60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 3. Psicolingüística

AQUISIÇÃO DE NOMES E ADJETIVOS: UMA ANÁLISE SOBRE A ORDEM CANÔNICA NA PRODUÇÃO DE CRIANÇAS ADQUIRINDO O PB

Ana Paula da Silva1
Juliana de Carvalho Barros1
Fábio Almeida dos Santos1
Milene Cristine de Castro Teixeira1
Vanessa Cristina de Araújo1
Maria Cristina Lobo Name1, 2

1. Departamento de Letras/UFJF
2. Orientadora


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho se insere em uma pesquisa acerca da identificação de nomes e adjetivos por crianças brasileiras durante o processo de aquisição do português do Brasil (PB). Nosso objetivo é investigar a importância da ordem linear desses elementos como facilitadora da identificação, pela criança, das categorias lexicais às quais elas pertencem. Tal ordem já foi apontada como sendo uma pista robusta em trabalhos com crianças adquirindo o inglês. No entanto, como a ordem é fixa nessa língua, não é possível avaliar seu papel efetivo no processo de aquisição. O português permite uma avaliação mais precisa da questão, pois apresenta certa flutuação. Ainda que a ordem canônica do SD complexo seja Det + N + Adj (p.ex., um carro lindo), a ordem inversa é possível (um lindo carro). A hipótese é que, inicialmente, a criança é atenta ao modo como tais elementos se apresentam, até que identifique o padrão mais recorrente da língua. Para se testar a hipótese, duas atividades de produção são propostas: uma atividade de reconto de história e outra de produção eliciada. Observa-se se a criança, na sua produção, mantém ou não a ordem dos itens apresentados. Os resultados são analisados e discutidos, levando-se em conta um modelo psicolingüístico de aquisição da linguagem.

METODOLOGIA:
Realizamos a primeira atividade experimental, de reconto de histórias, com 33 crianças na faixa de 4 a 7 anos, divididas em 3 grupos: Grupo A – idade média: 4 anos; Grupo B – idade média: 6 anos e Grupo C – idade média: 7 anos. Utilizamos cinco quadros com imagens formando uma história; gravador de áudio portátil e fantoches. Uma história é apresentada à criança em cinco cenas, nas quais aparecem, contrabalançados, SDs com adjetivos antepostos e pospostos aos nomes. Ao final, pede-se à criança que conte a mesma história. A segunda atividade, de produção eliciada, foi realizada com 87 crianças na faixa de 2;6 a 6 anos, divididas em 3 grupos: Grupo A – crianças menores de 4 anos; Grupo B – idade média: 4;6 anos (4;1 a 4;11a) e Grupo C – idade média: 5;6 anos (5;0 a 5;11a). Utilizamos duas histórias, cada uma com quatro quadros de imagens. As crianças foram divididas em dois grupos, cada um com uma história. A história é apresentada à criança em quatro cenas, nas quais aparecem SDs complexos. Cada criança ouviu a história num dada ordem (canônica ou não-canônica). Ao final, é feita uma pergunta à criança, que deverá responder usando um SD complexo (a girafa charmosa ou a charmosa girafa). As atividades foram gravadas em creches, no laboratório da universidade ou em casa.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos nas duas atividades experimentais seguem a mesma direção, ambos sustentam nossa hipótese. Na primeira atividade, as crianças do Grupo A produzem SDs tanto com adjetivos antepostos quanto pospostos ao nome, enquanto as do Grupo C manifestam preferência pela ordem canônica, a despeito da apresentação em ordem inversa. A média de produção de SDs no Grupo A é da ordem de 2,54 CAN para 1,23 NCAN. No Grupo B, a mesma proporção é mantida: 3,33 CAN para 1,55 NCAN. Por outro lado, o Grupo C apresenta uma grande diferença entre as médias: 6,09 CAN para 0,64 NCAN. Na segunda atividade, crianças menores de 4 anos produziram SDs de acordo com os enunciados apresentados (86% CAN e 87% NCAN). Crianças na faixa de 4;6a tiveram 100% das respostas em conformidade com o enunciado na ordem CAN, mas apenas 65% na ordem NCAN; essa última taxa ainda foi menor no grupo de 5;6a: apenas 43% (mas 100% em CAN).

CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos nas duas atividades experimentais seguem a mesma direção, ambos sustentando nossa hipótese de que a posição estrutural dos elementos das categorias Nome e Adjetivo, no Sintagma Determinante complexo, é uma pista bastante robusta, usada pela criança, para a identificação dos mesmos. Na primeira atividade, as crianças menores responderam em conformidade com os enunciados apresentados, diferente das crianças maiores. Crianças entre as duas faixas etárias oscilaram no tipo de resposta. Na segunda, foram testadas crianças ainda menores, confirmando os resultados. Subdividindo o grupo intermediário, observamos o aumento gradativo de respostas na ordem CAN, mesmo nas condições NCAN. As evidências sugerem que a criança mais nova é particularmente atenta à ordem estrutural dos enunciados a que tem acesso; e as crianças mais velhas já não parecem tão atentas a isso, o que é compatível com a idéia de que, nessa idade, a criança já identificou a ordem do SD mais freqüente no português do Brasil. Os resultados são compatíveis com estudos focalizando o inglês e reforçam a idéia da ordem estrutural como fonte relevante de informação para o processo de aquisição lexical, mesmo numa língua em que tal ordem não é fixa.

Instituição de fomento: FAPEMIG, CNPq, UFJF

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Aquisição lexical, Nomes, Adjetivos

E-mail para contato: anapaula.ufjf@hotmail.com