60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História

ESTUDO PRÉVIO SOBRE O PROCESSO DE PATRIMONIALIZAÇÃO DA ÁREA DA PRAIA GRANDE, SÃO LUÍS – MA.

Dácia Naiana Moreira Abreu1
Thayse Cipriano de Almeida1
Jaciene Pereira1

1. Universidade Federal do Maranhão


INTRODUÇÃO:
Composto pelos bairros da Praia Grande, Desterro e Portinho, o Centro Histórico de São Luís apresenta-se como um todo homogêneo diferindo apenas na arquitetura dos prédios que séculos atrás abrigavam desde simples residências às casas de comércio. Essa diferença na arquitetura faz alusão à antiga utilização dos casarões e salienta uma possível comparação entre as denominações: Desterro e Reviver. Porém uma visível contraposição nessa área é sugerida pela presença de um complexo de delegacias, como uma fronteira física, entre a porção revitalizada do Centro Histórico e a porção onde se instalaram alguns dos antigos moradores da primeira, expulsos desta para que os casarões onde antes habitavam fossem instalados bares, restaurantes, agências de turismo entre outros, para o consumo dessas áreas como produto turístico principalmente pela classe média. Assim como outros sítios históricos, o Centro Histórico de São Luís é apresentado como prova e testemunha de uma imagem cultural singular e por ser vulnerável ao processo de hibridização da cultura resultante da globalização que faz com que a cultura seja consumida como mercadoria a uma escala global produzindo cada vez mais indivíduos distantes e alheios às suas raízes e passado histórico.

METODOLOGIA:
Durante a realização da presente pesquisa, tentou-se relacionar o que foi presenciado com a literatura referente ao assunto que aqui está sendo tratado, levando-se em consideração os elementos que foram sendo apresentados no decorrer da pesquisa, utilizando o método fenomenológico centrando em entrevistas semi-estruturadas, conversas com alguns dos moradores mais antigos e observações de campo, pautando-se em uma postura qualitativa da realidade estudada.

RESULTADOS:
A adequação do sítio histórico de São Luís e de seu modo de vida aos padrões de consumo exigido pode ser denominada como sanitarização da cultura que é o resultado de uma procura por uma história local livre de conflitos, representando um passado mítico, glorioso e inalterável, como se os “dominantes” e “dominados” estivessem vivendo em harmonia, para que se venda a cultura local como pitoresca e única. Passa-se então a apresentar a indústria da nostalgia onde o passado é resgatado, idealizado, e até mesmo, inventado. As áreas do Centro Histórico de São Luís que não foram diretamente afetadas pelos projetos de revitalização transformaram-se e/ ou são apresentados como guetos e áreas perigosas, sendo os moradores delas vistos simplesmente como pobres, moradores de cortiço e ainda lixo social e urbano. O Desterro - área adjacente a Praia Grande - é uma parte do Centro Histórico de São Luís e que por nós é identificado como um oposto a porção revitalizada dessa localidade. É um local onde se inter-relacionam diferentes agentes sociais, que vão desde aqueles considerados como “classe média”, aqueles que são vistos como o lixo social e urbano ruim, e ainda a “interdita” que seriam os elementos de fora, onde os marginais evidenciam a existência de fronteiras imaginárias.

CONCLUSÕES:
Para a superação dos recalques apresentados pela população não participante dessa realidade de consumo das áreas históricas como produto turístico se faz necessário um trabalho terapêutico da memória dessas populações que querem mais é esquecer (ou ainda não lembrar) que são individual e coletivamente vítimas de um processo histórico de exploração - constituindo as classes subalternas e incapazes - segundo o discurso da competência, tendo este como um de seus princípios uma relação estreita com a educação. Esse acontecimento exige que mudanças sejam realizadas nos parâmetros de tombamento de patrimonialização, para que estes consigam englobar não somente a diversidade entre velhos e novos patrimônios e lugares de memória, bem com a diversidade dentre esses últimos. Necessário se faz também que sejam elaborados novos modos de proteção e promoção dessa cultura do povo (classes subalternas), pois devem ser evitadas a fossilização e petrificação da cultura que ocorreram com os bens coloniais europeus no Brasil, uma vez que esse trabalho exige uma longa duração, pois se trata do inconsciente coletivo que necessita superar traumas e recalques, operando uma transformação cultural que reside no campo do social, significa em última instância o resgate da cidadania desses grupos.



Palavras-chave:  Centro Histórico de São Luís, Identidade Cultural, Processo de Patrimonialização.

E-mail para contato: daciadocinho@gmail.com