60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia

O TEMA DA MORTE NA CULTURA GÓTICA JUVENIL

Carusa Gabriela Dutra Biliatto1
Leila Sollberger Jeolás2

1. Ciências Sociais - Universidade Estadual de Londrina
2. Prof. Dr. - Ciências Sociais - UEL - Orientadora


INTRODUÇÃO:
A “juventude” se elabora nas sociedades ocidentais como importante categoria sociohistórica, cujo surgimento se deu juntamente com as instituições modernas da escola, do Estado, do direito, do mundo do trabalho industrial e da ciência. É, pois, uma categoria que varia de sociedade para sociedade e ao longo do tempo. Atualmente existem grupos juvenis que têm a cultura gótica como referência para construção de processos identitários. Na cultura gótica juvenil o tema da morte é percebido como central e simbolizado de diferentes maneiras, através da literatura, da música e do estilo visual, tomando uma dimensão libertadora porque vivenciado como um mistério sem tabu, em contraposição à forma como a morte vem sendo instituída na cultura ocidental. Na pesquisa de Iniciação Científica, em desenvolvimento, dois conjuntos de significados foram colocados em relação: por um lado, o conjunto de significados referente à morte existente, de um modo geral, em dias atuais, nas sociedades ocidentais; e, por outro lado, o conjunto de significados referente à morte existente na cultura gótica juvenil. É importante ressaltar que estes dois conjuntos de significados não se constituem em conjuntos estanques e separados um do outro na vivência dos sujeitos, mas se articulam de forma dinâmica e processual.

METODOLOGIA:
Com o objetivo de ter acesso a informações referentes ao tema da morte nas sociedades ocidentais, ao longo da história, recorri a estudos desenvolvidos, basicamente, na História, na Sociologia e na Antropologia. Quanto aos significados da morte na cultura gótica, estudos históricos e literários constituíram fontes para esta pesquisa. A pesquisa de cunho etnográfico foi realizada na Internet, mais especificamente na comunidade virtual Revista Carcasse. A literatura que orienta este projeto mostra que as redes eletrônicas de comunicação apresentam-se, atualmente, como importantes instrumentos e fontes de pesquisa, pois se constituem em vias de circulação de conhecimento e de novas formas de interação social. As comunidades virtuais atuais são uma das formas de existência da cultura gótica juvenil. Seus usuários expressam os temas centrais dessa cultura e os significados atribuídos às suas práticas e representações. A análise buscou compreender o processo de significação da morte contido na dinâmica de produção cultural, tanto por forma textual como imagética e sonora.

RESULTADOS:
Produção de um estudo que pretende contribuir para evidenciar as “caras” das juventudes em nossos dias, produzindo dados que ajudam a desfazer as visões negativas e estigmatizantes sobre os jovens, contra uma perspectiva generalizante sobre eles. Produção de um estudo que explicita a existência e busca compreender a lógica de uma das formas sociais de manifestação de intolerância contra o interdito da morte.

CONCLUSÕES:
A “juventude”, ela mesma como um dos segmentos da sociedade, tem significativa capacidade de absorver e exteriorizar elementos das tensões mais profundas da realidade social, interferindo e modificando essa mesma realidade. Portanto, pesquisas sobre a diversidade dos grupos juvenis mostram-se fundamentais para a compreensão da dinâmica e de possíveis transformações da sociedade. Por outro lado, a análise de culturas juvenis que tematizam a morte, nos permite desvendar heterogeneidades no que diz respeito a um tema comum a toda sociedade, qual seja, o tema da morte, todavia, tema, cujos significados são negociados nas práticas dos sujeitos. Uma das conclusões desta pesquisa é a de que há uma relação de tensão entre a significação da morte elaborada na cultura gótica juvenil e a significação predominante na sociedade da qual a mesma faz parte. Lembramos, aqui, que a relação dos indivíduos com o tema da morte enuncia sempre sobre a relação dos indivíduos com o que seria o tema da vida. Trazer a morte para perto de si, simbolicamente, num contexto no qual a tendência é a repulsa, é significativo de um questionamento, por parte desses jovens, sobre o aniquilamento do sujeito na “sociedade do trabalho”, no momento da morte do corpo, colocando-nos a questão se a pessoa do corpo já morrera, antes de sua morte biológica.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Juventudes, Morte, Cultura Gótica

E-mail para contato: carusagabriela@yahoo.com.br