60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Seguindo os estudos da Teoria Ator-Rede (TAR) proposta por Bruno Latour, o brinquedo artesanal foi eleito como objeto de estudo a fim de refletir sobre as sociotécnicas, dentro da perspectiva de uma Psicologia Social do Objeto. A TAR defende a ligação entre o homem e instrumentos que o primeiro produz, entendendo que ambos são actantes interligados que causam e sofrem intensas transformações ao longo de uma série paradigmática e especificamente em uma série sintagmática. A primeira remete a um primeiro objeto construído pelo homem para potencializar sua ação sobre o meio, servindo como paradigma para diversas versões que o mesmo objeto assume ao longo do tempo. A segunda trabalha as inúmeras e atuais formas de apropriação do mesmo objeto por seus usuários (Latour, 2006). A Psicologia Social do Objeto prevê a inserção dos objetos no campo de estudos das ciências humanas, partindo de uma visão de união entre humanos e não humanos na tessitura do social. Assim, os brinquedos artesanais são pesquisados seguindo o traçado deixado desde suas origens, seu deslocamento em diversos espaços, pela análise etimológica dos nomes que foram recebendo, pelas diversas traduções que foram agregando e pelas formas como foram apropriados pelos seus usuários.

METODOLOGIA:

O desenvolvimento da pesquisa tem sido feito por meio de levantamento bibliográfico e iconográfico, em livros, artigos e sites da internet, especificamente acerca dos brinquedos que elegemos como nossos primeiros objetos de pesquisa: bonecas, petecas, bilboquês, piões, piorras, chocalhos. Além da produção de resenhas, fichamentos e relatórios, estão sendo realizadas entrevistas e constituídos arquivos de imagens junto aos artesãos e associações de artesanato da região de algumas cidades de Minas Gerais. As entrevistas semi-estruturadas demonstram como os entrevistados desenvolvem seu trabalho, com quais materiais trabalham, explicitando suas razões para esta escolha, os motivos que os levaram a confeccionar brinquedos, se seguem algum modelo, como e com quem aprenderam este ofício. Tais entrevistas são gravadas em visitas agendadas, após o entrevistado ser contatado por telefone, e-mail ou contatos de pessoas e instituições próximas a ele. As entrevistas são transcritas, digitadas e devolvidas ao colaborador. Além de recolher protótipos dos objetos pesquisados para organização de acervo a ser compartilhado junto à comunidade, também será feito o registro de como os brincantes utilizam estes objetos lúdicos.

RESULTADOS:

Neste início de pesquisa, tem sido levantada a evolução histórica dos brinquedos no mundo. A partir do geral, buscamos entrar nas especificidades de cada objeto eleito para pesquisa, buscando descobrir suas origens, relações com outros campos do saber, diversidade de materiais utilizados em sua confecção e práticas diferenciadas tanto na construção quanto na forma de brincar com os objetos, como se deu a sua introdução no Brasil e, especialmente, em Minas Gerais. As entrevistas realizadas até o momento têm trazido contribuições para compreender as redes sociotécnicas nas quais se encontram as relações existentes entre homem-objeto. A hipótese de que homem e objeto são afetados um pelo outro pode ser refletida na idéia de que a dificuldade do artesão em conseguir material e maquinário para confeccionar seus objetos, afetando a sua sobrevivência na comunidade já que torna inviável a confecção do objeto pelo artesão. Além disso, a articulação entre entrevistas, observações e leitura sobre o método da Teoria Ator-Rede e sobre o que já foi produzido sobre os brinquedos, tanto artesanal quanto o industrializado, são instrumentos pertinentes não só para resgatar a história destes produtos em Minas Gerais, mas também para propor um resgate das atividades de produção e do brincar com estes instrumentos.

CONCLUSÕES:

A pesquisa tem seguido rastros que nos permitem entender sobre a evolução dos brinquedos estudados. Foram verificadas origens, relações com outros objetos, culturas e religiões. Tem sido observado o quanto os brinquedos podem traduzir questões históricas e culturais de diferentes grupos. No caso brasileiro, por exemplo, a entrada dos brinquedos se deu através da colonização portuguesa, assumindo outras versões no contato com a influência africana e indígena. Outro dado é que assim como alguns objetos permaneceram e assumiram novas formas, muitos declinaram em sua utilização e caíram em desuso, como foi o caso do bilboquê. Outra investigação que temos desenvolvido é a origem dos nomes, já que o nome pode ser dado relativo à cultura de um determinado local, como é o caso do Dreidel, um pião quadrado com letras, de origem judia, utilizado em ritos festivos dessa comunidade.

Instituição de fomento: FAPEMIG

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Teoria Ator-Rede, Brinquedos, Sociotécnicas

E-mail para contato: roselnesantarosa@gmail.com