60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A pesquisa tem por objeto de estudo a requalificação da área central de Salto, cidade que surgiu ao lado duma queda d’água existente no rio Tietê, que hoje faz parte da macro-metrópole paulista. Quando pertencia a Itu, a vila recebeu, no terceiro quartel do século XIX, três indústrias têxteis e a primeira fábrica de papel da América Latina, em função do seu potencial energético, cuja capacidade provinha de turbina hidráulica movida pelo desvio de parte da queda d’água. Prédios industriais e paisagens ribeirinhas hoje constituem um conjunto histórico vinculado ao sistema de espaços livres da área central voltado ao turismo. São objetivos da pesquisa: compreender os parâmetros histórico-espaciais que estruturaram o território mais significativo da cidade; analisar relações entre a estrutura urbana da área central de Salto e os espaços livres próximos ao salto e de três grandes parques ligados ao Rio Tietê, sendo um deles tombado; desvelar parâmetros projetivos específicos de requalificação urbana; discutir as relações existentes entre o sistema de espaços livres e a constituição da esfera de vida pública contemporânea incluindo as ações do poder público e dos agentes imobiliários e construir um quadro crítico referenciado na análise urbanística do Centro Histórico de Salto.

METODOLOGIA:

O método estrutura-se em três parâmetros básicos: 1- o levantamento da área através de mapas, fotos, tabelas e desenhos que desvelem informações topográficas, ambientais, e paisagísticas ordenando e hierarquizando os principais atrativos de valor histórico-cultural do centro histórico e as potencialidades de outros espaços e conexões vinculados ao sistema de espaços livres da cidade; 2- o conhecimento e periodização histórica das distintas fases de desenvolvimento da cidade, através de pesquisa documental e bibliográfica ressaltando a importância da queda d’água e do rio, incluindo o complexo fabril da antiga Brasital e a Igreja Matriz e; 3- o estudo através de análise do projeto e de encontro com arquitetos do escritório Ricardo Badaró & Caio Ferreira Arquitetura, responsável por um projeto de requalificação urbana com ênfase no turismo feito sob a tutela da Secretaria de Urbanismo e Planejamento da cidade em 2006. A partir dos dados levantados, utilizando-se instrumentos de pesquisa exploratória, far-se-á uma releitura do sistema de espaços livres de uso público da área central da cidade, buscando organizar e desvelar parâmetros históricos, culturais e espaciais que formataram os espaços livres da cidade.

RESULTADOS:

Cada etapa do trabalho será acompanhada e discutida com o orientador e submetida às reuniões do Grupo de Pesquisa Requalificação Urbana do CEATEC PUC Campinas, que estuda a Região Metropolitana de Campinas e entorno como parte do projeto temático de caráter nacional aprovado pela FAPESP cognominado “Os Sistemas de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública Contemporânea no Brasil”. Além do aprimoramento pessoal da pesquisadora, até o presente momento, foi possível delinear uma nova configuração para o Centro Histórico de Salto, embasada no estudo da formação de sua malha urbana. Também foram produzidos dois mapas: um sobre análise do centro conforme as acepções de Kevin Lynch, e outro com a delimitação dos principais espaços livres existentes na área do centro histórico. Por último, está se cogitando acerca da existência de cinco grandes fatores como principais responsáveis pela configuração espacial: o capitalismo perverso; o modo de vida da sociedade gerado pelo medo da violência; o privilegiamento do automóvel no uso do espaço em detrimento do pedestre; a desenfreada especulação imobiliária e a incompreensão do poder local em relação à evolução do uso dos espaços públicos.

CONCLUSÕES:

Constata-se que a cidade possui grande potencial turístico, porém pouco explorado, por estar escondido e desconectado espacialmente. O centro histórico está pouco evidenciado, sem sinalização explicativa e de orientação aos usuários. A Igreja Matriz, implantada com a porta principal voltada para a queda d’água, estruturou o crescimento e a forma da malha urbana que cresceu perpendicularmente ao rio mas no sentido contrário. Suas ruas são claras e arborizadas e encontram-se implantadas em terreno pouco acidentado. O sistema de espaços livres existente no centro é constituído por praças que foram desenhadas como os tradicionais locais de lazer contemplativo e encontro passivo da população. Hoje, acham-se abandonadas, facilitando acontecer atos de violência e vandalismo que refletem o mau estado de conservação. A queda d’água, lugar de rara beleza e nascedouro da cidade, está sendo pouco explorada por estar “escondida” de potenciais usuários, encoberta pela densa vegetação do Jardim Tropical e pelos galpões da Brasital. Constata-se assim, que a relação da cidade com o rio Tietê, saudável no passado, foi substituída pelo desmazelo nos últimos tempos, resultando no abandono e descuido de suas margens, que refletem a negligência em relação ao seu significado histórico.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Requalificação Urbana, Esfera Pública, Território

E-mail para contato: carla_fau@yahoo.com.br