60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura

O TRATAMENTO DA METONÍMIA NO ÂMBITO DA RETÓRICA E SEU EMPREGO EM ODES QUINHENTISTAS

Eronildes Teixeira Amaral1
Eronildes Teixeira Amaral1, 2
Marcello Moreira1

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários / UESB
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho consiste da abordagem de um dos tropos da retórica, a metonímia. Seu emprego pode ser visualizado nas diferentes estruturas metonímicas empregadas em produções poéticas quinhentistas e seiscentistas, que ganham efetiva inteligibilidade quando as contrastamos com as outras estruturas tropológicas que se lhe assemelham mais ou menos, como a metáfora, a preterição e a sinédoque. Parte-se aqui de pesquisas desenvolvidas por Renato Barilli e de fontes primárias, preceptivas retóricas compostas tanto entre os antigos quanto nos séculos do que se convencionou chamar Idade Moderna: Cícero, Quintiliano, contando entre os primeiros, e Bartolomeu Alcaçar, como representante dos modernos. Apresentaremos definições de Metonímia encontradas nas fontes acima discriminadas, a fim de demonstrar a resistência de uma tradição de reflexão sobre a linguagem dos gregos e latinos à Europa dos séculos XVI e XVII. Como os tropos se encontram na seção da retórica denominada elocução, e como esta só pode ser entendida quando integrada ao sistema de que faz parte, abordaremos, mesmo que de forma perfunctória, a invenção e a disposição, para, somente então, nos determos na elocução. Visaremos, por fim, integrar a metonímia no âmbito da elocução.

METODOLOGIA:
O corpus da pesquisa constitui-se das seguintes fontes primárias, a Retórica, escrito por Renato Barilli, o Retórica a Herênio, atribuído a Cícero, O Institutio Oratoria, de Quintiliano, e o Delicioso Jardim da Retórica, de Bartolomeu Alcaçar. Valemo-nos também do Manual de Retórica Literária, de Heinrich Lausberg, que empreende uma exposição descritiva das informações contidas nas preceptivas antigas. Primeiramente, buscou-se fazer uma leitura minuciosa de todo material, para, em seguida, tecer uma análise comparativa, examinando os pontos confluentes e divergentes nas propostas desses teóricos no que tange à definição de retórica e de suas partes ou seções constituintes. Estudamos a invenção, a disposição e a elocução no âmbito dos três grandes gêneros da retórica, ou seja, o demonstrativo, o deliberativo e o epidítico. Após o estudo sobre a retórica e suas seções, passamos àquele da elocução, de forma detida, e na elocução centramos nossos esforços na compreensão do ornatus, sobretudo em sua forma tropológica. Analisamos assim os capítulos das fontes por nós selecionadas em que se trata do conjunto dos quatro mais importantes tropos, metonímia, metáfora, preterição e sinédoque, para, por contraste, compreender melhor a natureza específica da metonímia.

RESULTADOS:
O estudo das fontes primárias é de fundamental importância para a compreensão da elocução e das estruturas tropológicas, mormente porque ele nos propicia contato com uma tradição de reflexão sobre a linguagem oratória e poética que é em si contraditória, pois, como pudemos perceber, não há sequer uma circunscrição comum do conjunto de tropos e também uma definição de cada um deles que se repita ipsis litteris em todos os tratados por nós compulsados. Estas listas díspares de tropos já encontradas entre os antigos permitem-nos, por outro lado, estabelecer filiações entre os tratados antigos e os tratados modernos, dos séculos XVI e XVII, que os apropriam e os repetem. Os inúmeros exemplos apresentados mostram que a metonímia consiste na utilização de um termo por outro, do qual resulta uma relação de contigüidade ou pertinência (autor pela obra, lugar pelo produto, efeito no lugar da causa, sinal pela coisa significada, o invento no lugar do inventor) entre ambos. Portanto, não deve ser empregada aleatoriamente, pois é uma figura que requer termos adequados a serem substituídos. O mais importante é entender como a metonímia visa, assim como as outras estruturas translatas, a produzir o delectare.

CONCLUSÕES:
Pelo que foi apresentado ao longo do estudo, conclui-se que, no que tange ao tratamento da metonímia nos textos aqui explicitados, há uma profusão de informações convergentes e divergentes. Por exemplo, alguns autores definem metonímia como a relação de substituição do conteúdo pelo continente, mas não recomendam sua reversão, enquanto outros a defendem. Pode-se dizer que o entendimento dessas convergências e divergências na definição de um tropo e de seus possíveis usos é o que faz a riqueza da arte retórica. A metonímia emerge no âmbito da elocutio, elemento de uma expressão lingüística, cujo discurso demanda preceitos de artes como a gramática e a retórica, sendo que da primeira se extraem as regras que conduzem à puritas, necessária a clareza do discurso, e da segunda as normas que incitam à persuasão, sendo essa última indispensável para o convencimento do auditório. Por isso, o percurso desenhado pela retórica, desde seu surgimento, na cultura grega, é essencial para entender os procedimentos desempenhados pela elocutio, pelo ornatus de palavra, no qual está inserido a metonímia. Esta se peculiariza pelo locus a causa, o que a distingue de outras estruturas tropológicas.

Instituição de fomento: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / UESB; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / UESB.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Elocutio, Metonímia, Retórica

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