60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia

CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNERO E REPRESENTAÇÃO FÍLMICA

Danielle Tega1

1. Universidade Estadual Paulista 'Júlio de Mesquita Filho' - Campus Araraquara


INTRODUÇÃO:
O impacto causado pela criação e difusão das narrativas baseadas nas imagens em movimento faz do cinema um importante meio para o estudo das representações de gênero na sociedade. Por esse motivo, proponho discutir algumas posições teóricas de análise fílmica a partir de uma perspectiva de gênero – que implica uma reflexão sobre a construção de masculinidades e feminilidades de modo relacional, incorporando dimensões subjetivas e simbólicas que ultrapassam, ou questionam, as conformações biológicas. Procuro perceber como algumas teóricas do cinema trabalham a questão da realidade e da representação, fazendo um estudo principalmente das posições de E. Ann Kaplan (1995), Laura Mulvey (1983), Teresa de Lauretis (1994; 2003) e Miriam Adelman (2003). O objetivo é problematizar as diferenças, aproximações e complementações entre essas autoras, destacando suas principais contribuições e/ou limites. Trata-se de pensar uma perspectiva capaz de questionar as percepções estanques de ‘masculino’ e ‘feminino’, e de levar em consideração as ambigüidades que perpassam características e atributos de feminilidades e masculinidades.

METODOLOGIA:
O método utilizado para problematizar as reflexões que partem de uma perspectiva de gênero para a análise fílmica foi o estudo de textos e artigos de importantes teóricas dessa questão. Procurei confrontar as posições das autoras após uma leitura sistemática dos seguintes textos selecionados: Vozes, olhares e gênero no cinema, de Miriam Adelman (2003); Tecnologia do gênero e Imagenação, de Teresa de Lauretis (1994; 2003); A mulher e o cinema, de E. Ann Kaplan (1995); e Prazer visual e cinema narrativo, de Laura Mulvey (1983). Optei por ressaltar as principais contribuições e/ou limites apresentados pelas autoras, tendo como referencial teórico os apontamentos de Joan W. Scott e sua proposta de descontrução da oposição masculino/feminino – principalmente em seus textos Deconstuir igualdade-diferencia: usos de la teoria posestructuralista para el feminismo (1994) e Gênero: uma categoria útil de análise histórica (1990).

RESULTADOS:
Após o estudo das diferentes posições teóricas, acredito que Teresa de Lauretis é uma das mais questionadoras dos exames que consideram apenas percepções binárias e estanques entre ‘masculino’ e ‘feminino’. A autora assinala a necessidade de estudar as imagens para compreender a visibilidade ou a ocultação de questões relevantes na representação social, sem abandonar a complexa relação entre o mundo construído pelos filmes e o mundo real. Outra importante posição teórica é a assumida por Miriam Adelman, pois considera as possibilidades de mudanças sociais e de representação em suas complexas inter-relações – aproximando suas análises às de Joan W. Scott, para a qual os significados são sempre relativos enquanto construções particulares em contextos específicos.

CONCLUSÕES:
Partindo dos resultados apresentados, verifico que os objetivos pretendidos foram atingidos. Contudo, vejo necessidade de uma aproximação entre a perspectiva de gênero e a proposta de Fredric Jameson (1995): assim como o autor descreve em Reificação e utopia na cultura de massa, acredito que os elementos utópicos e ideológicos presentes nos filmes devem ser contemplados no estudo dos mesmos, pois estimulam a possibilidade de mudança nas representações. Para a observação desses elementos, os recursos cinematográficos (montagem, som, objetos, personagens, entre outros) são importantes instrumentos de análise. Aliado a isso, a perspectiva de gênero permite compreender os paradoxos, tensões e fissuras das atualizações das convenções de feminilidade (e, por relação, de masculinidades) presentes nos filmes.

Instituição de fomento: FAPESP



Palavras-chave:  Gênero, Cinema, Representação Social

E-mail para contato: dani.tega@uol.com.br