação sofrida pelos moradores usuários.
Os jovens que usam drogas receberam ensinamentos parecidos com os ensinamentos que os não usuários receberam. Entretanto, escolheram usar drogas por algum motivo. Os motivos podem estar tanto relacionados com outros problemas (falta de emprego, briga com os pais, discriminação, falta de lazer, etc) para os quais a droga é uma solução que traz conforto e “tranqüilidade”, quanto pela busca de uma forma peculiar de distinção social: em seu grupo acham “maneiro ser noiado”. Quanto à discriminação que sofrem, sobretudo da parte dos que estão fora do bairro, lidam com isso evitando o contato com eles e colocando-se como guardiões que fazem a defesa do bairro. As drogas é uma trincheira que ajuda a formar um grupo de autodefesa frente aos problemas, cujos responsáveis estão entre seus parentes e vizinhos e, sobretudo, entre os de fora.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas-FAPEAM
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: Jovens, Drogas, Preconceito
E-mail para contato: fabricianadantas@yahoo.com.br
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