60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 7. Fonoaudiologia - 1. Fonoaudiologia

O INTERPRETE DE LINGUA DE SINAIS NO CONTEXTO DA ESCOLA INCLUSIVA: FOCALIZANDO SUA ATUAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Bruna Mendes Bernardino1
Cristina Broglia Feitosa de Lacerda1, 2

1. UNIMEP
2. Profa. Dra.


INTRODUÇÃO:
O intérprete de língua de sinais é uma figura pouco conhecida no âmbito acadêmico. Existem poucos estudos no Brasil e no cenário mundial, tanto no que diz respeito ao intérprete de uma forma geral, quanto ao intérprete educacional especificamente. As comunidades surdas têm desenvolvido línguas de sinais que possibilitam sua comunicação e desenvolvimento, todavia estas línguas nem sempre são respeitadas ou incorporadas pelas comunidades ouvintes. Uma proposta atual, que visa atender a condição lingüística especial dos surdos, é a inclusão de crianças surdas em classes do ensino regular juntamente com a inserção do intérprete de língua de sinais, visando o acesso dessas crianças aos conhecimentos trabalhados em uma língua mais adequada às suas necessidades, buscando criar um ambiente inclusivo bilíngüe. Assim, este estudo pretende conhecer mais detalhadamente o trabalho de intérpretes de língua de sinais que atuam no ensino fundamental, proporcionando aos alunos surdos acesso aos conteúdos escolares, além de favorecerem o desenvolvimento de linguagem destas crianças. Destaca-se também, a necessidade de estudar a relação entre Intérprete e criança surda, as relações da criança surda com os ouvintes que são mediadas por esses profissionais e a formação em serviço de tais profissionais, já que, em sua maioria não passaram por uma formação específica para atuarem nesta função.

METODOLOGIA:
A pesquisa se desenvolveu em uma Escola do Ensino Fundamental da rede pública, na qual vem sendo desenvolvido em Programa de Educação Inclusiva Bilíngüe. A sala focalizada é do segundo ano do primeiro ciclo, na qual estão matriculadas crianças de 8 a 9 anos, sendo 15 ouvintes e 5 surdas. A intérprete aqui chamada de Mariana (nome fictício para resguardar sua privacidade) trabalha como intérprete há um ano nessa escola. Tem 20 anos, é formada em magistério. Aprendeu a LIBRAS por meio de apostilas juntamente com amigos de escola e se aperfeiçoou no contato com a comunidade surda na igreja que freqüentava. Foi aprovada como intérprete no exame nacional de proficiência – PROLIBRAS. Para esta pesquisa, a técnica de coleta de dados adotada foi a entrevista semi-estruturada, havendo algumas perguntas pré-determinadas, porém abertas, buscando favorecer o aspecto dialógico no momento da entrevista. Foram realizadas duas entrevistas com Mariana. A primeira realizada no início de 2006, quando a intérprete estava trabalhando há apenas uma semana na escola e não tinha experiência anterior de interpretação. Já a segunda entrevista, foi realizada no final do mesmo ano, e são justamente os modos como esta intérprete significa e re-significa sua prática ao longo de um ano de trabalho que serão aqui investigadas. As entrevistas foram áudio-gravadas e transcritas integralmente. Neste artigo serão focalizados dados relativos ao papel do intérprete e à sua formação em serviço.

RESULTADOS:
Papel do Intérprete de Língua de Sinais Dados da 1ª entrevista E como você sente essa experiência? “Ah, eu gosto. Ta difícil, to pensando assim como eu vou melhorar, porque parece assim que é muita responsabilidade sobre mim, porque elas dependem de mim pra aprender, coitadas, então se eu não der o máximo elas não vão aprender. Como é que vai ser?. A intérprete toma para si a responsabilidade de ensinar aos alunos surdos os conteúdos que deverão ser passados nesta etapa da educação, considerando que sua atuação não pode ficar restrita a interpretação. Demonstra também insegurança acerca de seu papel como intérprete, pois percebe que nem sempre consegue alcançar os objetivos implicados em sua tarefa como intérprete educacional. Dados da 2ª entrevista Como você vê o trabalho como intérprete de libras? “Eu encaro como sendo uma profissão muito importante, porque é uma lei, né, tem uma lei pra isso, os surdos tem direito a ter uma pessoa que ajude eles com a linguagem deles...acho que é importante essa profissão”. Na segunda entrevista a intérprete demonstra mais segurança ao falar de sua profissão e faz referência a existência da lei que obriga a presença de intérprete de Língua de Sinais em escola regular. Ressalta também a importância dessa profissão quanto às questões de linguagem e aprendizagem. Isso evidencia um crescimento e amadurecimento profissional adquirido ao longo de um ano de trabalho, ano este relativo a sua primeira experiência como intérprete educacional.

CONCLUSÕES:
A possibilidade de reflexão sobre a própria prática pode auxiliar no processo de formação em serviço, pois é fundamental pensar e (re) pensar sobre suas experiências cotidianas para compreender melhor se objetivos foram alcançados, se as práticas realizadas foram as mais adequadas, entre outros. Quando o profissional atua sem a possibilidade de refletir sobre suas práticas, muitas vezes, não percebe os obstáculos e vantagens que seu espaço de trabalho oferece, sem transformar sua prática com ações que seriam possíveis, caso conhecesse melhor sua própria atividade. Contudo, os relatos da intérprete na primeira entrevista indicam uma série de queixas e problemas que não são retomados na segunda entrevista, mostrando que muitos dos obstáculos trazidos por ela inicialmente, não mais se configuram como dificuldades apontando para uma re-significação destes, como atividades inerentes à sua prática. Certamente ela desenvolveu estratégias para lidar com eles, a partir de suas vivências na escola , mas demonstra ter refletido pouco sobre tais mudanças. Neste sentido, prosseguir com estudos que investiguem a atuação e formação do intérprete de Língua de Sinais mostra-se relevante, por se tratar de campo recente, que implica em educação de qualidade para alunos surdos, e que ainda está estruturada de forma incipiente.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Surdez, Bilinguismo, Escola Inclusiva

E-mail para contato: bruna.fono2007@gmail.com