G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
O TEMPO DAS VACAS MAGRAS E O TEMPO DAS VACAS GORDAS NA AMAZÔNIA: ABASTECIMENTO ALIMENTAR NAS CIDADES DA CALHA DO RIO SOLIMÕES
André de Oliveira Moraes1 Tatiana Schor1, 2
1. Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira / UFAM 2. Profa. Dra. - Departamento de Geografia - UFAM - Orientadora
INTRODUÇÃO:Os hábitos alimentares nas cidades do interior do Amazonas apresentam particularidades que podem ser percebidas no comércio que envolve gêneros alimentícios. Embora o peixe e a farinha de mandioca ainda sejam os alimentos mais consumidos no interior do Estado, fatores como a pesca predatória e questões culturais, têm mudado esse quadro e refletido diretamente na mesa da população dessas cidades cujos hábitos alimentares têm se modificado consideravelmente. O consumo crescente de produtos industrializados tem gerado uma dinâmica de mercado diferenciada que, justaposta aos hábitos tradicionais de agricultura e pesca, resultam na complexa configuração do abastecimento nessas cidades. O estudo objetiva compreender esse abastecimento identificando que fatores influenciam nessa mudança de hábitos alimentares. O entendimento da questão alimentar no Amazonas correlata às previsões de eventos geográficos, como extremas secas, pode contribuir na maior eficácia de políticas públicas específicas de abastecimento.METODOLOGIA:Para esta pesquisa, foram realizados trabalhos de campo para as em 11 cidades localizadas ao longo da calha do Rio Solimões (Tonantins, Jutaí, Fonte Boa, Uarini, Alvarães, Tefé, Coari, Codajás, Anori, Anamã e Manacapuru) nos meses de outubro de 2006 e março e abril de 2007 que correspondem aos períodos de vazante e enchente, respectivamente. Foram visitados estabelecimentos que comercializam gêneros alimentícios nas cidades (mercadinhos, tabernas, feiras e mercados municipais) onde se coletaram dados de venda dos itens que compõem a cesta básica regionalizada (MORAES, 2007) em ambos os períodos. Realizaram-se também entrevistas com agentes pertencentes à cadeia produtiva do abastecimento alimentar na cidade (comerciantes, pescadores, vendedores de peixe, açougueiros, feirantes e consumidores) a fim de aferir a mudança de hábitos de compra (MORAES, 2007) da população.RESULTADOS:As variações de cardápio na mesa do morador dessas cidades obedecem a flutuação do regime hidrológico do Rio Solimões. Com isso, tem-se fartura na seca pela possibilidade de cultivo nas várzeas – de tomate, por exemplo – e pela abundância de peixes, principalmente. Na cheia existe uma relativa escassez, pois a pesca torna-se difícil e, na impossibilidade das culturas de várzea, aumenta a importação de produtos de Manaus para garantir o abastecimento local, o que onera os custos com alimentação na cidade devido ao transporte, possível apenas por via fluvial. Nesse contexto, juntamente com ovos de galinha, salsicha e alguns enlatados, o frango congelado representa uma das alternativas para a alimentação durante o período de cheia, quando o peixe fica escasso, por conseguinte, com preço elevado. Os barcos que transportam os produtos têm rotas diferenciadas conforme o período. Na enchente, este consegue chegar até todas as cidades desembarcando os produtos diretamente nesta. O mesmo não é possível na vazante quando superfícies de inundação geralmente presente em lagos que banham as cidades ficam expostas de forma que, os barcos, impossibilitados de ir até à cidade, desembarcam os produtos outros modais de transporte que os levam até as cidades onerando, assim, o frete dos produtos.CONCLUSÕES:A discussão a cerca da alimentação no Amazonas deve considerar as especificidades regionais de forma que a polarização analítica existente entre o social e o natural apresenta-se insuficiente para a apreensão desta realidade. As relações entre sociedade e natureza na Amazônia apresentam-se acentuadamente complexas demandando uma análise essencialmente geográfica do objeto a partir de uma Geografia Econômica que integre, relacionalmente, ambos os aspectos. O abastecimento alimentar e as questões inerentes a todos os fluxos que envolvem sua espacialidade representam um exemplo da necessidade de integração das interpretações acerca da Amazônia cujas dimensões, humanas e naturais integradas, proporcionam um cenário de contínua (des)construção.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: Abastecimento Alimentar, Cidades da Amazônia, Rio Solimões
E-mail para contato: and.moraes@gmail.com
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