60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 3. Genética Humana e Médica

DANOS CROMOSSÔMICOS E APOPTOSE EM CÉLULAS ESFOLIADAS DO EPITÉLIO BUCAL: UMA AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO COM O HÁBITO DE FUMAR E COM O CÂNCER ORAL

Julia Paula Ramos Lessa1
Lavínia Tércia Magalhães Dórea2
Eneida de Moraes Marcílio Cerqueira3

1. Departamento de Saúde/ UEFS
2. Departamento de Ciências Biológicas/ UEFS
3. Prof. Dr.- Departamento de Ciências Biológicas/ UEFS/ Orientadora


INTRODUÇÃO:
O câncer figura entre os mais relevantes problemas de Saúde Pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, constituindo-se na segunda causa de morte por doença no Brasil. Dados do Ministério da Saúde estimam que em 2008 ocorreram de 466.730 casos novos de câncer sendo que, destes, 104.160 têm localização primária na cavidade oral. O câncer é uma doença que resulta de alterações genéticas e se desenvolve, na maioria das vezes, pela ação genotóxica de agentes ambientais, os agentes mutagênicos. O consumo do tabaco é considerado o principal fator de risco para o câncer na cavidade oral sendo componentes do cigarro efetivos na indução de danos cromossômicos. O Teste de Micronúcleo em células esfoliadas do epitélio oral proposto em 1982 por Stich et al. vem sendo largamente empregado no biomonitoramento de populações expostas a agentes mutagênicos e carcinogênicos e, também, para avaliação da ocorrência de danos cromossômicos no desenvolver das lesões pré-neoplásicas. O presente estudo objetivou avaliar, através do uso do Teste de Micronúcleo, a ocorrência de danos cromossômicos e de apoptose em células esfoliadas do epitélio oral de indivíduos com lesões pré-malignas e malignas deste epitélio e a possível interação com o hábito de fumar.

METODOLOGIA:
A amostra incluiu o Grupo I, 18 indivíduos encaminhados ao Centro de Referência de Lesões Bucais da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) com diagnóstico clínico e histopatológico de lesões pré-malignas e malignas da mucosa oral e Grupo II, 20 indivíduos não fumantes, encaminhados às clínicas da UEFS, que responderam um questionário aplicado após o consentimento livre e esclarecido. O Grupo I foi submetido a exame clínico, exame anatomopatológico e análise citogenética. O Grupo II, a exame clínico e análise citogenética. Foram preparadas lâminas com o material coletado da mucosa bucal das regiões com lesão (Grupo I) e regiões de aspecto normal (Grupos I e II) que foram fixadas em solução de metanol:ácido acético (3:1) e coradas/contra-coradas pelo Schiff e Fast Green. A análise citogenética foi realizada sob microscopia óptica em teste cego. Foram contabilizados os micronúcleos (MN) e alterações nucleares degenerativas indicativas de apoptose: cariorréxis, cromatina condensada e picnose. Na avaliação das diferenças entre os Grupos foi empregado o teste de qui-quadrado. A análise relativa à ocorrência de MN e fenômenos degenerativos nucleares foi feita com teste condicional para comparação de proporções em situações de eventos raros. O nível de significância foi de 5%.

RESULTADOS:
Foi observado que a ocorrência de micronúcleos nas células esfoliadas da mucosa oral dos indivíduos do Grupo I, tanto nas áreas com e sem lesão, apresentaram uma freqüência significativamente maior de micronúcleos quando comparadas às células obtidas da mucosa oral normal dos indivíduos do Grupo II (p< 0,001). A avaliação da ocorrência de micronúcleos comparando as áreas com lesão e sem lesão dos indivíduos do Grupo I, não apontou diferença significante (p> 0,10). A avaliação de alterações indicativas de apoptose revelou que a ocorrência de apoptose no Grupo I (considerando as áreas com lesão) é significativamente maior do que no Grupo II (p< 0,001). Diferença semelhante foi observada quando feita comparação entre os Grupos levando em conta as células obtidas das áreas de mucosa normal dos indivíduos do Grupo I (p< 0,001). Considerando-se as áreas com lesão e sem lesão dos indivíduos do Grupo I, a avaliação da diferença da ocorrência de apoptose revelou que nas áreas de lesão houve um aumento significativo de apoptose (p< 0,001). A ocorrência de micronúcleos e de apoptose foi detectada em níveis significativamente maiores em função do hábito de fumar (p< 0,001).

CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos permitem concluir que o processo de transformação maligna se faz acompanhar de um aumento na freqüência de danos cromossômicos e que os componentes do cigarro são efetivos na indução de danos cromossômicos e a apoptose é induzida pelos efeitos genotóxicos de componentes do cigarro. O Teste de Micronúcleo pode ser utilizado no biomonitoramento de indivíduos fumantes e na avaliação da freqüência de danos cromossômicos nas lesões pré-malignas e malignas do epitélio oral.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Micronúcleos, Apoptose, Câncer oral

E-mail para contato: julia.lessa@gmail.com