60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia

ATRIBUTOS FUNCIONAIS FOLIARES DE ESPÉCIES ARBÓREAS DA FLORESTA DE RESTINGA E DA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DAS TERRAS BAIXAS, NÚCLEO PICINGUABA, PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, UBATUBA/SP.

Pedro Ortman Cavalin1
Viviane Camila de Oliveira1
Bruno Henrique Pimentel Rosado1
Rafael Oliveira1
Eduardo Arcoverde de Mattos2
Carlos Alfredo Joly1

1. UNICAMP
2. UFRJ


INTRODUÇÃO:
As florestas tropicais apresentam um número enorme de espécies arbóreas. Para lidar com essa riqueza, é conveniente dividir as espécies em grupos funcionais ou guildas, que podem ser definidos em termos das respostas das espécies a fatores ambientais. Um dos agrupamentos mais usados para árvores em florestas é o agrupamento regenerativo, que é baseado na ordem de entrada após um distúrbio, e divide as espécies em pioneiras, secundárias iniciais e secundárias tardias. Estas espécies teriam características bionômicas, morfológicas e fisiológicas contrastantes, relacionados ao uso da luz solar. As pioneiras possuem características que maximizam o crescimento sob alta iluminação: baixa massa foliar por unidade de área, folhas pouco espessas, madeira pouco densa. Por outro lado, secundárias tardias possuem características que maximizam a aquisição de luz e sobrevivência em condições sombreadas: alta massa foliar por área, folhas espessas, madeira densa, alto conteúdo de clorofila, presença de alcalóides citotóxicos nas folhas. Portanto, o objetivo do trabalho foi comparar estes grupos sucessionais em duas formações florestais distintas no Parque Estadual da Serra do Mar.

METODOLOGIA:
Foram amostradas 37 espécies arbóreas da Floresta de Restinga (FR) e 41 espécies arbóreas da Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas (FODtb), em parcelas permanentes de 1 ha, já descritas por fitossociologia. As espécies foram classificadas em pioneiras, secundárias inical e tardia de acordo com a literatura disponível. Cada indivíduo teve um galho coletado, o mais exposto à luz quanto possível, e dividido em folhas e madeira. Imediatamente foi medida a taxa de transporte de elétrons (TTE) por fluorescência da clorofila a em uma folha de cada galho. Duas secções de madeira foram retiradas de cada galho, descascadas e hidratadas para estimativa do volume através do princípio de Arquimedes; e depois secas em estufa e pesadas para determinação da densidade específica. Para as folhas, foram determinados os conteúdos de clorofilas a e b e de carotenóides, a área foliar, a espessura da lâmina foliar, massa seca de folha por área (MFA), grau de suculência, concentração e isótopos de carbono, e presença ou ausência de alcalóides. Foram feitas ANOVAs bifatoriais para verificar o efeito do grupo sucessional e da formação florestal sobre os atributos, considerando-se todas as espécies ou somente as espécies que ocorrem em ambas as florestas. Os atributos foram correlacionados entre si.

RESULTADOS:
Espessura foliar, área foliar e MFA diferiram entre as localidades: espessura e MFA foram maiores, e área foliar e clorofila total menores, na Floresta de Restinga. Suculência foliar não diferiu entre as localidades. Da mesma maneira, não houve diferenças em nenhuma característica entre grupos regenerativos, nem na FODtb nem na FR. Na FODtb, a espessura foliar correlacionou-se positivamente com MFA (R=0,48) e com a suculência (R=0,82). Na FR, nenhuma correlação significativa foi encontrada entre os atributos avaliados. Quando apenas as dez espécies que ocorrem em ambas as florestas foram analisadas, a espessura e o teor de clorofilas variaram entre espécies: espessura foi mais alta e teor de clorofilas foram mais baixos na MR do que na FODtb. Cecropia glaziouii, Guapira opposita e Sclerolobium denudatum apresentaram folhas mais espessas na Restinga. De modo geral, as espécies que apresentaram diferenças têm as maiores espessuras, à exceção da espessa Schefflera angustissima, que não diferiu entre locais. Área foliar, MFA, densidade da madeira e grau de suculência foliar não diferiram entre os locais, mas sim entre as espécies.

CONCLUSÕES:
A Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e a Floresta de Restinga parecem apresentar características abióticas divergentes, o que leva a uma diferença em atributos como espessura e área foliares, MFA e teor de clorofila. Estas características estão relacionadas à captação de luz solar, e podem ser influenciados pelo estado nutricional e hídrico do solo. Assim, parece que a FR apresenta maior luminosidade, resultado de dossel menos denso, e menor disponibilidade de água e nutrientes no solo. Essa conclusão é reforçada pela análise das mesmas espécies presentes nos dois ambientes: não é possível saber se a diferenciação tem base genética ou plástica, mas ela foi observada e é consistente. Além disso, os grupos regenerativos, amplamente usados na literatura, não foram diferenciados pelas características foliares analisadas. Tais características estão relacionadas com a utilização de recursos (água, luz e nutrientes) e, portanto, é razoável supor que as diferenças de distribuição observadas em diversas florestas tropicais se devam mais a características de história de vida (polinização, dispersão, germinação) do que à utilização diferenciada de recursos.

Instituição de fomento: Financiada pelo Programa BIOTA/FAPESP, Projeto Temático Gradiente Funcional (03/12595-7). Autorização COTEC/IF 41.065/2005 e IBAMA/CGEN 093/2005.



Palavras-chave:  floresta tropical, sucessão ecológica, uso de recursos

E-mail para contato: pcavalin@gmail.com