G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
QUALIDADE DOS PROCESSOS INTERATIVOS CRIANÇA-CRIANÇA NO CONTEXTO DE SALA INCLUSIVA: IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
Viviane Fernandes Faria Pinto1
1. Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento - PED/IP/UnB 2. Profa. Dra. - Diva Mª Moraes Albuquerque Maciel PED/IP/UnB- Orientador
INTRODUÇÃO:Acreditamos que os processos interativos que acontecem cotidianamente são de fundamental importância para a constituição humana. A qualidade das interações constituídas poderá contribuir, em maior ou menor grau, para o desenvolvimento e para a aprendizagem. Durante a infância, a escola constitui-se como lócus privilegiado para que as relações se estabeleçam, contudo, muitas vezes, crianças com alguma deficiência podem não ter as mesmas oportunidades de estabelecer relações e as interações acabam por ser mais restritas. Para crianças com ausência/dificuldades no desenvolvimento da linguagem verbal a restrição dos processos interativos pode ser mais evidente. Em muitos casos as interações estabelecidas pelas crianças com deficiência são mais restritas se comparadas com as crianças sem deficiência. Embora as dificuldades no uso da linguagem verbal possam afetar negativamente as interações sociais, não podemos esquecer o papel ativo do sujeito no processo de construção do conhecimento e no estabelecimento de redes de relações. A partir desses pressupostos, nos propomos analisar a qualidade das interações estabelecidas em uma sala de aula inclusiva, especialmente entre crianças gêmeas que apresentam déficit no desenvolvimento da linguagem.METODOLOGIA:Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma metodologia qualitativa adotando, técnicas e métodos específicos dessa abordagem de pesquisa. Considerando, pois os aspectos pertinentes à realização de um estudo sob a abordagem qualitativa, esta pesquisa foi realizada por meio de um estudo de caso. Optou-se por este método, por acreditarmos que esta forma de se fazer pesquisa permite verificar e analisar situações muito particulares num espaço específico e sob condições também específicas. Desta forma, acreditamos que tal escolha metodológica foi propícia para atender nossa proposta de entendimento do contexto educativo inclusivo e sua influência na educação de crianças com alguma deficiência. O estudo foi composto de observações do contexto educativo, entrevistas semi-estruturadas e micro-análise de episódios de interação filmados na escola. O lócus deste estudo foi uma escola de educação infantil da rede pública do Distrito Federal, que atua com crianças entre 04 e 06 anos de idade. Os sujeitos deste estudo são os gêmeos univitelinos que apresentam déficit de linguagem em processo de inclusão.RESULTADOS:A partir das observações e análise microgenética realizada, verificou-se que a linguagem apresentada pelos sujeitos da pesquisa apresentava-se, na maior parte das vezes, em frases curtas ligadas à experiência imediata e situações concretas. A linguagem, por apresentar uma configuração peculiar, acabava por dificultar o entendimento do interlocutor. No entanto, infere-se que a linguagem verbal apresentada pelos gêmeos era utilizada de forma intencional visando atingir o Outro durante os processos interativos, demonstrando intenção de estabelecer relações ou conservar relações estabelecidas. Compreende-se, portanto, que tais situações acabavam por exigir o uso da linguagem, se constituindo como meios fecundos para o desenvolvimento destas crianças. As interações estabelecidas bem como as diferentes estratégias comunicativas utilizadas eram fontes de construção do conhecimento. Em outras palavras, as situações interativas criavam situações que exigiam o uso da linguagem verbal e conseqüentemente possibilidades de avanços no desenvolvimento de forma global. Embora se identifique claramente o déficit no desenvolvimento da oralidade, é possível supor que o interesse em estabelecer relações acabavam por motivar a utilização da linguagem verbal.CONCLUSÕES:O processo de desenvolvimento humano não ocorre de forma isolada fruto exclusivo da maturação biológica nem é resultado único das experiências. O desenvolvimento é um fenômeno complexo multi determinado que se dá nas relações, permeado pelos significados, valores e regras, co-construídos culturalmente. O reconhecimento da importância do outro para o desenvolvimento/aprendizagem vem ao encontro de movimentos em prol de modelos de educação inclusiva. Tudo isso vem propiciando mudanças significativas nas escolas e na forma de se pensar a educação, o que converge a uma visão coerente com a percepção da diversidade humana. Modelos de educação inclusiva embora apresentem avanços ainda tem o que melhorar, o que justifica que se intensifiquem as pesquisas na área. A pesquisa realizada permitiu que fossem revelados alguns aspectos que de certa maneira esperávamos encontrar, assim como possibilitou outras descobertas: embora esperássemos que as interações estabelecidas fossem ser mais restritas devido às peculiaridades no desenvolvimento na linguagem verbal apresentadas pelos sujeitos deste estudo, observamos que as crianças estavam em constante processo interativo e de co-construção. Inferimos daí a importância do contexto inclusivo como meio de atuação no desenvolvimento. Apesar de considerar que os gêmeos estavam bem adaptados ao contexto da escola e que as experiências vividas se configuravam como possibilidades reais de desenvolvimento e aprendizagem avaliamos que houve carência de uma atuação mais direta nas especificidades, especialmente lingüísticas. Acreditamos que se houvesse um trabalho mais bem planejado e direcionado de atuação talvez estas possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem fossem potencializadas.Os estudos teóricos realizados combinados à observação da realidade prática nos levam a crer que, embora no plano das idéias o conceito de inclusão esteja bastante avançado este é, no campo prático, bastante deficitário. Isto significa que a matrícula de crianças com necessidades especiais em classes regulares, não garante por si só a inclusão de fato. Para que a inclusão em classes regulares ocorra com sucesso, a escola e seus atores precisam combinar esforços buscando as mais diversas adaptações, sejam elas físicas, curriculares, metodológicas, ou outras necessárias com vistas a atender estes alunos.O sucesso processo inclusivo pressupõe um caminho cheio de imprevistos que exigem aperfeiçoamento, discussão e avaliação constantes. Uma das grandes dificuldades da inclusão ainda é propiciar momentos e atividades em sala de aula que considerem todos os alunos envolvidos independente de suas características: étnicas, físicas, de gênero, sociais, etc. Faz-se necessário que o processo de inclusão avance e signifique para além da interação social pura, mas, sobretudo como um processo educativo.
Palavras-chave: Linguagem, Desenvolvimento, Inclusão
E-mail para contato: viviane.educ@gmail.com
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