60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

O URBANO NA AMAZÔNIA DOS GRANDES PROJETOS

Tiago Maiká Müller Schwade1
José Aldemir de Oliveira1, 2

1. Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira / UFAM
2. Prof. Dr. - Departamento de Geografia - UFAM - Orientador


INTRODUÇÃO:
Ainda no século XIX, surge um grande empreendimento na Amazônia que instala uma cidade-empresa (talvez a primeira da região) para dar-lhe suporte. Trata-se das primeiras tentativas de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Algumas outras cidades surgem também na primeira metade do século passado, ligadas à heveicultura. No entanto, na década de 1960, iniciaram as políticas que impulsionaram a implantação de grandes projetos na região (principalmente ligados à exploração mineral, construção de barragens e agroindústrias) e suas respectivas espacialidades urbanas. As cidades-empresas se apresentam como tema ainda bastante atual, não apenas por conta das transformações espaciais das quais são parte importante, mas também pela iminência da implantação de novos empreendimentos de caráter semelhante, o que garante seu papel na atual e futura configuração da Amazônia Brasileira. O objetivo deste trabalho é apontar as principais características das cidades-empresas (espacialidades urbanas que dão suporte a grandes empreendimentos na Amazônia), para então refletir sobre seu papel no contexto regional.

METODOLOGIA:
Parte-se da teoria da produção do espaço urbano de matriz lefebvriana, compreendendo que o espaço se produz influenciado e, no contexto de uma mais abrangente visão de produção, em que homens, enquanto seres sociais, produzem sua história, sua consciência e seu mundo para além da produção natural, portanto produzem espaço. A pesquisa concentrou-se na revisão Bibliográfica e em experiências em campo na Vila de Balbina. Optou-se por fazer uma revisão sobre as etapas da produção de espacialidades e da rede urbana na Amazônia, e o significado que essas espacialidades têm para a região. Em seguida, fez-se um levantamento histórico da instalação de cidades-empresas na Amazônia. Esse levantamento sistematiza dados de períodos anteriores ao século XX, até os dias atuais. Após isso, uma revisão mais profunda sobre as cidades-empresas na Amazônia, definindo essas formas urbanas. Para tanto, foi utilizados os trabalhos de Ferreira (1987), Davis (1978), Baines (1992), Vecentini (1996), Piquet (1998), Oliveira (2000), Trindade Jr e Rocha (2002) e Corrêa (2006).

RESULTADOS:
As cidades-empresas, na Amazônia, rompem com os padrões de ocupação da região. A cidade-empresa na Amazônia pode ser caracterizada pelas seguintes especificidades: É parte de um grande projeto e pertencente a uma ou a um grupo de grandes empresas que visam sempre à produção de mercadorias; É um núcleo urbano planejado, dotado de densa infra-estrutura urbana que é custeada ou explorada, segundo os interesses empresariais; Tem caráter tecnocrático, e características arquitetônicas e urbanísticas não regionais. É lócus da modernização e símbolos da modernidade na região; É local de residência da força de trabalho. Sua implantação é necessária para tornar viável o empreendimento que se instala em área não habitada por população compatível aos interesses da produção da mercadoria em larga escala; Possui certa autonomia em relação à área do entorno. Sua produção é escoada, tendo o mínimo de contato com a região; São mais bem providas de infra-estrutura e serviços urbanos que o entorno; É classista, produzindo espaços altamente segregados. As residências, área comercial, clubes, praças são definidos, visando um controle sobre a vida cotidiana da força de trabalho; O acesso é restrito ao interesse da empresa, que impõe barreiras à circulação de qualquer pessoa ou mercadoria.

CONCLUSÕES:
As cidades-empresas e seus respectivos empreendimentos não podem ser vistos separadamente. Por suas especificidades, atuam como produtores de um espaço diferente do que se observa em outras áreas da Amazônia e promovem várias transformações regionais. São responsáveis por grandes deslocamentos humanos, tanto migrantes atraídos pela oferta de emprego, como populações tradicionais que deixam a área ou ocupam sua margem enquanto essa vai sendo ocupada pelo empreendimento. O fato das cidades-empresas não estarem necessariamente dispostas ao longo de grandes rios como as cidades ribeirinhas, acaba incorporando áreas em terra firme ao sistema viário, principalmente por meio de estradas que são novos eixos de ocupação. Finalmente, apesar de chamarem a atenção pela infra-estrutura e capacidade de oferecerem serviços urbanos são parte de um contexto que tenta se impor numa realidade regional. Daí, surgem conflitos e resistências. A sobreposição de realidades espaciais se torna inevitável. De um lado, uma que tenta ser hegemônica e de outro as que resistem, entre estas residem possibilidades.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  cidades-empresas, espaços urbanos, cidades na Amazônia

E-mail para contato: schwade@gmail.com