60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano

LINGUAGEM E APROPRIAÇÃO DE PRÁTICAS SOCIAIS EM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO

MICHELLI ALESSANDRA SILVA1
CECÍLIA GUARNIERI BATISTA2

1. Departamento de Pediatria -UNICAMP- Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente
2. Profª Drª - Departamento de Pediatria/CEPRE - UNICAMP - Orientadora


INTRODUÇÃO:
A literatura aponta para o fato de que crianças com deficiência visual, com outras deficiências associadas, estão em risco de desenvolvimento. Tendo isso em vista, pretendeu-se, no presente estudo, observar a interação de crianças com esse perfil, no contexto de grupos de convivência, com o intuito de identificar indícios de desenvolvimento e processos de apropriação de práticas sociais. Considerando-se que, na perspectiva histórico-cultural, a dimensão semiótica das atividades e interações humanas é central na constituição do sujeito, buscou-se olhar para as produções das crianças e os processos de significação sobre essas produções nas dinâmicas interativas como lugares possíveis para se compreender o desenvolvimento de crianças com deficiências. Para tanto, tomou-se como um dos focos de análise os diferentes usos de objetos, a participação em atividades e a linguagem das crianças em estudo, como lugares para se observar esses processos. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir para os estudos da área, de modo a apresentar formas de atuação e intervenção que contribuam para a promoção do desenvolvimento de crianças com deficiências.

METODOLOGIA:
Do ponto de vista metodológico, o tipo de estudo proposto para a realização desta pesquisa foi o estudo de caso, a partir do qual foi realizada uma análise microgenética, recortando o material documentado em episódios que fossem significativos para o propósito do estudo. Por se tratar de uma proposta de pesquisa qualitativa, isto é, uma pesquisa que visa descrever o fenômeno, tentando entender sua totalidade complexa e dinâmica, foram estudadas três crianças, entre 4 e 10 anos. Os sujeitos da pesquisa faziam parte de um programa integrado de pesquisa e intervenção em um centro universitário, voltado para crianças com deficiência visual. Três crianças foram selecionadas nos grupos, por serem as que apresentavam as alterações mais acentuadas no desenvolvimento (quadros neurológicos e/ou sindrômicos, alterações no desenvolvimento cognitivo, lingüístico e social). A coleta dos dados foi realizada a partir de um acompanhamento, por um ano, dos grupos de convivência dos quais as crianças faziam parte. As sessões foram filmadas e transcritas, e foram feitas anotações em diário dessas sessões. No estudo, deu-se destaque aos modos de utilização de objetos, à participação em atividades e à linguagem das crianças, categorias gerais de análise que foram norteadoras do que observar. Nesse sentido, essas categorias ajudaram a dar foco ao que ver, isto é, possíveis indícios de apropriação de significados e práticas sociais nas crianças em análise.

RESULTADOS:
Através das análises foi possível identificar processos de apropriação de práticas sociais (ex: uso da torneira), diferentes usos de objetos (ex: uso de cola gliter), diferentes níveis de participação em atividades (ex: brincadeira de roda), bem como diferentes usos da linguagem (ex: nomeação e descrição de objetos) por parte das crianças. As análises também permitiram que fossem observados diferentes modos de atuação dos adultos, que organizavam a situação, propunham atividades, atribuíam significados e davam sentido às ações da criança. Considerou-se que a observação por meio de análise microgenética conferiu visibilidade a diferentes instâncias de apropriação de práticas sociais, e permitiu identificar, nas formas de atuação dos adultos, aspectos que contribuíram para isso. Discutiu-se o fato de que o problema, com essas crianças, estava mais relacionado a dificuldades na estabilização de processos de desenvolvimento, do que a “atrasos”, linearmente qualificados.

CONCLUSÕES:
A análise evidenciou a importância dos processos de interação e significação, por parte dos adultos e dos parceiros no grupo, na constituição dos sujeitos. Sugere-se que centrar o trabalho nesses processos seja um caminho para promover o desenvolvimento de crianças com necessidades especiais. Levando-se em conta que a atenção às ações da criança destacou-se nas análises como lugar de significação e possibilidade de interação, ressalta-se aqui a relevância desses momentos na experiência e vivência de práticas sociais em crianças que apresentam dificuldades sociais, afetivas, cognitivas e lingüísticas. O desenvolvimento de crianças com necessidades especiais continua sendo um estudo desafiador; ainda existem muitas questões a serem discutidas e trabalhadas. Esta pesquisa trouxe apenas uma pequena contribuição. Tendo isso em vista, espera-se que novas pesquisas sejam desenvolvidas na área.



Palavras-chave:  desenvolvimento infantil, deficiência visual, apropriação de práticas sociais

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