60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

GRUPOS DE ESPERA, ALTERNATIVA À ORIENTAÇÃO SEXUAL: A TÉCNICA EM QUESTÃO

Gisleine Vaz Scavacini de Freitas1
Lírian Carolina Baltieri da Silva2
Paula Tognelli Decev3

1. Prof. Dr - Curso de Psicologia- UNIMEP - Orientador
2. Curso de Psicologia - UNIMEP - Estagiária
3. Curso de Psicologia - UNIMEP - Estagiária


INTRODUÇÃO:
A sexualidade ultrapassa os limites da biologia, implica em relações sociais e vínculos afetivos, em desejo e projeto, nas decisões e indecisões sobre escolhas afetivas e tantas outras vertentes da experiência. A cultura revela o sexual como produto dos fatos objetivos e subjetivos acumulados e elaborados pela humanidade no social. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, os jovens devem ser encarados como sujeitos de direitos, e assim, protagonizadores de sua própria história. A sociedade deve garantir-lhes o acesso à informação e a programas de educação sexual, e o direito ao exercício do prazer de uma sexualidade saudável e responsável. Pensando nisso, surgiu a proposta de se realizar grupos de espera em educação sexual, tendo em vista ultrapassar a transmissão de informações sobre o corpo e a biologia para se estender às esferas da afetividade, da sociabilidade e da ética, sem moralismos e nem a doutrinação dos jovens para adotarem valores alheios. Tem-se como objetivo descrever como esses grupos de esperas são efetuados em um serviço de saúde organizado para o atendimento de adolescentes numa cidade de 350 mil/hab do estado de São Paulo, enfatizando os aspectos técnicos do facilitador grupal, um estagiário do Curso de Psicologia.

METODOLOGIA:
O grupo de espera é o primeiro contato de adolescentes (10 e 21 anos) no serviço de saúde, ocorrendo antes da consulta médica ginecológica. O grupo é aberto e sem número limitado de participantes, podendo participar seus acompanhantes. Ocorrem semanalmente, 2 vezes por semana e com duração mínima de 40min. É facilitado por uma estagiária de psicologia, podendo contar também com o auxílio de uma enfermeira ou de uma auxiliar de enfermagem. Os temas abordados nos grupos versam sobre aspectos da sexualidade: cadeia de transmissão de DST e HIV/AIDS, diferenças de gêneros, auto-estima, masturbação, relacionamentos interpessoais, maternidade e paternidade, DST, e outros do interesse e/ou indicados pelos jovens. Devido à sua dinâmica específica, onde os participantes mudam a cada semana, o grupo não pretende uma continuidade temática. A facilitadora inicia os grupos se apresentando e convida os participantes a fazerem o mesmo. Logo após, informa sobre o funcionamento, dia e horários e sobre o objetivo do encontro. É estimulada a interação através de dinâmicas de grupo. O diário de campo é o instrumento utilizado e construído ao término de cada grupo pela estagiária de Psicologia para a coleta de dados.

RESULTADOS:
Cada encontro no grupo tem início, meio e fim próprio, exigindo que as situações trazidas sejam esclarecidas até o término do encontro. Por isso as intervenções são curtas, evitando-se períodos muito longos de esclarecimentos e respostas explicativas por antecipação, para que possa haver diálogo espontâneo entre os participantes, já que a bagagem de informações, valores, vivências e as posturas que trazidas, demarcam o caminho das discussões, enriquecendo-as. Os conteúdos dos grupos são mais bem aproveitados quando brotam de vivências reais dos participantes, ocorrendo assim uma aprendizagem efetiva. Pontos considerados “deformações” ou “informações erradas”, aos olhos do facilitador, podem ser os mais naturais na experiência do jovem e merecem ser discutidos. Para que os participantes possam se sentir à vontade ao participar, o facilitador deve tratar dos temas o mais direta e naturalmente possível. Os adolescentes tendem a aceitar mais facilmente as opiniões de outros adolescentes, já que a identificação é maior entre eles, devido às semelhanças de idade e vivência, o que pode mobilizá-lo a pensar e futuramente modificar atitudes, pois visualiza um problema através de diversos ângulos e constrói possíveis estratégias de ações.

CONCLUSÕES:
O grupo de espera oferece, ao atender as necessidades imediatas de adolescentes, a acolhida, estabelecendo um vínculo com a instituição. O importante neste tipo de atendimento é o clima, a atitude, o ambiente, isto é, o acolhimento oferecido. O grupo de espera mostrou-se como um método útil para facilitar a reflexão, primeiro passo para desenvolver uma atitude responsável frente à sexualidade. Também proporcionou a valorização do diálogo, do autoconhecimento para uma melhor integração entre sentir, pensar e agir. Apresentou-se como uma estratégia imediata para suprir a ruptura entre a demanda comunitária de assistência e a resposta institucional. Pode-se dizer que atinge um problema bastante importante da área da Saúde: a falta de preparo e/ou disponibilidade de profissionais da Saúde para a educação sexual e a falta de esclarecimentos e orientação dos jovens. A troca de experiências entre os participantes, modifica o isolamento sociocultural e favorece a informação, a desmistificação, a reflexão, a integração e a reapropriação em relação à sexualidade atuando de modo socializante. Entretanto exige do facilitador grupal uma real compreensão de seus objetivos e domínio técnico para que seja proveitoso o curto espaço de tempo da espera dos adolescentes pela consulta médica.



Palavras-chave:  Grupos de espera, orientação sexual, psicologia da saúde

E-mail para contato: gvfreita@unimep.br