60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 6. Odontopediatria

ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO POR MAMADEIRA E ALTERAÇÕES OCLUSAIS ÂNTERO-POSTERIORES NA DENTIÇÃO DECÍDUA

Rívea Inês Ferreira1
Nadia Salem Abdel Jabbar1
Helio Scavone-Junior1
Paulo Eduardo Guedes Carvalho1
Flávio Vellini-Ferreira1

1. UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO - UNICID


INTRODUÇÃO:
A Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, preconiza a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida da criança. Em adição, desaconselha o uso de mamadeiras e chupetas, sugerindo que causam uma redução no tempo de amamentação e, conseqüentemente, ocorre interferência na demanda por alimentação e na dinâmica da musculatura bucal. O ato da sucção ao peito promove o adequado desenvolvimento das estruturas do sistema estomatognático, ao proporcionar o equilíbrio das forças musculares de contenção interna e externa. Por outro lado, o uso da mamadeira durante o aleitamento infantil tem sido relacionado ao estabelecimento de hábitos de sucção não nutritivos e alterações oclusais. O aleitamento por mamadeira requer atividade muscular de baixo impacto e pode interferir no desenvolvimento satisfatório das bases ósseas apicais e do palato duro. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi investigar a associação entre o aleitamento por mamadeira e as prevalências de sobressaliência aumentada e relação de caninos em Classe 2, na dentição decídua. Além da contribuição positiva à Odontologia e a outras áreas biomédicas, como Fonoaudiologia e Pediatria, esta pesquisa visou ratificar a importância do aleitamento materno na oclusão decídua.

METODOLOGIA:
Foram avaliadas crianças de ambos os gêneros, na faixa etária dos 3 aos 6 anos, matriculadas em 11 instituições públicas de ensino infantil da cidade de São Paulo. O método e a duração do aleitamento foram pesquisados em questionários respondidos pelos pais/responsáveis. Três cirurgiões-dentistas calibrados (k: 0,9-1,0 e Rs > 0,90) realizaram os exames das relações ântero-posteriores dos arcos dentários. Foram selecionadas 1172 crianças (594 meninas e 578 meninos) com base nos seguintes critérios de inclusão: termos de consentimento livre e esclarecido assinados; questionários respondidos adequadamente; ausência de histórico de tratamento ortodôntico ou fonoaudiológico; dentição decídua completa, sem a presença de dentes permanentes irrompidos ou em erupção; ausência de lesões de cárie proximais e/ou anomalias dentárias; ausência de síndromes ou fissuras lábio-palatais. A amostra foi separada em 4 grupos conforme o aleitamento. G1: nunca utilizaram mamadeira; G2: aleitamento exclusivo por mamadeira; G3: aleitamento misto, com uso de mamadeira interrompido antes dos 3 anos de idade e G4: aleitamento misto, com uso de mamadeira interrompido entre 3 e 4 anos de idade. O efeito do uso de mamadeira sobre a oclusão foi analisado por meio de regressão logística (α = 0,05).

RESULTADOS:
Considerando a amostra total, observou-se que 17% não receberam aleitamento artificial. Entretanto, aproximadamente 46% receberam aleitamento misto, sendo que o uso da mamadeira foi interrompido entre os 3 e os 4 anos de idade. Apenas uma minoria (10%) recebeu aleitamento exclusivo por mamadeira. A sobressalência normal (de 0 a 2 mm) e a relação de caninos em Classe 1 foram as características mais prevalentes. A mordida cruzada anterior e a relação de caninos em Classe 3 foram as alterações oclusais menos freqüentes. As prevalências de sobressaliência aumentada foram de: 25,6% (G1); 37,6% (G2); 35,6% (G3) e 43,1% (G4). As freqüências da relação de caninos em Classe 2 equivaleram a: 30,2% (G1); 47,4% (G2); 42,4% (G3) e 41,4% (G4). O efeito do uso de mamadeira sobre a prevalência das alterações oclusais em evidência foi significativo nos grupos G2, G3 e G4. Notavelmente, as chances de se diagnosticar sobressaliência aumentada seriam 2,27 vezes maiores em crianças do grupo G4 em comparação ao G1, p < 0,001. As crianças do grupo G2 teriam o dobro de chances de apresentar relação de caninos em Classe 2, se comparadas ao grupo G1 (p < 0,001). Não houve dimorfismo entre os gêneros para as prevalências de sobressaliência aumentada e relação de caninos em Classe 2.

CONCLUSÕES:
Sugere-se que o aleitamento por mamadeira está associado com prevalências mais elevadas de sobressaliência aumentada e relação de caninos em Classe 2, na dentição decídua. De um modo geral, as crianças que recebem aleitamento misto ou artificial exclusivo teriam mais chances de apresentar essas alterações oclusais, em comparação às que nunca utilizaram o bico artificial para alimentação.



Palavras-chave:  Comportamento de sucção, Maloclusão, Dentição decídua

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