60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

A INTERDISCIPLINARIDADE E O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LINGÜÍSTICA NA UNICAMP

Ana Cláudia Fernandes Ferreira1

1. UNICAMP


INTRODUÇÃO:
Este trabalho realiza uma análise dos sentidos de interdisciplinaridade em documentos institucionais relativos ao processo de institucionalização da lingüística na Unicamp. O objetivo desta análise é produzir uma compreensão sobre o papel da demanda pela interdisciplinaridade no âmbito das condições materiais específicas da constituição da lingüística nesta universidade. Este trabalho, inscrito no programa interinstitucional História das Idéias Lingüísticas no Brasil - HIL (Projeto Capes/Cofecub desenvolvido no âmbito da Unicamp, USP e ENS-LSH/Lyon), faz parte de minha pesquisa de doutorado, que objetiva estudar os sentidos de lingüística no processo de institucionalização da lingüística na Unicamp. Com este trabalho pretendo trazer uma contribuição específica para a história da lingüística em instituições universitárias brasileiras.

METODOLOGIA:
O trabalho procurou analisar diversos materiais institucionais de arquivo relativos à história lingüística na Unicamp e à história da própria universidade. Dentre os materiais analisados, alguns dos mais relevantes são os seguintes: a Lei de Diretrizes e Bases de 1961, o Relatório da Comissão Organizadora da Universidade de Campinas, de dezembro de 1966; a Proposta de Criação do Grupo de Lingüística no Instituto de Ciências Humanas, apresentada pelos professores Fausto Castilho e Rubens Murillo Marques ao Reitor Zeferino Vaz, em 1968; diversos planos de curso de Lingüística da década de 1970; a Proposta Instituto de Estudos da Linguagem – IEL, elaborada sob orientação de Antonio Candido de Mello e Souza, em 1976; e o atual Regimento Interno do IEL. Como procedimento analítico, buscou-se observar como a questão da interdisciplinaridade era significada nesses textos, tanto em relação ao seu papel na constituição da universidade, quanto em relação à constituição da lingüística, inicialmente no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e posteriormente no Instituto de Estudos da Linguagem.

RESULTADOS:
Estão fortemente presentes no Relatório da Comissão Organizadora da Universidade de Campinas as necessidades de ‘integração’ e ‘centralização’ de Institutos, produzidas pela criação da Lei de Diretrizes e Bases, de 1961, que definia as Universidades ‘pela reunião, sob administração comum, de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior’. Um aspecto interessante no Relatório é que ‘centralização’ não funciona apenas nesse domínio do administrativo, mas desliza para o domínio disciplinar. ‘Centralização’ significa, ao mesmo tempo, como ‘ensino comum das disciplinas básicas’ e ‘administração integrada’ dos Institutos. Na Proposta de Criação do Grupo de Lingüística no Instituto de Ciências Humanas também vemos funcionar esse deslizamento do administrativo para o disciplinar: a instalação dos Institutos no campus traria, por ‘conseqüência’, ‘as condições preliminares para a integração interdisciplinar dessas unidades’. Ao lado disso, a introdução da lingüística ‘no esquema integrado da Unicamp’ facilitaria ‘o trabalho interdisciplinar numa série de pontos-de-intersecção’. Essa relação entre o administrativo e o disciplinar também está presente em diversos projetos da Lingüística, de um Instituto de Letras, do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL e continua funcionando no atual regimento do IEL.

CONCLUSÕES:
Compreender o processo de constituição da lingüística na Unicamp exige levar em conta que a concepção da lingüística como ciência piloto das ciências humanas, naquele momento, também colocava em jogo a questão da interdisciplinaridade. No entanto, o processo de legitimação dos saberes não é independente das condições institucionais em que ele é produzido. Ou seja, não é possível compreender o papel da demanda pela interdisciplinaridade na história da lingüística na Unicamp, sem considerar esse papel na história da própria universidade. A partir disso, é possível compreender como a questão da interdisciplinaridade, sempre perpassada pelas relações entre o administrativo e o disciplinar, foi tão significativa na sustentação da lingüística, não em uma Faculdade de Letras, mas em um Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e, posteriormente, em um Instituto de Estudos da Linguagem.

Instituição de fomento: FAPESP



Palavras-chave:  História das idéias lingüísticas, lingüística, interdisciplinaridade

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