60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

DISCURSO, ETHOS E POLÊMICA: O PARTIDO DOS TRABALHADORES EM FOCO.

Luis Cláudio Aguiar Gonçalves1
Edvania Gomes da Silva1, 2
Maria da Conceição Fonseca-Silva1, 2

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários/UESB
2. Prof.ª Dr.ª/Orientadora


INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa faz parte do subprojeto “O ethos petista na materialização da polêmica discursiva”, vinculado ao projeto de pesquisa “A materialização da polêmica discursiva nas eleições presidenciais de 2006”, coordenado pela Profª. Drª. Edvania Gomes da Silva, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB. O objetivo do trabalho é verificar o funcionamento da polêmica discursiva estabelecida entre dois posicionamentos, a saber: o do Partido dos Trabalhadores (doravante PT) e o daqueles partidos que se opõem ao discurso materializado nas formulações petistas. Para tanto, partiremos da análise do ethos reivindicado pelo PT e do anti-ethos criado por seus opositores. O fundamento teórico da pesquisa se baseia nos conceitos desenvolvidos pela Escola Francesa de Análise do Discurso, principalmente nas noções de ethos e polêmica presentes nos trabalhos de Dominique Maingueneau. Tanto o conceito de ethos quanto a noção de polêmica discursiva são apresentados por Maingueneau como planos de análise que contribuem para compreensão do funcionamento semântico dos diferentes discursos.

METODOLOGIA:
O corpus do trabalho foi coletado, do mês de setembro ao mês de outubro, em duas fontes de informação: a rede mundial de computadores (internet) e a imprensa escrita. Na primeira, visitamos o site da Presidência da República, mas precisamente as guias Discursos do Presidente da República e Entrevistas do Presidente da República, priorizando os pronunciamentos e as entrevistas ocorridos durante o mês de agosto de 2007. Na segunda, especificamente na Revista Istoé, colhemos formulações materializadas na entrevista que o ex-presidente Itamar Franco concedeu a referida revista. Concomitantemente a coleta dos dados, realizamos leituras, discussões e resenhas de alguns textos de Maingueneau (1997; 2005), bem como de outros textos vinculados à Escola Francesa de Análise de Discurso. Por fim, procedemos à análise dos dados. Vale salientar que este trabalho é parte integrante de um subprojeto que se encontra em sua fase inicial.

RESULTADOS:
As análises indicam que os adversários políticos do PT criam, em relação ao referido partido, o anti-ethos do político elitizado e prepotente, ao se oporem ao ethos de representante político do povo e homem das massas, reivindicado pelos enunciadores petistas. O ethos de representante popular está materializado nas seguintes formulações do atual Presidente: “Da minha parte/.../, embora eu diga sempre ‘eu sou o presidente de todos’, acho que quem mais precisa do Estado é a parte mais pobre da população”. “/.../ essas coisas que vocês passam eu vivi na pele/.../ Portanto, se tem alguém que sabe o que vive uma parte do povo brasileiro, é este que está falando com vocês/.../”. Nos excertos acima, retirados no site da Presidência da República, na guia Discursos do Presidente da República, verifica-se um tom emocionado e um caráter humilde. O uso da primeira pessoa e o recurso a modalizadores epistêmicos, como “eu acho”, reforçam esse caráter humilde, pois criam a imagem de um homem simples, que conta a sua história e, dessa forma, aproxima-se do povo. Por outro lado, a criação do anti-ethos petista pode ser verificada no seguinte excerto: “Ele era um homem simples, mas hoje atingiu um estágio social e perdeu a humanidade. (ex-presidente Itamar Franco. Entrevista concedida a Revista IstoÉ, 22 de agosto de 2007, Edição 1973)”. Aqui, o verbo no pretérito imperfeito e o uso do adversativo “mas” conferem ao texto um tom de crítica e materializam a suposta mudança de posição ocorrida no posicionamento petista.

CONCLUSÕES:
Os resultados permitem concluir que o ethos reivindicado pelo Partido dos Trabalhadores, o do representante popular, entra em conflito direto com o anti-ethos criado pelo posicionamento adversário, o de um representante elitizado. Em muitos momentos, o conflito entre o Partido dos trabalhadores e aqueles partidos que se opõem ao discurso linearizado nas formulações petistas encontra-se materializado no plano discursivo ethos. Dessa forma, o ethos funciona como um recurso lingüístico-discursivo muito eficaz, pois, por meio deste, adversários que partilham de um mesmo espaço discurso podem tanto se afirmar como representantes políticos legítimos, quanto deslegitimar o partido adversário. Em síntese, polemizando em torno do ethos, os partidos constroem, ao mesmo tempo, a sua identidade enquanto representante político e o anti-ethos de seus opositores.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Análise do Discurso, Discurso Político, Ethos

E-mail para contato: luislawyer10@yahoo.com.br