60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

A PATOLOGIZAÇÃO DA CRIANÇA NO PROCESSO DE LEITURA ESCRITA

Sonia Maria Sellin Bordin1
Maria Irma Hadler Coudry1

1. Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
O objetivo deste trabalho é apresentar uma posição contrária frente à naturalidade com que têm sido patologizadas crianças, aprendizes de leitura/escrita, em particular aquelas a quem foi atribuído um diagnóstico como: dislexia; transtorno do déficit de atenção, associado ou não à hiperatividade; distúrbio de aprendizagem e transtorno desafiador opositor. Tal patologização passa a funcionar como uma barreira para o aprendizado formal da escrita e como uma espécie de profecia que se cumpre à medida que tanto a criança quanto a escola passam a corresponder a essa (suposta) condição desviante. O que se observa nas escolas, nas clínicas e na mídia é um forte preconceito em relação ao processo normal de aquisição e uso da escrita/leitura, vinculado a uma visão corretiva e normativa de língua e de linguagem, o que resulta na inapropriada patologização de crianças e jovens que estão passando por esse processo. A patologização, nomeada de diversas formas, tem sido uma justificativa eficaz para o fracasso escolar na infância e para a exclusão do sistema produtivo na vida adulta. Essa visão busca localizar, apenas no corpo da criança, a causa de seu insucesso escolar, eximindo a escola, as políticas educacionais e a família de uma responsabilidade que deveria ser partilhada por todos.

METODOLOGIA:
A Metodologia deste estudo se baseia em práticas com a linguagem falada e escrita desenvolvidas no CCazinho, IEL/UNICAMP, em um ambiente comprometido com uma visão sócio-histórica de linguagem, de cérebro e de sujeito. O CCazinho é um lugar onde se pratica pesquisa (iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado), docência (destinada a alunos de diferentes cursos de graduação da UNICAMP que freqüentam uma disciplina formadora de cuidadores que acompanham semanalmente essas crianças) e extensão (voltada para uma comunidade composta de crianças, suas famílias e professores/escolas). É também um lugar de práticas com a linguagem, práxis/corpo e percepção onde pesquisadores, cuidadores e crianças, lêem, escrevem, soletram, jogam, dramatizam, cantam, conversam sobre acontecimentos da vida, freqüentam vários espaços da universidade (biblioteca, exposições, institutos, cantinas, praças, ginásio, auditórios) ouvem/contam histórias, lancham, pintam, dançam e assistem a desenhos/filmes. Para dar visibilidade aos nossos propósitos serão tomados como procedimentos dados dos cadernos escolares das crianças e dados por elas produzidos no CCazinho.

RESULTADOS:
Não se nega que haja patologias de fato, mas se argumenta contra o excesso de patologização e sua banalização - que tomam conta dos dias atuais. Nossa proposta se funda na despatologização de processos normais para enfrentar a corrente hegemônica – psicométrica, desinformada, idealizada que ainda domina a escola pública e a clínica tradicional; assim como no enfrentamento do preconceito dirigido à variedade oral estigmatizada, e a seus sujeitos, caracterizada de antemão como da ordem da patologia - quem fala errado pensa também errado – funciona como lema para excluir pessoas e desqualificá-las para certos domínios do sistema produtivo. Despatologizar significa que o corpo da criança perde o lugar da marca de patologia para revelar um lugar próprio do sujeito. A experiência de ler e escrever com as crianças, vivida no CCazinho, mostra o que já se sabe: os chamados erros são dificuldades que podem ser superadas e não se associam à falta de capacidade ou à patologia, por parte das crianças. Mas revelam muito sobre a relação da criança com a fala, a linguagem seu corpo e o escrito; sobre o modo como o processo de aquisição é conduzido, bem como sobre a necessidade de se ampliar o olhar sobre o que se apresenta como dificuldade de leitura/escrita.

CONCLUSÕES:
Não se nega que haja patologias de fato, mas se argumenta contra o excesso de patologização e sua banalização - que tomam conta dos dias atuais. Nossa proposta se funda na despatologização de processos normais para enfrentar a corrente hegemônica – psicométrica, desinformada, idealizada que ainda domina a escola pública e a clínica tradicional; assim como no enfrentamento do preconceito dirigido à variedade oral estigmatizada, e a seus sujeitos, caracterizada de antemão como da ordem da patologia - quem fala errado pensa também errado – funciona como lema para excluir pessoas e desqualificá-las para certos domínios do sistema produtivo. Despatologizar significa que o corpo da criança perde o lugar da marca de patologia para revelar um lugar próprio do sujeito. A experiência de ler e escrever com as crianças, vivida no CCazinho, mostra o que já se sabe: os chamados erros são dificuldades que podem ser superadas e não se associam à falta de capacidade ou à patologia, por parte das crianças. Mas revelam muito sobre a relação da criança com a fala, a linguagem seu corpo e o escrito; sobre o modo como o processo de aquisição é conduzido, bem como sobre a necessidade de se ampliar o olhar sobre o que se apresenta como dificuldade de leitura/escrita.

Instituição de fomento: CNPq e Capes



Palavras-chave:  Neurolingüística, Despatologização, Leitura/escrita

E-mail para contato: soniasellin@uol.com.br