60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DO ESTRATO HERBÁCEO-ARBUSTIVO DIVIDIDO EM DOIS COMPONENTES: ESPÉCIES RESIDENTES E TRANSIENTES; NUM TRECHO DE FLORESTA OMBRÓFILA DENSA SUBMONTANA, NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, NÚCLEO PICINGUABA, UBATUBA, SP.

Bruno Almozara Aranha1
Fernando Roberto Martins1, 2

1. UNICAMP - IB / Departamento de Botânica
2. Professor Doutor / Orientador


INTRODUÇÃO:
Levantamentos sobre a composição e estrutura da comunidade na Floresta Ombrófila Densa e em outras florestas tropicais, em sua maioria, são centrados no estudo de indivíduos das espécies lenhosas que apresentam diâmetro do tronco à altura do peito (DAP) igual ou maior que 10 cm. Estudos em florestas tropicais que incluem todas as formas de vida vegetal ou algumas outras formas não lenhosas têm demonstrado a importância dessas para a estrutura e riqueza da comunidade. A exclusão do estrato herbáceo-arbustivo nos estudos que buscam padrões acerca da comunidade pode obscurecer os resultados, pois o componente herbáceo-arbustivo exerce uma competição inicial com plântulas de indivíduos arbóreos que têm o potencial de atingir o dossel. As espécies presentes no estrato herbáceo-arbustivo podem ser divididas em dois componentes que competem pelos mesmos recursos nas fases iniciais do desenvolvimento: as residentes e as transientes. As espécies residentes passam toda a sua existência subordinadas às condições do dossel E as espécies transientes, incluindo as que não se tornarão emergentes, só estão provisoriamente enquanto jovens no estrato herbáceo-arbustivo. O nosso objetivo e descrever e comparar a composição e estrutura desses dois componentes do estrato herbáceo-arbustivo.

METODOLOGIA:
Em uma área de 1 ha, localizada nas coordenadas 23º22’0,4” S e 45º05’0,24” W, no núcleo Picinguaba, do Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba, SP, instalamos no centro de 50, dos 100 quadrados de 10 x 10 m que compões a área de 1 ha, parcelas de 3 x 3 m. Amostramos todas as angiospermas com altura a partir de 30 cm até perímetro à altura do peito (PAP)  15 cm. Desses indivíduos, medimos a altura e o diâmetro no nível do solo. As identificações seguiram o sistema APG II. Classificamos as espécies em transientes, aquelas que os indivíduos alcancem PAP acima de 15 cm. Calculamos os descritores de diversidade e os descritores fitossociológicos, e construímos curvas de abundância para a comunidade total e para os componentes residente e transiente. Para o cálculo dos descritores de diversidade, em cada componente, reamostramos 600 indivíduos, com 10.000 iterações, e calculamos, utilizando a mediana, o índice de Shannon (H’) e a dominância de Berger-Parker (D). Para as reamostragens e descritores de diversidade foi utilizado o aplicativo EcoSim 7.0 e para as curvas de abundância utilizamos o aplicativo PC-ORD 5.0.

RESULTADOS:
Amostramos 1.336 indivíduos de 179 espécies, 104 gêneros e 46 famílias. Classificamos 49% (30 espécies) dos indivíduos como residentes e 51% (149 espécies) como transientes. O H’ total encontrado foi de 4,12 e o D = 0,11. Já para os componentes residente e transiente o H’600 foi de 2,44 e 4,35 e o D600 foi de 0,23 e 0,08, respectivamente. As famílias com o maior número de espécies para o componente residente foram: Rubiaceae e Arecaceae; e para o componente transiente foram: Myrtaceae, Fabaceae e Rubiaceae. No componente residente a espécie com o maior valor de importância foi Psychotria leitana C. M. Taylor (Rubiaceae), seguida de Bactris hatschbachii Noblick ex A. J. Hend. (Arecaceae). No componente transiente a espécie com o maior valor de importância foi Eriotheca pentaphylla (Vell.) A. Robyns (Malvaceae), seguida por Euterpe edulis Mart. (Arecaceae). A densidade e a área basal do componente residente foi 14.578 ind.ha-1 e 0,326 m².ha-1, respectivamente, enquanto que, para o componente transiente a densidade e área basal foi 15.111 ind.ha-1 e 0,803 m².ha-1, respectivamente. As curvas de abundância demonstram que o componente residente está mais mal distribuído, com poucas espécies com muitos indivíduos e muitas espécies raras do que comparado com o componente transiente.

CONCLUSÕES:
O componente transiente é significativamente mais diverso do que o residente. Ambos componentes são representados por praticamente o mesmo número de indivíduos, embora, a riqueza seja muito maior para o componente transiente. Essa diferença em riqueza se reflete na maior dominância encontrada para o componente residente. A família Rubiaceae se destaca como uma das mais importantes na Floresta Ombrofila Densa Submontana, pois foi presente com um grande número de espécies em ambos os componentes. No estrato herbáceo-arbustivo os indivíduos transientes, mesmo que jovens, já apresentam área basal superior aos indivíduos residentes, os quais foram amostrados, também, indivíduos adultos. O componente residente é representado por um pequeno número de espécies que perfazem a maior parte dos indivíduos e um grande número de espécies raras. Apesar da menor diversidade, em comparação com o componente transiente, as espécies residentes representam uma porção da diversidade que não deve ser ignorada.

Instituição de fomento: FAPESP, FUNCAMP, Projeto Biota - Gradiente Funcional



Palavras-chave:  estrato herbáceo-arbustivo, Mata Atlântica, diversidade

E-mail para contato: baaranha@unicamp.br